quarta-feira, 4 de maio de 2016

Nada favorável
Merval Pereira - O Globo
A situação não está tranquila nem favorável para o ex-presidente Lula. Denunciado pelo Procurador-Geral da República Rodrigo Janot como o verdadeiro chefe do esquema de corrupção da Petrobras, ele também está em outro processo, sobre obstrução da Justiça, e o pedido de prisão feito pelos procuradores do Ministério Público de São Paulo, devido ao processo sobre o triplex do Guarujá, finalmente chegou ao Juiz Sérgio Moro, em Curitiba.
 Caberá ao ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavaski, relator da Lava-Jato no STF, decidir que processos ficarão com a primeira instância em Curitiba e os que continuarão no Supremo, mesmo Lula não tendo foro privilegiado.
Todos os processos sobre Lula estão no STF “por conexão”, já que muitos dos envolvidos têm foro privilegiado, e até mesmo a presidente Dilma Rousseff está envolvida, no caso da obstrução da Justiça.
O mais provável é que o Supremo fique com este e mais o do Lava-Jato, e mande para Moro o processo sobre o triplex do Guarujá. Os componentes do Lava-Jato estavam investigando também os indícios de lavagem de dinheiro e ocultação de bens em relação não apenas o triplex do Guarujá, mas também o sítio de Atibaia, e deve ser esse o primeiro indiciamento contra Lula, sem que necessariamente ele seja preso num primeiro momento.
 Custou, mas, afinal, as condições políticas necessárias para denunciar o ex-presidente Lula como o verdadeiro chefe da organização criminosa que atua à sombra do Palácio do Planalto foram alcançadas.
O que não foi possível fazer em 2007, quando 40 pessoas ligadas ao governo petista tornaram-se réus de um processo criminal no Supremo Tribunal Federal, sem que o então presidente Lula fosse sequer citado, desta vez o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, não poupou palavras agora em sua denúncia.
Segundo ele, a organização criminosa na Petrobras "jamais poderia ter funcionado por tantos anos e de uma forma tão ampla e agressiva no âmbito do governo federal sem que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dela participasse."
 Como já é consenso entre os investigadores que o mensalão nada mais foi do que uma parte do petrolão, que continuou vigorando mesmo depois que o primeiro esquema foi desvendado e seus cabeças foram para a prisão, conclui-se que a Justiça brasileira levou mais de dez anos para poder identificar Lula como o verdadeiro chefe do esquema, o que era fácil presumir desde o início.
 A organização criminosa, segundo Janot, era verticalizada, o que quer dizer que Lula comandava o esquema de cima e, mesmo fora do governo, fez “articulações espúrias” para interferir na Operação Lava Jato.
Os diálogos interceptados com autorização judicial não deixam duvidas, para o Procurador-Geral da República, de que o ex-presidente Lula manteve o controle das decisões mais relevantes. Ao citar entre as ações “espúrias” a sua nomeação a chefe do Gabinete Civil, Rodrigo Janot dá indicações claras de que também denunciará a presidente Dilma Rousseff, pois, além da gravação com a combinação sobre o termo de posse, há também a acusação do ainda senador Delcídio do Amaral de que a presidente pediu sua ajuda para tentar tirar da cadeia os presidentes das empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez.
O ex-presidente Lula também está sendo acusado de tramar o esquema para comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, conforme Delcídio alegou depois de ter sido preso devido à gravação feita pelo filho de Cerveró.
Como Janot incluiu nas denúncias todos aqueles que Delcídio inculpou em sua delação premiada, é previsível que em breve também a presidente Dilma estará sendo denunciada.
O outro Odebrecht
As negociações para a delação premiada da empreiteira Odebrecht seguem em bons termos em Curitiba, mas não é Marcelo Odebrecht quem está à frente, e sim seu pai, Emilio Odebrecht. A idéia central é salvar a empresa.

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