A síndrome dos tucanos
O PSDB parece que sofre de Síndrome de Estocolmo,
definido por alguns como "estado psicológico em que uma pessoa,
submetida a um tempo prolongado de intimidação, passa a ter simpatia por
seu agressor". Só isso explica que os tucanos volta e meia tenham uma
recaída, como agora, e busquem imitar as atitudes do PT quando na
oposição.
Essa decisão que está prestes a ser tomada de não
participar de um eventual governo presidido por Michel Temer em tudo se
parece com a atitude criticável do PT, que comandou o processo de
impeachment contra Collor em 1992 e depois se recusou a participar de
seu governo.
Tudo porque Lula considerava que o governo de
Itamar Franco fracassaria, e a eleição presidencial de 1994 cairia em
seu colo. Há no PSDB quem pense até mesmo em propor a expulsão do tucano
que aceitar, mesmo a nível pessoal, participar do governo Temer, a
mesma coisa que fez o PT, que expulsou Luiza Erundina por ter aceitado o
convite de Itamar para ser sua ministra.
É claro que a
situação do PSDB tem circunstâncias especiais, como o fato de que o
partido entrou com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo
a anulação da chapa Dilma-Temer por abuso do poder econômico na eleição
de 2014. Como apoiar um governo chefiado por um político que o próprio
partido está questionando na Justiça?
Nesse ponto, a
ex-senadora Marina Silva mostra-se mais coerente, pois desde o início
pede novas eleições com base na anulação da campanha de 2014. Não quer
nem Dilma nem Temer, e seu partido, a Rede Sustentabilidade, teve
posições variadas com relação ao impeachment, embora no final a própria
Marina o tenha apoiado sem, no entanto, orientar o partido formalmente,
deixando seus representantes no Congresso votarem de acordo com suas
consciências.
O PSDB, ao contrário, embora tenha começado o
movimento político a favor da anulação da eleição de 2014, acabou sendo
levado pelos movimentos sociais a adotar uma posição unânime a favor do
impeachment. O melhor caminho que poderia ter no momento é dar uma
declaração a favor da separação das contas, solução que parece será a
escolhida pelo TSE, e apoiar o governo Temer sem receios do que
acontecerá mais adiante.
Mesmo que os tucanos receiem que a
cúpula do PMDB possa vir a ser atingida por denúncias da Lava-Jato, não
se justifica uma atitude de afastamento antecipado. Como diz o
Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, a cada dia sua agonia. A
obrigação do PSDB é colaborar para que o governo de transição tenha
êxito, sem ficar com uma atitude arrogante de quem se considera superior
e não quer se macular com a proximidade de um partido fisiológico.
Caberia ao PSDB elaborar um programa de intenções a ser apresentado a
Michel Temer como condição para um apoio formal. Aceitas essas
condicionantes, não há razão para evitar o contágio, pois o menor sinal
de que o PMDB não está se comportando como deveria seria motivo
suficiente para um rompimento justificado.
Romper antes,
mesmo que baseado no histórico nada confiável do partido, é antecipar-se
aos fatos, o que o momento político não recomenda. É preciso que as
forças políticas que se uniram para tirar o PT do governo como meta
prioritária se unam novamente para ajudar o país a sair da enrascada em
que se meteu.
Pior ainda é a ideia de obrigar quem aceitar ir
para um futuro governo Temer a assinar um compromisso de não se
candidatar às eleições presidenciais de 2018. A proposta ridícula,
atribuída ao governador de São Paulo Geraldo Alckmin, é a prova de que
os tucanos só pensam na sucessão presidencial e não se importam com a
situação do país.
Como o PT em 1994, poderão ser punidos pelo surgimento de novas
alternativas políticas. E, do jeito que se comportam nesse episódio, de
maneira errática e indecisa, não será preciso nem mesmo um Plano Real
para derrotá-los. Basta que continuem a erodir o capital político que
acumularam com atitudes desconexas com os objetivos que marcaram o
partido, como já fizeram ao votar contra o fator previdenciário.
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