quarta-feira, 4 de junho de 2008
"Tu perguntas se assim tudo se esvai
nessa escassa névoa de memórias;
se à hora que entorpece ou no suspiro
da rebentação cumpre-se cada destino.
Dizer que não eu gostaria, que urge
a hora de passares além do tempo;
talvez só quem quiser se infinite
e tu hás de poder, quem sabe, não eu.
Para os demais não vejo salvação,
mas que alguém subverta todo o desígnio,
cruze o passo, como quis se encontrasse.
Quisera antes de me render mostrar-te
essa via de escape
tão lábil como nos revoltos campos
do mar a espuma e o refego.
O caminho termina nestas margens
que corrói a maré com moto alterno.
Teu coração próximo não me ouve
e zarpa já talvez para o eterno."
Eugenio Montale (1896/1981)
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