Nada favorável
Merval Pereira - O Globo
A situação não está tranquila nem favorável para o
ex-presidente Lula. Denunciado pelo Procurador-Geral da República
Rodrigo Janot como o verdadeiro chefe do esquema de corrupção da
Petrobras, ele também está em outro processo, sobre obstrução da
Justiça, e o pedido de prisão feito pelos procuradores do Ministério
Público de São Paulo, devido ao processo sobre o triplex do Guarujá,
finalmente chegou ao Juiz Sérgio Moro, em Curitiba.
Caberá ao
ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavaski, relator da Lava-Jato
no STF, decidir que processos ficarão com a primeira instância em
Curitiba e os que continuarão no Supremo, mesmo Lula não tendo foro
privilegiado.
Todos os processos sobre Lula estão no STF “por
conexão”, já que muitos dos envolvidos têm foro privilegiado, e até
mesmo a presidente Dilma Rousseff está envolvida, no caso da obstrução
da Justiça.
O mais provável é que o Supremo fique com este e mais o
do Lava-Jato, e mande para Moro o processo sobre o triplex do Guarujá.
Os componentes do Lava-Jato estavam investigando também os indícios de
lavagem de dinheiro e ocultação de bens em relação não apenas o triplex
do Guarujá, mas também o sítio de Atibaia, e deve ser esse o primeiro
indiciamento contra Lula, sem que necessariamente ele seja preso num
primeiro momento.
Custou, mas, afinal, as condições políticas
necessárias para denunciar o ex-presidente Lula como o verdadeiro chefe
da organização criminosa que atua à sombra do Palácio do Planalto foram
alcançadas.
O que não foi possível fazer em 2007, quando 40 pessoas
ligadas ao governo petista tornaram-se réus de um processo criminal no
Supremo Tribunal Federal, sem que o então presidente Lula fosse sequer
citado, desta vez o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, não
poupou palavras agora em sua denúncia.
Segundo ele, a organização
criminosa na Petrobras "jamais poderia ter funcionado por tantos anos e
de uma forma tão ampla e agressiva no âmbito do governo federal sem que o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dela participasse."
Como já
é consenso entre os investigadores que o mensalão nada mais foi do que
uma parte do petrolão, que continuou vigorando mesmo depois que o
primeiro esquema foi desvendado e seus cabeças foram para a prisão,
conclui-se que a Justiça brasileira levou mais de dez anos para poder
identificar Lula como o verdadeiro chefe do esquema, o que era fácil
presumir desde o início.
A organização criminosa, segundo Janot, era
verticalizada, o que quer dizer que Lula comandava o esquema de cima e,
mesmo fora do governo, fez “articulações espúrias” para interferir na
Operação Lava Jato.
Os diálogos interceptados com autorização
judicial não deixam duvidas, para o Procurador-Geral da República, de
que o ex-presidente Lula manteve o controle das decisões mais
relevantes. Ao citar entre as ações “espúrias” a sua nomeação a chefe do
Gabinete Civil, Rodrigo Janot dá indicações claras de que também
denunciará a presidente Dilma Rousseff, pois, além da gravação com a
combinação sobre o termo de posse, há também a acusação do ainda senador
Delcídio do Amaral de que a presidente pediu sua ajuda para tentar
tirar da cadeia os presidentes das empreiteiras Odebrecht e Andrade
Gutierrez.
O ex-presidente Lula também está sendo acusado de tramar o
esquema para comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor
Cerveró, conforme Delcídio alegou depois de ter sido preso devido à
gravação feita pelo filho de Cerveró.
Como Janot incluiu nas
denúncias todos aqueles que Delcídio inculpou em sua delação premiada, é
previsível que em breve também a presidente Dilma estará sendo
denunciada.
O outro Odebrecht
As negociações para a delação
premiada da empreiteira Odebrecht seguem em bons termos em Curitiba, mas
não é Marcelo Odebrecht quem está à frente, e sim seu pai, Emilio
Odebrecht. A idéia central é salvar a empresa.
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