Ricardo Setti - VEJA
Reportagem publicada na editoria de Política do Estadão, edição de 21 de setembro passado
NA BUSCA POR VOTOS, 143 DILMAS
As primeiras eleições em que o número de candidatas mulheres atingiu o mínimo de 30% exigidos por lei podem estar marcadas também pelo “efeito Dilma”. Ao todo, são 143 homônimas da presidente concorrendo a cargos eletivos. Elas incrementam o recorde de 138.599 brasileiras que, seja inspiradas pela presidente da República, seja por necessidade dos partidos, decidiram encarar a corrida eleitoral.
Dezoito dessas mulheres chamam-se Dilma só nas urnas, não nas certidões de nascimento. Algumas nem se distanciam tanto, tendo como nomes de batismo “Adilma” ou “Edilma”. Outras, porém, foram registradas de forma bem diferente, como Maria Aparecida de Oliveira, de 43 anos, que tenta se eleger vereadora na cidade de Montes Claros, em Minas Gerais.
A Dilma que se chama Maria Aparecida
Ela, que faz campanha como Dilma, nem pensava em se envolver com política um ano atrás. A decisão veio com a criação do diretório de um novo partido na cidade — o PSD, fundado em setembro de 2011 —, quando, após participar de algumas reuniões da legenda, ela soube que faltavam mulheres candidatas.
— Eu me dei conta de que esta é uma oportunidade de as mulheres mostrarem o que podem fazer — afirma.
E esclarecendo a origem do apelido:
— Poucas pessoas me conhecem por Maria Aparecida. Desde pequena, uma madrinha me chama de Dilma e muitos pensam que é o meu nome de verdade. Se isso influenciar na hora do voto, vai ser ótimo. A presidente é uma inspiração, uma mulher muito forte.
Candidata em Simões Filho, na Bahia, Dilmara Portela dos Santos resolveu encurtar o nome para fazer campanha. Aos 32 anos, casada e com dois filhos, ela quer ser vereadora para trabalhar no combate às drogas e no incentivo a projetos sociais no município.
Já a maranhense Eulina Avilino foi além e se candidata na cidade de Santa Luzia como “Dilma do Povão” (PMDB-MA). Outra a customizar o nome foi Josilma Bezerra Gomes, que concorre como “Dilma do Badú” (PDT-RN) em Pureza, no Rio Grande do Norte.
Representação feminina ainda não é satisfatória
Para a cientista política e pesquisadora do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA), Patrícia Rangel, a imagem da presidente Dilma pode ter influenciado no aumento do número de candidatas nessas eleições, mas ainda há muito a ser feito em prol da representação da mulher.
— O fato de termos pela primeira vez uma presidenta acaba influenciando a política do país. É um exemplo simbólico — pondera Patrícia. — No entanto, as mudanças não dependem só do eleitorado, mas também dos partidos, que ainda são muito relutantes quanto à participação feminina.
No embalo da popularidade de Dilma Rousseff — aprovada por 75,5% da população, segundo pesquisa da Confederação Nacional do Trabalho (CNT) —, a participação feminina na política bateu recorde este ano: pela primeira vez, a candidatura de mulheres superou os 30% exigidos pela legislação eleitoral.
São 138.599 brasileiras em busca de um cargo eletivo, o equivalente a 30,74% dos candidatos — quase dez pontos percentuais acima do verificado em 2008, quando elas eram apenas 21,37%. Mas os números, que por um lado mostrariam uma mudança na cultura política do país, podem, na verdade, evidenciar uma estratégia utilizada pelas coligações para driblar a lei. Apesar de negado pelos partidos, o uso de “laranjas” — mulheres que se candidatam apenas para cumprir a cota — é confirmado por fontes do meio político.
O juiz eleitoral Murilo Kieling, responsável pelo registro de candidaturas do Rio de Janeiro, afirma que o uso de “laranjas” só pode ser considerado crime caso a pessoa não saiba que é candidata.
— Muitas vezes essas mulheres se candidatam para atender a um pedido do partido, e nem fazem campanha. Já o partido que indica uma candidata fantasma, uma filiada do partido que não saiba da própria candidatura, aí sim comete um crime — afirma.
NA BUSCA POR VOTOS, 143 DILMAS
As primeiras eleições em que o número de candidatas mulheres atingiu o mínimo de 30% exigidos por lei podem estar marcadas também pelo “efeito Dilma”. Ao todo, são 143 homônimas da presidente concorrendo a cargos eletivos. Elas incrementam o recorde de 138.599 brasileiras que, seja inspiradas pela presidente da República, seja por necessidade dos partidos, decidiram encarar a corrida eleitoral.
Dezoito dessas mulheres chamam-se Dilma só nas urnas, não nas certidões de nascimento. Algumas nem se distanciam tanto, tendo como nomes de batismo “Adilma” ou “Edilma”. Outras, porém, foram registradas de forma bem diferente, como Maria Aparecida de Oliveira, de 43 anos, que tenta se eleger vereadora na cidade de Montes Claros, em Minas Gerais.
A Dilma que se chama Maria Aparecida
Ela, que faz campanha como Dilma, nem pensava em se envolver com política um ano atrás. A decisão veio com a criação do diretório de um novo partido na cidade — o PSD, fundado em setembro de 2011 —, quando, após participar de algumas reuniões da legenda, ela soube que faltavam mulheres candidatas.
— Eu me dei conta de que esta é uma oportunidade de as mulheres mostrarem o que podem fazer — afirma.
E esclarecendo a origem do apelido:
— Poucas pessoas me conhecem por Maria Aparecida. Desde pequena, uma madrinha me chama de Dilma e muitos pensam que é o meu nome de verdade. Se isso influenciar na hora do voto, vai ser ótimo. A presidente é uma inspiração, uma mulher muito forte.
Candidata em Simões Filho, na Bahia, Dilmara Portela dos Santos resolveu encurtar o nome para fazer campanha. Aos 32 anos, casada e com dois filhos, ela quer ser vereadora para trabalhar no combate às drogas e no incentivo a projetos sociais no município.
Já a maranhense Eulina Avilino foi além e se candidata na cidade de Santa Luzia como “Dilma do Povão” (PMDB-MA). Outra a customizar o nome foi Josilma Bezerra Gomes, que concorre como “Dilma do Badú” (PDT-RN) em Pureza, no Rio Grande do Norte.
Representação feminina ainda não é satisfatória
Para a cientista política e pesquisadora do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA), Patrícia Rangel, a imagem da presidente Dilma pode ter influenciado no aumento do número de candidatas nessas eleições, mas ainda há muito a ser feito em prol da representação da mulher.
— O fato de termos pela primeira vez uma presidenta acaba influenciando a política do país. É um exemplo simbólico — pondera Patrícia. — No entanto, as mudanças não dependem só do eleitorado, mas também dos partidos, que ainda são muito relutantes quanto à participação feminina.
No embalo da popularidade de Dilma Rousseff — aprovada por 75,5% da população, segundo pesquisa da Confederação Nacional do Trabalho (CNT) —, a participação feminina na política bateu recorde este ano: pela primeira vez, a candidatura de mulheres superou os 30% exigidos pela legislação eleitoral.
São 138.599 brasileiras em busca de um cargo eletivo, o equivalente a 30,74% dos candidatos — quase dez pontos percentuais acima do verificado em 2008, quando elas eram apenas 21,37%. Mas os números, que por um lado mostrariam uma mudança na cultura política do país, podem, na verdade, evidenciar uma estratégia utilizada pelas coligações para driblar a lei. Apesar de negado pelos partidos, o uso de “laranjas” — mulheres que se candidatam apenas para cumprir a cota — é confirmado por fontes do meio político.
O juiz eleitoral Murilo Kieling, responsável pelo registro de candidaturas do Rio de Janeiro, afirma que o uso de “laranjas” só pode ser considerado crime caso a pessoa não saiba que é candidata.
— Muitas vezes essas mulheres se candidatam para atender a um pedido do partido, e nem fazem campanha. Já o partido que indica uma candidata fantasma, uma filiada do partido que não saiba da própria candidatura, aí sim comete um crime — afirma.
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