O governo foi o responsável pela expansão do crédito
O Estado de S.Paulo - Editorial
A divulgação das estatísticas sobre as operações de crédito no ano passado mostra que as autoridades monetárias, apesar das suas intenções em contrário - muitas vezes declaradas -, não conseguiram conter a expansão do crédito, que, segundo elas, alimenta pressões inflacionárias.
As operações de crédito aumentaram 16,8% em 2011, crescimento igual ao do ano anterior. Em relação ao PIB (estimado), o crédito chega a representar 49,7%, ante 45,2%, o que se explica pela queda do produto. O Banco Central (BC) acusa o governo por essa expansão, pois as instituições financeiras públicas aumentaram seus créditos em 2,7 pontos porcentuais (p.p.), em relação ao PIB, ante 1,4 p.p. no caso dos bancos privados nacionais e estrangeiros. Por outro lado, as operações com recursos livres cresceram 16,8%, ante 19,8% no caso das operações direcionadas, que dependem de subsídios do governo federal.
Se as operações dos bancos privados dependem do BC mais do que as dos bancos públicos, é forçoso admitir a maior responsabilidade do governo na expansão, embora, por meio de mudança do recolhimento compulsório dos depósitos, o instituto de emissão possa controlar a expansão de crédito dos bancos públicos. A única instituição que escapa do seu controle é o BNDES, cujos empréstimos em 2011 cresceram 20,9%, no caso das operações diretas.
O BC teve mais sucesso no controle da expansão do crédito às Pessoas Físicas (PFs), que aumentou 22,9% em 2010, caindo para 20,8% em 2011. Já para as Pessoas Jurídicas (PJs) os valores respectivos foram de 19% e de 17,1% - as empresas rejeitam créditos que lhes parecem caros demais.
As empresas passaram o ano reclamando da alta da taxa Selic e foram finalmente atendidas, mas sem grande efeito sobre a taxa de juros praticada nas instituições financeiras com recursos livres. Para as PJs, a taxa subiu de 27,8%, em dezembro de 2010, para 28,2%, em dezembro de 2011. No caso das PFs, foi de 40,6% para 43,8%, com um spread maior.
Os bancos, naturalmente, terão a justificativa habitual para isso: a inadimplência entre as duas datas cresceu de 3,5% para 3,9%, no caso das PJs; e de 5,7% para 7,3%, no das PFs. As instituições financeiras estão mais sensíveis às perspectivas de inflação e não parecem convencidas, como o Comitê de Política Monetária (Copom), de que ao longo do ano teremos uma redução progressiva do IPCA.
O BC teria grande interesse em levar em conta essa previsão na condução da sua política monetária - que parece querer abandonar a tranquilidade com que acompanhava a política fiscal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário