Estatal de SP culpa 'morador de favela' por defeito em casas
Imóveis entregues por Alckmin em dezembro continuam com problemas, apesar de construtora ter prometido solução
Segundo diretor da CDHU, houve possível mau uso por moradores, que deveriam passar por orientação social
GABRIELA YAMADA - FSP
Ao constatar que casas entregues pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) em Ribeirão Preto (SP) continuam com problemas, um dirigente da CDHU (órgão estadual de habitação) responsabilizou ontem os moradores pelos defeitos.
No dia 4, após a Folha revelar diversas falhas no conjunto habitacional Paulo Gomes Romeu, a Croma -construtora responsável pela obra- disse que resolveria os problemas em 20 dias.
Parte das casas foi entregue por Alckmin no final de dezembro e dias depois já apresentava as falhas.
A reportagem voltou ao local ontem e anteontem e constatou que 12 de 16 casas continuam com problemas, como vazamentos nas pias, fissuras nas paredes e portas e janelas que não fecham.
Em visita ao conjunto na manhã de ontem, Milton Vieira de Souza Leite, diretor regional da CDHU, disse que os problemas são possíveis reflexos de mau uso.
"A gente conhece o nível de educação [dos moradores]... O pessoal veio da favela. Não está acostumado a viver em casa", afirmou.
Depois, questionado por telefone sobre a frase, ele disse que a adequação desses moradores no conjunto é uma questão complexa.
"Você não consegue mudar a educação delas [famílias] somente mudando de local." Segundo ele, seria preciso um trabalho social a longo prazo para resolver isso.
Leite foi ao conjunto habitacional ontem após a Folha ter entrado em contato com a CDHU na quarta-feira para questionar sobre a continuidade dos problemas.
Sobre o caso de um morador que afirmou à reportagem, no início do mês, que a pia da cozinha havia caído depois de ele ter colocado uma cesta básica sobre ela, Leite ironizou o episódio.
"O que ele foi comer era outra coisa", disse, insinuando que a pia caiu durante uma relação sexual.
A frase foi dita em entrevista gravada na frente de oito pessoas, entre elas funcionários da CDHU e da Croma.
Durante a visita, em duas casas havia moradores dormindo, fato também questionado por Leite. "Você viu? Não sei se eles estavam dormindo porque trabalharam à noite ou porque continuam sem fazer nada."
Leite afirmou que todos os problemas apontados serão reparados pela construtora e que "o benefício está sendo muito maior que o sacrifício".
Na casa de Lucimara Aparecida de Oliveira, 29, foi constatado o pior caso, de fissuras no entorno de portas e janelas. Elas estão abrindo "buracos" no entorno das portas dos quartos e da janela da sala.
Sobre isso, Leite disse que o problema pode ter sido causado por batidas repetidas das portas.
"Eu acho um absurdo. Aqui ninguém ganhou casa, está todo mundo pagando", disse Lucimara.
Os beneficiários do programa pagam mensalidades que vão de R$ 50 a R$ 150.
A dona de casa Alessandra dos Santos Fernandes, 32, sofre com problemas de vazamentos nas pias do banheiro e da cozinha desde quando se mudou, em dezembro. "Já vieram arrumar, mas piorou. A casa fica sempre suja."
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