terça-feira, 23 de setembro de 2008

Fazes-me falta.

Coração meu, Amor, quantos caminhos até chegar a um beijo! Que solidão errante até tua companhia! Agora, fazemos um só pão. Tantos foram os amores vazios que a minha vida se tingiu de violeta e fui, então de rumo em rumo, como um cego que não queria enxergar até chegar à tua porta, mas aí, sentistes o rumor de um coração quebrado! Carinhosa e bela, recolheu-me, deu-me abrigo. E por fim, ofereceu-me o teu amor. Logo a mim, que não tinha esperanças de um amor tão belo! Pergunto-me: E os que amaram como nós? Poucos amaram como nos amamos! Mas, a minha vida que te dei se enche de anos, e tenho medo de perder-te. A mim já não bastam nem sapatos nem caminhos, quero um fim abraçado junto a ti. Não sabes a falta que tu me fazes!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Gesto

Uma distância de anos nos separa rápido um gesto teu anula essa distância. Sabes dar vida a mim que ignoro e tateio num tempo que voa, quando me resta tão pouco tempo para viver este mundo de fantasias belas e sonhos de verão.

Um Traço

Felicidade é sentir-te perto de mim na noite, invisível em teu sonho, seriamente noturna, enquanto desenrolo minhas preocupações acerca de ti, tão frágil e delicada menina. Quisera eu que sentíssemos juntos o amanhã nos perfumes e nos ventos, nos campos verdes das highlands de céu azul; sentíssemos juntos o louco murmurar das ondas do mar, as loucas palavras de nosso amor sem medidas; sentíssemos juntos um novo afluir de sonhos e de esperança para nós; o deslindar de uma saída para o nosso problema urgente. Caso tenhas desistido, dissipa se o quiseres a minha vida débil que se queixa de solidão excessiva, como dissipa o apagador o traço efêmero dum quadro negro. Assim, me transformarei de repente naquilo que sempre fui para ti: um reles traço efêmero. Apagado por tuas mãos.

A Melancolia de Prometeu

Seguem atrás de mim os meus passos amargos. Foi com certa melancolia que percebi de repente a tua ausência. Fez-me falta a luz de tua energia múltipla e olhei devorando a esperança, olhei o vazio o que é sem ti uma casa, não ficam senão trágicas janelas e assim te espero, como casa só na esperança de que voltarás e ver-me e habitar-me. Caso isto não ocorra, nesta fracassada história de amor só eu morro e morrerei de amor porque te quero e me foste negada. Diante da impossibilidade de ter você a preencher com a tua felicidade as lacunas que existem na minha vida, a própria vida deixa de ter sentido.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Prometeu apaixonado.

Como fui te amar tanto assim! Não fiques longe de mim un só instante porque não sei como explicar, que para mim, sem ti, é comprido o dia. As horas se arrastam, os minutos se estendem e os segundos não avançam. Antes de encontrar-te e apaixonar-me por ti tudo era inalienavelmente alheio. tudo era dos outros: a felicidade, o amor, o respeito de alguém, até o desejo de viver não mais possuía! Para mim, tudo estava vazio, morto e mudo. Habitava solitário labirintos vazios preenchidos pela luz do luar. Você apareceu como brisa suave, com o frescor da flor da laranjeira. Preencheu com a tua felicidade e teu amor o meu coração outonal. Os nossos beijos percorrem os lugares mais lindos, as montanhas mais altas os córregos mais cristalinos,os trigais mais dourados. Dois amantes felizes não têm fim nem morte, nascem e morrem muitas vezes enquanto vivem, têm da natureza a eternidade.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

A Agonia de Prometeu

Durante o meu viver,
nas colisões cotidianas,
descobri a terrível marca sombria do destino.
Jovem quis,
como um barco, navegar
por águas límpidas e cristalinas
quem sabe, sairia com a mais bela pérola
do oceano das minha paixões,
mas terminei por muito tempo ancorado
em meu nada absoluto!
A dor, o medo e a solidão
tornaram-me um homem triste e mudo.
Justamente nesse tardio crepúsculo estival, que
a própria vida me surpreende
num momento em que a asa do destino ignora
e tu me apareces.
Jovem e bela guerreira
de olhos repletos de secretas volúpias.
Trazia contigo o teu romance
esperando apenas o meu assentimento
que não tardou a acontecer, e a
solidariedade da tua face inundada
de alegria me revelou
o último exemplar de uma espécie
já extinta.
Eu era poeta, tu com olhar casto,
espanzia fragrâncias ao redor
e teu sorriso, com a minha aquiescência
foi para mim a grande recompensa.
Apaixonei-me por ti e
sonhei contigo, mas
agora me é impossível tornar-me
o teu dono.
Sofro com os desastres que repousam
nas minhas mãos. Contudo,
não posso mais voltar à mudez
e à tristeza.
Recuso-me.
A minha sêde por ti é clara.
Aguardo ansioso o teu chamado.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Eugenio Montale

A INSÔNIA A insônia, que é mescla de sombras e clarões, transformará as vozes em ansiedade. Mais tarde os sons irão fundir-se, raros, no negror da noite. O tempo correrá vagaroso para o alvorecer. Depois a angústia dos limbos desaparecerá num dia que se espera melhor.

Prece

Senhor, venho te pedir novamente.
Sirvo fielmente a Vós e sempre fui
teu instrumento.
Peço por ela, que Tu bem sabes quem és.
Por que tudo isso Senhor? Tu a fazes sofrer!
Ela não merece!
Ela é tão boa, amiga, nunca quis o mal de ninguém.
Tem um sorriso lindo, está sempre feliz,
Tu bem sabes que ela tem um belo filho, o Pedrinho!
Ainda criança, que precisa da mãe,
que sempre foi amorosa e
diligente.
Por que isso Senhor?
Por que a fazes sofrer?
A minha frustração é evidente!
Minha audácia também é clara!
Proponho uma troca.
Tu bem sabes qual é!
Eu estou pronto a fazê-la.

sábado, 13 de setembro de 2008

Faz-me falta

Chegaste atrasada para o nosso encontro. Mas, como sofro com a tua ausência! Eu, que me achei invencível como os deuses! Coloco-me na palma da tua mão! Estás longe de mim, em terras distantes, como isso me faz sofrer! Queria cuidar de ti, És meu bem mais precioso! Minha jóia lapidada, minha paixão temporã. Não era mais para amar. Era um homem duro e seco. Vieste como um tufão e não vivo desde então sem ti. Abri as janelas nesta madrugada de calor e desejo achava tu virias a mim. Escutei a tua voz, isso me satifez, Mas agora, quero mais. quero você ao meu lado, cálida, menina, como sempre foi. Na remota possibilidade que venhas a mim, devido aos teus vários compromissos, Eu irei até ti, e roubarei-te à vista de todos que não souberam amar-te o suficiente. Você não sabe a falta que me fazes.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Bailarina - Poesia em duas cenas

Primeira Cena
"Sou um homem adulto
Foste ti que chegaste atrasada
para este encontro.
és pequena menina
de gentis gestos,
de olhos cativantes e
sorriso insinuante.
Como resolver este cruel lapso de tempo?
A resposta ocorreu-me no exato momento
que os nossos dedos se tocaram, de leve,
na correria do cotidiano:
AMANDO-TE, simplesmente.
No entanto,
Espanta-me o que tu e eu fizemos
envolvidos num frenesi interminável,
nos amamos
como dois adultos se amam.
Dos abraços
e palavras entrecortadas
à nudez dos amantes
bastou um passo.
Prefiro possuir-te,
mesmo que por este breve instante,
e ter forças para enfrentar os desastres
que estão por vir
a continuar velho e seco."
Segunda Cena
"Minha língua experiente
percorre os teus relevos e
reentrâncias misteriosas que a
tua pele jovem responde com arrepios
em plena noite quente de céu estrelado.
Minhas mãos seguram firmes as tuas,
brancas e delicadas
como as dálias
cantadas nos versos de Pessoa
Os meus lábios tocam os teus seios rosados e
a resposta de teus mamilos é imediata.
Na minha expedição ao longo do teu corpo
descubro a tua pequena mata
de pêlos negros e densos
sacio então a minha sede
nos pequenos e delicados lábios
que possuis,
ofegante menina.
Meus pés prendem os teus
Mas és tu, bailarina, que cadencia
o ritmo de nossos corpos suados
numa suave melodia
doce melodia de Fauré
A
os jatos incandescentes do meu desejo
saem
e rapidamente desaparecem em ti,
na imensidão da juventude infinita,
que num dia, tocou o meu corpo
e com volúpia, o chamou para dançar!
O despertar dos nossos corpos entrelaçados
e o gosto salgado de teus sucos
na minha boca
fazem meu coração,
pleno de vida,
pulsar mais forte."

Paulo Mello

domingo, 7 de setembro de 2008

Lord Byron

Convém conter meu coração
que não contenta mais ninguém:
possa eu, no entanto, amar, embora
colha desdém!
Meus dias são folhas de outono;
sumiram fruto e flor do amor;
(...)
Tão ermo como uma ilha vulcânica,
o fogo, que me dilacera
o peito que acende, em vez de tochas,
pira funérea.
(...)
Por que viver se tens saudade
da juventude...
Estás na terra
da morte honrosa: solta o alento
final da guerra!
Busca um jazigo de soldado,
que poucos buscam, mas te apraz;
olha ao redor e eleito o solo,
repousa em paz.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Paulo Leminski - Lápide 1

epitáfio para o corpo "aqui jaz um grande poeta. Nada deixou deixou escrito. Este silêncio, acredito, são as suas obras completas."

Paulo Leminski - Lápide 2

epitáfio para a alma "aqui jaz um artista mestre em desastres viver com a intensidade da arte levou-o ao infarte Deus tenha pena dos seus disfarces"

Paulo Leminski

"Vazio agudo ando meio cheio de tudo"

Paulo Leminski - Insular

"mil milhas de treva cercados de mágua por todos os fados."

Paulo Leminski - A lua no cinema.

"A lua foi ao cinema, passava um filme engraçado, a história de uma estrela que não tinha namorado. Não tinha porque era apenas uma estrela bem pequena, dessas que, quando apagam, ninguém vai dizer, que pena! Era uma estrela sozinha, ninguém olhava para ela, e toda luz que ela tinha cabia numa janela. A lua ficou tão triste com aquela história de amor, que até hoje a lua insiste: - Amanheça, por favor!"