O paradoxo de Temer
Ele
foi aconselhado a não incluir no ministério pessoas investigadas nas
diversas operações criminais em curso, especialmente a Lava-Jato. Também
não deveria acatar sugestões de políticos expostos a essas
investigações, muito menos dos presidentes da Câmara (afastado) Eduardo
Cunha, e do Senado Renan Calheiros, ambos com pencas de processos no
Supremo Tribunal Federal (STF).
Mas as ligações políticas de longo
alcance com toda essa cúpula do PMDB impede que Temer tenha a
independência que o momento exige de um presidente que assumiu o cargo
interinamente devido ao impedimento de uma presidente que, apanhada em
desvios fiscais graves, tem, além de tudo, o envolvimento carnal com um
partido, o PT, metido em todo tipo de falcatrua.
Curiosamente
acontece com Temer o mesmo que com Dilma: o seu entorno está todo
contaminado por denúncias de corrupção, com raras exceções, mas as
acusações diretas contra ele são ainda tênues. No caso dela, são mais
consistentes, até mesmo pelo domínio dos fatos que ela detinha desde que
era ministra das Minas e Energia e chefiava o Conselho de Administração
da Petrobras. Mas, assim como Dilma está sendo, ele também poderá ser
atingido letalmente por delações premiadas ou gravações clandestinas.
Portanto,
Temer não tem as mãos livres para agir com desenvoltura neste momento
em que depende do apoio do Senado para confirmar o impedimento
definitivo da presidente afastada Dilma Rousseff e também do Congresso
para aprovar medidas econômicas impopulares, mas decisivas. Por isso ele
tem que, ao mesmo tempo em que negocia com políticos, manter a
sociedade esperançosa de novos dias, tarefa difícil que às vezes pode
ser até mesmo paradoxal.
Nada menos transparente do que a reunião
que Fabiano Silveira teve com o presidente do Senado Renan Calheiros,
cuja gravação foi revelada pelo Fantástico da Rede Globo na noite de
domingo. O teor das conversas não deixava dúvidas de que o novo ministro
estava orientando seu “chefe” da ocasião a como escapar dos
procuradores da Lava-Jato.
Parece pouco provável que ele, como chegou
a alegar, não soubesse quem era o presidente da Transpetro Sérgio
Machado, mas isso é o de menos. O que revelou o grau de comprometimento
de Silveira com o presidente do Senado foi a sugestão para que Calheiros
não entregasse ao Ministério Público sua defesa detalhada, evitando
assim que os procuradores tivessem base para contestá-la e
investigá-lo.
Outro ponto crucial das gravações foi o relato do
presidente do Senado de conversas que Fabiano Silveira mantivera com
membros do Ministério Público, com o intuito de sondar o que eles teriam
contra Calheiros. Isto é, Fabiano Silveira, que àquela altura era
membro do Conselho Nacional de Justiça indicado pelo próprio Calheiros,
usava sua posição para obter informações que beneficiassem quem o
indicou.
E assim supostamente agiria no ministério da Transparência,
uma pasta fundamental no combate à corrupção, percepção que retira do
ministro sua autoridade moral. O presidente da República, Michel Temer,
tem um duplo desafio pela frente: recuperar a credibilidade da economia e
a imagem do Brasil como um país confiável e seguro enquanto ambiente de
negócios.
Recuperar a economia requer esforços e fórmulas que estão
sendo encaminhadas pela equipe econômica, em conjunto com áreas
estratégicas do Governo. Já encaminharam medidas de forte impacto
positivo. A recuperação da credibilidade – interna e externa – suscita,
porém, para além da agenda econômica, a importância da agenda
anticorrupção do governo Michel Temer.
E essa agenda tem sustentação
não apenas na opinião pública, o que já não seria pouco, mas num
conjunto de exigências internacionais de investidores que buscam
ambientes transparentes e seguros para negócios. Países corruptos são
tidos como refratários aos investidores internacionais e propensos à
insegurança jurídica.
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