quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

RÚSSIA

Kremlin reage a protestos, e aliado de Putin deixa Duma
Presidente do Parlamento renuncia e medida é medida vista como nova manobra do premier
Vivian Oswald -  O Globo
BRASÍLIA e MOSCOU. O Rússia Unida, do primeiro-ministro Vladimir Putin, acusou o golpe. Embora se recuse a recontar os votos ou anular a eleição legislativa do dia 4, o presidente do partido, Boris V. Gryzlov, foi obrigado nesta quarta-feira a renunciar à Presidência da Duma, a Câmara baixa do Parlamento, dias depois de milhares de pessoas realizarem as maiores manifestações no país desde o fim da União Soviética. Ocupando o posto no Parlamento desde 2003, Gryzlov é extremamente leal a Putin, e sua saída é vista como uma manobra — de eficácia duvidosa — para aplacar os manifestantes, num momento em que o premier se distancia do partido.
A medida revela a pressão sobre o Rússia Unida, que obteve 49,3% dos votos numa eleição sob suspeita de fraude e em que perdeu a confortável maioria de dois terços. Na terça-feira, Gryzlov já havia anunciado que o partido cederia o controle de quase a metade das comissões parlamentares e, na quarta, o presidente Dmitri Medvedev se reuniu com líderes dos partidos Comunista, Rússia Justa e LDPR. Não está claro se as medidas vão acalmar as dezenas de milhares de manifestantes que no sábado foram às ruas gritar "Fora Putin" e que prometem sair de novo no dia 24. Ou, mais importante, evitar que o premier enfrente um segundo turno nas presidenciais de março.
"Acredito não ser apropriado permanecer como presidente da Duma por mais de dois mandatos", disse Gryzlov, em nota na internet, acrescentando que mantém o cargo no partido.
Nesses oito anos à frente do Parlamento, Gryzlov ficou conhecido pela frase: "Este não é um lugar para discussões." Impopular, sua capacidade de costurar acordos com uma posição mais numerosa foi posta em dúvida. Putin nunca se filiou ao partido, embora tenha ajudado a criá-lo em 2001. A saída de Gryzlov lhe permitirá escalar um novo rosto para a legenda, que rapidamente perde apoio. Ao mesmo tempo, Putin afasta de sua campanha figuras do partido — que sempre foi menos popular do que o premier.

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