Narley Resende
A senadora Gleisi Hoffmann
(PT-PR), o marido dela, o ex-ministro do Planejamento e das Comunicações
Paulo Bernardo, e o empresário Ernesto Kugler, foram denunciados
pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no Supremo Tribunal
Federal (STF) em um dos processos da Operação Lava Jato.
Os três são acusados de corrupção
passiva e lavagem de dinheiro por suposto recebimento de valores
desviados da Petrobras para a campanha de Gleisi ao Senado em 2010.
No mês passado, Janot havia anulado um
pedido de indiciamento feito pela Polícia Federal. O parecer foi
encaminhado ao STF a favor da anulação do indiciamento da senadora
Gleisi Hoffmann pela PF. Segundo Janot, autoridades com foro
privilegiado não podem ser indiciadas pela PF, conforme jurisprudência
do tribunal.
De acordo com Janot, o indiciamento da
senadora naquela ocasião foi ilegal, por caber somente à
Procuradoria-Geral da República (PGR) decidir sobre a questão. “O fato
de que o indiciamento de senadora da República veio a ocorrer após seu
interrogatório apenas deixa patente a ilegalidade do ato”, argumenta
Janot.
Desta vez, Janot foi quem indiciou a
senadora e o marido, o ex-ministro Paulo Bernardo, pelo crime corrupção
passiva, sob a acusação de receber R$ 1 milhão para sua campanha em
2010. De acordo com depoimento de delatores, o valor é oriundo de
desvios de contratos da Petrobras.
Não há data para julgamento do processo, que é relatado pelo ministro Teori Zavascki.
Em novembro do ano passado, durante
delação premiada, o doleiro Alberto Youssef confessou ter feito a
entrega do dinheiro, a mando do ex-diretor Paulo Roberto Costa, em um
shopping de Curitiba. Youssef descreveu à Lava Jato que a entrega do
dinheiro foi feita em quatro parcelas: três no shopping e outra na casa
dele, em um condomínio de alto padrão da capital paranaense. Paulo
Roberto Costa afirmou ainda à PF que foi o ex-ministro Paulo Bernardo
quem teria feito o pedido de “auxílio” para a campanha.
Youssef e Costa são réus no processo que
investiga lavagem de dinheiro, superfaturamento, desvios, corrupção e
propina na Petrobrás. O esquema teria comando de PMDB, PT e PP e
abasteceu os partidos PSB E PSDB, de acordo com os delatores – que
buscam redução da pena em troca de colaborar com os novos processos.
Ex-ministros negam acusações
Em nota à imprensa, a senadora rebate as
acusações: “todas as provas que constam no inquérito comprovam que não
houve solicitação, entrega ou recebimento de nenhum valor pela senadora
Gleisi Hoffmann ou pelo ex-ministro Paulo Bernardo”.
A nota ainda informa que seriam
“inúmeras as contradições nos depoimentos dos delatores, as quais tiram
toda a credibilidade das supostas delações. Um deles apresentou, nada
mais, nada menos, do que cinco versões diferentes para esses fatos, o
que comprova ainda mais que eles não existiram”.
Em depoimento à Polícia Federal, no ano
passado, o casal disse não conhecer o doleiro e nunca ter tido qualquer
contato com ele ou com o esquema investigado pela Polícia Federal. Na
época, a assessoria de imprensa da senadora informou ainda que todas as
doações para a campanha constam na prestação de contas aprovada pela
Justiça Eleitoral.
Na época dos fatos Paulo Bernardo era
titular de Planejamento, Orçamento e Gestão do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. Gleisi se licenciou do senado em 2011 para assumir o
cargo de ministra chefe da Casa Civil no governo de Dilma Rousseff – ela
ocupou o cargo até o começo de 2015, quando saiu para disputar o
governo do Paraná.
Evidências
Paulo Roberto Costa afirma que o repasse
de R$ 1 mi feito à petista se comprova na inscrição que ele lançou em
sua agenda pessoal, apreendida pela Polícia Federal três dias após a
deflagração da Operação Lava Jato. Segundo ele, o valor destinado a
campanha de Gleisi saiu de uma cota equivalente a 1% sobre o valor de
contratos superfaturados da Petrobrás.
Youssef afirma que um empresário
indicado por Bernardo, que não teve o nome revelado, fez a entrega do
dinheiro. Os investigadores da Lava Jato acreditam que a quantia
supostamente destinada à campanha de Gleisi em 2010 foi entregue em
espécie.
Costa afirmou que o valor de R$ 1 milhão
era da “Propina do PP”, partido da base aliada do Governo da Dilma, que
foi presidido pelo deputado José Janene (PR), morto em 2010. Ele era
líder do PP na Câmara e réu do mensalão no Supremo Tribunal Federal.
Defesa
Nota divulgada pela defesa de Gleisi Hoffmann:
“É com inconformismo que recebemos a
notícia de que o PGR apresentou denúncia em desfavor da senadora Gleisi
Hoffmann. Todas as provas que constam no inquérito comprovam que não
houve solicitação, entrega ou recebimento de nenhum valor por parte da
Senadora. A denúncia sequer aponta qualquer ato concreto cometido.
Baseia-se apenas em especulações que não são compatíveis com o que se
espera de uma acusação penal.
São inúmeras as contradições nos
depoimentos dos delatores que embasam a denúncia, as quais tiram toda a
credibilidade das supostas delações. Um deles apresentou, nada mais,
nada menos, do que seis versões diferentes para esses fatos, o que
comprova ainda mais que eles não existiram.
Ao apagar das luzes, depois de um ano e
meio da abertura do inquérito, uma terceira pessoa aparece disposta a
dizer que teria realizado a suposta entrega de valores, numa nova versão
que foge de qualquer raciocínio lógico. Vale lembrar que esta pessoa é
amigo/sócio/ funcionário de Alberto Youssef, o que comprova ainda mais a
fragilidade das provas e se vale do mesmo advogado de Alberto Youssef
para fazer sua delação.
Rodrigo Mudrovitsch e Veronica Abdala Sterman”
Nota divulgada pela defesa de Paulo Bernardo:
“As referências ao ex-ministro Paulo
Bernardo na denúncia baseiam-se em declarações contraditórias e
inverossímeis. Não houve qualquer envolvimento dele com os fatos
narrados na denúncia. Demonstraremos isso com veemência e acreditamos
que a denúncia não pode ser recebida.
Rodrigo Mudrovitsch e Verônica Sterman”
Histórico
A senadora Gleisi Hoffmann se defende
dessa denúncia de recebimento de recursos ilícitos desde outubro de
2014, quando vazou na imprensa partes de uma delação do doleiro Alberto
Youssef. Nela, o doleiro dizia que havia repassado dinheiro para a
campanha dela apedido do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.
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