quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
HERMANN HESSE
Lobo da Estepe
Lobo da estepe, vou trotando, trotando.
O mundo cobre-se todo de neve.
De uma bétula, sai voando um corvo;
mas em nenhum lugar se vê uma lebre,
não se vê uma gazela.
Com as gazelas sou tão delicado,
Ah, se uma aparecesse!
Tomá-la nas garras, nos dentes:
não há coisa mais linda.
Aos mansos, mostro o meu bom coração:
em seus tenros pernis enterraria suavemente os dentes.
e o sangue claro eu iria sorvendo até mais não poder
para ficar depois a noite inteira uivando em solidão
Uma lebre já me contentaria:
mornas carnes de gosto doce à noite.
- Mas será que de mim se esconde tudo
que torna a vida um pouco mais bonita....
Em minha cauda o pêlo já branqueia
e eu já não tenho a vista tão certeira;
faz anos que morreu-me a companheira.
Agora vou eu trotando e sonhando com gazelas,
vou eu trotando e sonhando com lebres,
ouvindo o vento a zunir na noite de inverno;
engulo neve, a ver se a goela se acalma,
e vou seguindo com o diabo na alma.
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