Manifestantes exigem a saída de Mohamed Mursi e o comparam a Hosni Mubarak, ditador que caiu em 2011
Mandatário islamita baixou decreto dizendo que seus atos não podem ser contestados; EUA e Europa criticam
FSPMandatário islamita baixou decreto dizendo que seus atos não podem ser contestados; EUA e Europa criticam
Protestos contra o presidente Mohamed Mursi eclodiram ontem em várias cidades do Egito como reação aos decretos em que ele se concedeu "superpoderes" -especialmente o de impedir que o Judiciário conteste qualquer decisão sua até que o país tenha uma nova Constituição.
Na capital, Cairo, milhares de manifestantes se reuniram na praça Tahrir (epicentro da revolta que derrubou o ditador Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011) para pedir a saída de Mursi. A polícia dispersou o ato com bombas de gás lacrimogêneo.
No protesto, ouviam-se slogans como "o povo quer derrubar o regime", "fora, Mursi" e "Mubarak, conte a Mursi que depois do trono vem a cadeia" -referência à prisão perpétua a que o ex-ditador foi condenado, em junho.
Houve manifestações de variados graus de violência em outras grandes cidades. Em Alexandria, um escritório do partido da Irmandade Muçulmana -grupo ao qual pertence o presidente- foi depredado, e choques entre grupos pró e contra Mursi deixaram pelo menos 12 feridos.
Edifícios do partido governista também sofreram ataques de manifestantes em Suez e Port Said. Além disso, a TV estatal egípcia relatou distúrbios em Ismailia.
Em discurso num palanque montado do lado de fora do palácio presidencial, no Cairo, Mursi afirmou que governa "para todos os egípcios" e que não será tendencioso para com nenhum "filho do Egito" -referência direta às acusações de que privilegia aliados islamitas.
"A oposição não me preocupa, mas ela tem de ser verdadeira e forte. Vamos sempre adiante, no rumo do novo Egito", acrescentou o presidente, que se disse comprometido com a estabilidade social e econômica do país e com a alternância de poder.
Assessores de Mursi alegaram, ainda, que a intenção das medidas do governo é acelerar os avanços democráticos, supostamente emperrados por impeditivos legais. "O presidente quer que o país saia do gargalo sem que se quebre a garrafa", afirmou seu porta-voz, Yasser Ali.
Liberais e críticos do governo contestam: "O decreto [que impede ações do Judiciário contra Mursi] é um golpe nas instituições e no Estado de Direito, que pode comprometer a revolução", disse o ativista Mervat Ahmed, um dos participantes do protesto de ontem na praça Tahrir.
PREOCUPAÇÃO DOS EUA
Ainda ontem, os EUA, a União Europeia e a ONU manifestaram preocupação com as ações do presidente egípcio, recentemente elogiado por seu papel de mediador no conflito entre Israel e o grupo radical islâmico Hamas, que controla a faixa de Gaza.
"As declarações e medidas anunciadas em 22 de novembro são motivo de preocupação para muitos egípcios e para a comunidade internacional", afirmou a porta-voz do Departamento de Estado americano, Victoria Nuland.
"O atual vácuo constitucional egípcio só pode ser resolvido pela adoção de uma Carta que inclua um sistema de freios e contrapesos e respeite as liberdades básicas e os direitos individuais, de modo consoante com os compromissos internacionais do Egito", acrescentou Nuland.
Navi Pillay, comissária da ONU para Direitos Humanos, disse por meio de porta-voz estar "preocupada" com as consequências dos decretos de Mursi para o Estado de Direito, e a União Europeia pediu que o presidente respeite o processo democrático.
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