Cécile Bouanchaud - Le Monde
François Guillot
Sobreviventes
e familiares de vítimas dos ataques 13 de novembro chegam para reunião
com juízes responsáveis pela investigação, na Escola Militar, em Paris
Durante seis semanas, Claude-Emmanuel ficou preso a seu leito de
hospital depois de ser atingido por tiros de kalashnikov no bar La Bonne
Bière. Já Jean-François entrou para a associação "13 de Novembro:
Fraternidade e Verdade", depois de ter perdido sua filha no La Belle
Equipe. Desde que foi atingida pela explosão de um homem-bomba no Stade
de France, Florette não conseguiu mais voltar ao trabalho. Gauthier,
sobrevivente do ataque à casa de shows Bataclan, há seis meses tem seu
dia-a-dia marcado por consultas médicas.
Sobreviventes, feridos,
famílias enlutadas foram recebidos, durante três dias, pelos seis
juízes de instrução encarregados da investigação sobre os atentados de
13 de novembro em Paris e em Saint-Denis. "Foram perspectivas, pessoas e
sentimentos que saíram dessas reuniões com os juízes", resume
Jean-François Mondeguer, que perdeu sua filha Lamia, de 30 anos, no La
Belle Equipe.
Seis meses após os ataques que atingiram a capital, essa primeira reunião com a Justiça aconteceu na última terça-feira (24) com as vítimas dos bares e restaurantes e do Stade de France, na quarta-feira e quinta-feira com as do Bataclan, em razão do número esperado de autores de ações e advogados, 1.300 no total.
Todos esses dias, com convocações nas mãos e dúvidas na cabeça, os participantes correram para a entrada da Escola Militar, onde trocaram olhares e algumas vítimas se abraçaram longamente.
"Não é uma etapa no luto", acredita Jean-François Mondeguer, que se mostrou emocionado ao chegar, mas "uma etapa na busca pela verdade."
Assim como ele, as outras famílias de vítimas e sobreviventes tinham inúmeras perguntas a fazer para os juízes.
"Cada pergunta é um momento de emoção. É um primeiro momento de justiça", resumia Jean Reinhart, advogado de 76 sobreviventes e familiares de vítimas, que perdeu seu sobrinho no Bataclan.
"Quem realmente esteve por trás dos atentados? Os locais dos ataques foram escolhidos a dedo? Houve falhas na intervenção dos policiais naquela noite? Os suspeitos ainda podem agir?", listou calmamente o pai de Lamia, antes do início da reunião.
"Não esperávamos por tantos detalhes", relatou Marjolaine, 32, que estava no Bataclan.
Durante mais de três horas as perguntas se sucederam, e os magistrados garantiram às famílias das vítimas que os exames médicos dos legistas haviam sido incluídos no dossiê de instrução, e que em breve eles poderiam consulta-los.
"Na época, os médicos legistas me relataram que meu filho havia sido morto de uma maneira terrível. Agora poderei entender o que aconteceu no Bataclan", resumiu Patrick Denuit, pai de Alban, de 32 anos.
Contudo, várias dúvidas continuam sem respostas, inclusive sobre o que aconteceu exatamente nos ataques do Stade de France.
"Nós, as vítimas de Saint-Denis, somos os esquecidos dos atentados", criticou Florette, que saiu da Escola Militar apoiando-se em uma muleta.
"Ainda não conseguimos entender por que nada foi feito, sendo que o Bataclan parecia ser um alvo visado há muito tempo pelos terroristas", esbravejava Patricia, que perdeu sua única filha, Precilia.
"Os juízes não nos explicaram como eles pretendiam evitar esse tipo de tragédia no futuro", lamentou Bachir Saadi, que perdeu suas duas irmãs no La Belle Equipe.
Mas o assunto que concentrava todas as tensões dizia respeito a Salah Abdeslam, que permaneceu em silêncio durante sua primeira audiência.
"O juiz Teissier garantiu aos autores das ações que, com ou sem suas declarações, a investigação avançaria", afirma Blandine Lejeune, advogada de três famílias de vítimas do Bataclan.
Ao final dessas reuniões, os participantes relataram em uníssono um momento difícil. "Isso reaviva muitas lembranças difíceis", explicou lenta e dolorosamente Claude-Emmanuel Triomphe, que "achou que fosse morrer" no La Bonne Bière, depois de levar vários tiros no corpo.
"Agora vamos tentar digerir", conta Delphine Marty, que perdeu o pai de seus dois filhos no Bataclan.
"É uma primeira etapa, vai ajudar", naquilo que ela prefere chamar de "um processo da vida" em vez de luto. Esses encontros revelaram de maneira cruel as dissonâncias que há entre o mundo judiciário, que levará quase quatro anos para encerrar essa instrução tentacular, e o universo das vítimas, que querem que "a investigação ande rápido para seguirem em frente."
Seis meses após os ataques que atingiram a capital, essa primeira reunião com a Justiça aconteceu na última terça-feira (24) com as vítimas dos bares e restaurantes e do Stade de France, na quarta-feira e quinta-feira com as do Bataclan, em razão do número esperado de autores de ações e advogados, 1.300 no total.
Todos esses dias, com convocações nas mãos e dúvidas na cabeça, os participantes correram para a entrada da Escola Militar, onde trocaram olhares e algumas vítimas se abraçaram longamente.
"Não é uma etapa no luto", acredita Jean-François Mondeguer, que se mostrou emocionado ao chegar, mas "uma etapa na busca pela verdade."
Assim como ele, as outras famílias de vítimas e sobreviventes tinham inúmeras perguntas a fazer para os juízes.
"Cada pergunta é um momento de emoção. É um primeiro momento de justiça", resumia Jean Reinhart, advogado de 76 sobreviventes e familiares de vítimas, que perdeu seu sobrinho no Bataclan.
"Quem realmente esteve por trás dos atentados? Os locais dos ataques foram escolhidos a dedo? Houve falhas na intervenção dos policiais naquela noite? Os suspeitos ainda podem agir?", listou calmamente o pai de Lamia, antes do início da reunião.
Três horas de perguntas
Para dar respostas a essas famílias devastadas pelos atentados, o juiz Christophe Teissier, cercado por cinco outros magistrados encarregados da investigação e de três representantes do Ministério Público de Paris, fez uma exposição a portas fechadas, durante mais de duas horas, da cronologia detalhada da noite de 13 de novembro, e falou sobre a colaboração internacional e as perspectivas da investigação."Não esperávamos por tantos detalhes", relatou Marjolaine, 32, que estava no Bataclan.
Durante mais de três horas as perguntas se sucederam, e os magistrados garantiram às famílias das vítimas que os exames médicos dos legistas haviam sido incluídos no dossiê de instrução, e que em breve eles poderiam consulta-los.
"Na época, os médicos legistas me relataram que meu filho havia sido morto de uma maneira terrível. Agora poderei entender o que aconteceu no Bataclan", resumiu Patrick Denuit, pai de Alban, de 32 anos.
Contudo, várias dúvidas continuam sem respostas, inclusive sobre o que aconteceu exatamente nos ataques do Stade de France.
"Nós, as vítimas de Saint-Denis, somos os esquecidos dos atentados", criticou Florette, que saiu da Escola Militar apoiando-se em uma muleta.
"Ainda não conseguimos entender por que nada foi feito, sendo que o Bataclan parecia ser um alvo visado há muito tempo pelos terroristas", esbravejava Patricia, que perdeu sua única filha, Precilia.
"Os juízes não nos explicaram como eles pretendiam evitar esse tipo de tragédia no futuro", lamentou Bachir Saadi, que perdeu suas duas irmãs no La Belle Equipe.
Mas o assunto que concentrava todas as tensões dizia respeito a Salah Abdeslam, que permaneceu em silêncio durante sua primeira audiência.
"O juiz Teissier garantiu aos autores das ações que, com ou sem suas declarações, a investigação avançaria", afirma Blandine Lejeune, advogada de três famílias de vítimas do Bataclan.
"Um processo da vida"
Essas respostas deixaram as vítimas com um sentimento de ambivalência, divididas entre a satisfação de "constatar que a Justiça está trabalhando para permitir a manifestação da verdade" e devastadas pela postura de Salah Abdeslam.Ao final dessas reuniões, os participantes relataram em uníssono um momento difícil. "Isso reaviva muitas lembranças difíceis", explicou lenta e dolorosamente Claude-Emmanuel Triomphe, que "achou que fosse morrer" no La Bonne Bière, depois de levar vários tiros no corpo.
"Agora vamos tentar digerir", conta Delphine Marty, que perdeu o pai de seus dois filhos no Bataclan.
"É uma primeira etapa, vai ajudar", naquilo que ela prefere chamar de "um processo da vida" em vez de luto. Esses encontros revelaram de maneira cruel as dissonâncias que há entre o mundo judiciário, que levará quase quatro anos para encerrar essa instrução tentacular, e o universo das vítimas, que querem que "a investigação ande rápido para seguirem em frente."
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