A sua decisão de recorrer à ONU é ridícula, mas isso não me impede de recomendar mais prudência a Sérgio Moro e aos procuradores
Se há
coisa que considero sagrada na democracia é o direito de defesa, como
sabem meus leitores. Isso já me custou algumas porradas, mal-entendidos e
correntes difamatórias na Internet. Fazer o quê?
Obviamente, tomo o cuidado de distinguir do ridículo este pilar do regime democrático.
Não é
segredo para ninguém que já fiz, sim, críticas a um comportamento ou
outro de Sérgio Moro e dos procuradores. Fiz, não me arrependo e
sustento. A minha tarefa é pensar e dizer o que penso, não torcer,
embora jamais tenha escondido as minhas convicções, que acabam me
colocando, sim, num determinado lugar da porfia. Mas pretendo que assim
seja sem perder a objetividade.
Revelo o
meu ponto de vista e exponho as convicções que norteiam a minha análise
porque acho que é uma questão de honestidade intelectual com o leitor.
Estive
entre aqueles que consideraram, por exemplo, desnecessária a condução
coercitiva de Lula. E não mudei de ideia. Cabe, no entanto, a pergunta:
aquele ato em particular e todos os outros que disseram respeito ao
ex-presidente feriram seus direitos fundamentais, a ponto de se ver
caracterizada uma agressão aos direitos humanos?
A questão é
de um ridículo sem par. Trata-se, como observou o ministro Gilmar
Mendes, do Supremo, nesta segunda, de uma ação meramente política. É só
um recurso extremo para tentar colar em toda a investigação a pecha de
perseguição política. Até porque tal comitê não tem influência nenhuma
na questão.
Como
lembrou Mendes e como sabemos todos, as ações do juiz Sérgio Moro estão
submetidas a outras instâncias da Justiça. Ele não é a última palavra,
como resta evidente. Se, e falo apenas por hipótese, os demais fóruns da
Justiça estão se deixando intimidar, então Lula e seus advogados estão
pondo sob suspeição o próprio Poder Judiciário.
Bem, numa
das conversas telefônicas de Lula, que vieram a público, todos ouvimos o
petista dizer que, a seu juízo, o Poder está acovardado. Não se
acovardar, parece, corresponde a atender às demandas do PT.
Lula
decidiu contratar até um escritório britânico, especializado em direitos
humanos. O advogado Geoffrey Robertson aponta como um das evidências da
falta de isenção de Moro o fato de o juiz ter comparecido ao lançamento
de um livro sobre a Lava-Jato.
É claro
que se trata de um absurdo exagero, embora eu me veja aqui compelido a
sugerir a Moro que se prive de tais eventos, o que só serve para
conferir verossimilhança à farsa de que tudo o que aí está não passa de
uma conspiração contra o PT.
Faço,
adicionalmente, uma recomendação aos procuradores, em especial a Deltan
Dallagnol: esqueçam a política — e não me refiro a política partidária, é
bom deixar claro! — e se dediquem a exercer plenamente as prerrogativas
de que dispõe o Ministério Público, que já não são pequenas. Certas
saliências que vejo por aí só servem para dar ouro aos bandidos.
É claro
que a ONU não pode fazer nada por Lula, e o Babalorixá de Banânia sabe
disso. O que ele tenta é provocar barulho mundo afora, colocando-se no
papel de um perseguido político, o que é falso como nota de R$ 3. A
gente sabe, no entanto, como são esses organismos da ONU, a maior ONG
esquerdista do mundo. Para sair a qualquer momento um texto exortando a
Justiça brasileira a ser isenta… E o PT, claro!, sairá por aí batendo
bumbo.
Evidentemente,
Lula não teve seus direitos agredidos. Isso é patacoada. Mas tal
constatação não me impede de recomendar a juiz e procuradores —
especialmente a estes — que busquem menos os holofotes.
Afinal, Lula está preparado para dizer ao mundo que o processo contra ele é um crime de lesa humanidade.
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