Perdi o sono, perdi noção de quantas cigarrilhas fumei e estou espantado com a quantidade de conhaque que desapareceu da garrafa de cristal em cima da mesa. Perdi também o meu amor.
Ela se foi, atravessou o oceano e disse que não mais voltará para os meus braços. Perdi o meu orgulho, minha razão e tudo o mais. Deixo-me levar. Sei que ali adiante existe um precipício, mas nada temo, ao contrário, sinto um forte desejo de apressar o passo e acabar com essa agonia de uma vez.
Rola baixinho, para não espantar os fantasmas que me rodeiam, o som distante do trumpete de Miles Davis. Ele embala uma música triste, quase existencialista, "Nuit sur les Champs-Élysées". Olho para a capa do disco e vejo a bela Jeanne Moreau - seus lábios trazem a volúpia dos amantes. Lembrei-me dela novamente. Mesmo que a personagem anuncie Ascenseur pour l'échafaud, eu apostaria todas as minhas fichas na paixão avassaladora que me consome centímetro por centímetro. Não sei se por efeito da bebida forte, fico cada vez mais lúcido, a música ganha contornos distintos, suaves, melancólicos. O desespero cede lugar a uma suave melancolia.
Ah! O conhaque acabou e a vizinha do lado está reclamando do barulho. Adeus liberdade!
Um comentário:
"Every time that I look in the mirror
All these lines in my face gettin' clearer
The past is gone
It went by like dusk to dawn
Isn't that the way?
Everybody's got their dues in life to pay
I know nobody knows
Where it comes and where it goes
I know it's everybody's sin
You got to lose to know how to win."
Steven Tyler
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