Apenas 26 dos 100 mil pedidos de adiamento da deportação foram aprovados nos EUA, aponta agência
Julia Preston - NYT
Justino Mora checou por semanas seu e-mail várias vezes por dia à espera de alguma notícia da agência federal de imigração sobre seu pedido para adiamento da deportação.
Mora, que nasceu no México, mas vive ilegalmente na Califórnia desde que tinha 11 anos, foi um dos primeiros imigrantes a enviar seus documentos comprovantes para um novo programa iniciado em 15 de agosto. Mas mesmo assim ficou aturdido, quando recebeu uma nova mensagem da agência, contendo uma palavra crucial: "Aprovado".
"Eu fiquei um pouco surpreso", disse Mora, atualmente com 23 anos. "Com certeza foi desconcertante."
Mora é um dos primeiros imigrantes de todo o país a receber a aprovação para um adiamento de dois anos de deportação segundo o programa, que o presidente Barack Obama anunciou em junho. Até a última quinta-feira (27), os Serviços de Cidadania e Imigração dos Estados Unidos receberam mais de 100 mil pedidos, disseram as autoridades, com mais de 63 mil nos últimos estágios de revisão. Mas até o momento a agência confirmou apenas 29 aprovações.
Algumas dessas pessoas optaram por permanecer fora do radar, não querendo divulgar que estiveram ilegalmente no país por anos. Mas Mora não está relutante. Ele é o líder da California Dream Network, um movimento de imigrantes ilegais jovens que tem promovido protestos bastante visíveis para pressionar Obama a oferecer algum alívio para o número elevado de deportações durante seu mandato.
Mora disse que não teve dificuldade de atender a exigência do programa de que os imigrantes comprovem que estavam no país em 15 de junho, quando o presidente o apresentou. Naquela manhã, Mora se juntou a um protesto sentado de estudantes sem documentos, bloqueando uma importante rua no centro de Los Angeles.
Como prova, disse Mora, ele apresentou clipes de notícias citando seus comentários desafiadores naquele dia.
Juntamente com a ação de adiamento temporário, como é oficialmente conhecida, os imigrantes também recebem permissões de trabalho de dois anos. Eles não recebem nenhum status de imigrante legal. Entre outras exigências, os imigrantes ilegais devem ter menos de 31 anos e comprovar que chegaram aos Estados Unidos antes de terem 16 anos, que viveram no país por pelo menos cinco anos e concluíram o ensino médio ou estão na escola, ou tiveram dispensa honrosa do serviço militar.
Falando por telefone nesta semana em Los Angeles, Mora disse merecer algum crédito pelo programa. "Isso é basicamente fruto de muitas de nossas ações e desobediência civil para assegurar que o governo reconheça que separar famílias não é certo", ele disse.
Mora disse que os novos documentos lhe permitirão requisitar ajuda financeira para que possa concluir a Universidade da Califórnia, em Los Angeles. Ele disse que foi um estudante de destaque e capitão da equipe de atletismo em seu colégio na Califórnia, mas teve que recusar as ofertas de dois campi de elite da Universidade da Califórnia porque não podia arcar com o custo do curso sem ajuda.
Para Carlos Martinez, outro imigrante que revelou sua aprovação, a permissão para trabalho significa que ele poderá pedir emprego em empresas de tecnologia para usar o diploma de mestrado em engenharia de software que obteve na Universidade do Arizona, em 2005.
Martinez, que vive em Tucson, disse ao "The Arizona Republic" que tinha 9 anos quando sua família o trouxe ilegalmente do México para os Estados Unidos. Atualmente com 30 anos, ele disse que trabalha como paisagista.
Segundo estimativas independentes, cerca de 1,2 milhão de imigrantes podem se candidatar imediatamente ao programa. Alguns têm tido dificuldade para compilar evidência de vidas vividas nas sombras nos últimos cinco anos, ou para levantar a taxa de US$ 465. Mas os pedidos também têm sido atrasados pelos gargalos surgidos devido ao excesso de demanda.
Em Los Angeles, as escolas foram inundadas por pedidos de cópias de documentos, criando um congestionamento que coincidiu com os primeiros dias frenéticos do novo ano letivo. Lydia L. Ramos, uma alta funcionária do Distrito Escolar Unificado de Los Angeles que foi designada para tratar da crise, disse que o distrito calculou que até 200 mil alunos e ex-alunos poderiam ter direito ao adiamento.
Após reunir às pressas e esclarecer as exigências junto às autoridades de imigração, disse Ramos, na semana passada seu distrito lançou um site onde os jovens podem obter seus boletins e documentos de matrícula.
"Esses estudantes andam, falam e pensam americano, e essa é a oportunidade deles de trabalhar e contribuir para a sociedade americana", disse Ramos. "Nós queremos assegurar que tenham uma chance justa."
Distritos escolares em Albuquerque, no Novo México, Dallas, Miami e San Diego também informaram um aumento na procura por documentos.
Desde junho, mais de 100 mil mexicanos procuraram seus consulados, em busca de informação e documentos de identidade como passaportes e cartões consulares. Carlos Sada, o cônsul geral mexicano em Nova York, disse que os consulados têm trabalhado horas extras e nos fins de semana, assim como enviado unidades móveis para as áreas rurais para lidar com o trabalho.
Mas ainda há tempos de espera para entrevistas e alguns documentos, especialmente certidões de nascimento, que precisam vir de cartórios municipais no México. Aproximadamente 68% dos imigrantes com direito ao programa nasceram no México.
"Nós sentimos que esta é uma possibilidade muito boa para os mexicanos", disse Sada. "Nossa decisão é assegurar que todo mexicano que possa se beneficiar tenha um comprovante de identidade."
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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