Depoimento de ex-presidente da Andrade Gutierrez diz que, em 2008, PT cobrou 1% de propina sobre toda obra que a empreiteira tocou desde 2003 e as que viesse a tocar no futuro
Os
governistas, liderados pelo cara-pintada transformado em cara de pau
Lindbergh Farias (PT-RJ), fizeram o diabo para tentar impedir o senador
Antônio Anastasia (PSDB-MG) de ler o seu relatório. As chicanas foram se
multiplicando. Mas a leitura está em curso. E o texto é favorável à
continuidade do processo. Deve ser aprovado pela comissão sem problemas e
certamente terá a anuência da maioria simples do Senado. E Dilma será,
então, afastada.
Quem visse
Lindbergh e seus valentes em ação não ligaria o governo que está aí,
liderado pelo PT, àquilo que ficamos sabendo do depoimento de Otávio
Marques de Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez. O conteúdo
explica por que Rodrigo Janot pediu que Lula, Ricardo Berzoini e Edinho
Silva, entre outros, passem a ser investigados do inquérito-mãe da Lava
Jato.
Azevedo
relata que, em 2008, foi chamado para uma reunião com Berzoini, então
presidente do partido — e noto que ele havia assumido o cargo porque o
mensalão havia destruído José Genoino — e por João Vaccari Neto, o
tesoureiro. Os companheiros deixaram claro que a segunda maior
empreiteira do país teria de pagar 1% de propina sobre toda obra por ela
realizada desde, atenção!, de 2003 — desde, portanto, a chagada do
partido ao poder.
Não só: ali
ficou acertado que esse 1% valia para todas as obras então em curso e
para as que viessem a ser feitas. O PT unia, assim, as três pontas da
corrupção: passado, presente e futuro. Entre 2009 e 2014, Marques estima
que a Andrade Gutierrez repassou R$ 90 milhões do PT. Desse total, pelo
menos R$ 40 milhões, disse, eram oriundos de propina. Na campanha de
2014, Edinho Silva apresentou a conta que o partido fez para a
empreiteira: R$ 100 milhões.
É muito
constrangedor ler textos de alguns colunistas — espero que seja só
convicção torta — que tratam o impeachment como um golpe das elites
econômicas contra os interesses populares. Fazê-lo corresponde a se
alinhar com um regime conduzido por larápios e ladrões. Nesta terça,
vimos, por exemplo, Marcelo Lavenère, ex-presidente da OAB, num fim
melancólico de carreira, a desenvolver suas teorias furadas sobre a
marcha do retrocesso que estaria um curso.
Notem: por
que o presidente da segunda maior empreiteira do país mentiria?
Especialmente quando as informações da sua delação coincidem com as de
outros depoentes? O PT decidiu ser sócio de todas as empreiteiras do
país. Na verdade, decidiu se apropriar de uma parcela do caixa de
quantas empresas fizessem negócios com órgãos públicos.
Haverá
corrupção no governo Temer e em qualquer outro? Estou certo de que sim.
Que os responsáveis paguem por aquilo que fizeram. Corruptos fazem mal
ao país quando incrustados na máquina pública. Mas eles podem destruí-lo
se impõem o seu método de governança.
E nós estamos ainda sob o jugo de uma quadrilha.
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