Bons sinais
Desistir de nomear o amigo e advogado particular Antonio Mariz pelas
ideias que tem sobre a Operação Lava-Jato é sinal de que Temer sabe que
não pode arrostar a opinião pública. Até tentou, pois não deveria nem
mesmo ter aventado o nome de Mariz diante das opiniões dele sobre temas
delicados como delação premiada e combate à corrupção, que na sua
convicção não deveria ser a prioridade da Polícia Federal.
A coerência do advogado, que já assinara manifestos contra a Operação
Lava-Jato e criticara o juiz Sérgio Moro, é até elogiável, ou pode ter
sido resultado de um curto-circuito entre ele e o futuro presidente.
Mariz tinha todo o direito de imaginar que para escolhê-lo ministro da
Justiça, Temer concordava com seus pontos de vista.
Ou talvez até mesmo o então vice-presidente possa ter concordado com o
amigo em conversas informais. Mas a boa notícia é que Temer parece já
ter entendido que nem mesmo suas convicções podem ir de encontro à
vontade do país.
Ele terá que ser um presidente que atenda aos anseios da sociedade
neste momento específico do país, e apoiar o combate à corrupção, sem
dar margem a especulações de que estaria, por exemplo, inclinado a
ajudar Eduardo Cunha a se safar das acusações contra ele.
Sorte de Temer que o assunto Cunha diga respeito ao Supremo Tribunal
Federal (STF), e a presidência da República nem pode se meter nas
disputas em outro Poder. Mas qualquer gesto que pareça solidariedade a
Eduardo Cunha atingirá Temer como um raio, e ele não tem espaço para
arcar com um erro desses, nem tempo para se recuperar.
Da mesma maneira, a quase confirmação de que o ministro da Fazenda
será Henrique Meirelles é uma escolha que dará aos investidores,
internos e externos, e ao mundo financeiro de maneira geral, uma
sinalização positiva.
Retirar a autonomia do Banco Central, dando ao ministro da Fazenda a
escolha de seu titular, é um retrocesso, mas deixá-lo participar da
escolha do comando dos bancos estatais, fixando a diretriz de que não
serão ocupados por indicações políticas nem loteados pelos partidos
aliados, é outra boa notícia.
Também o anúncio de que serão feitas auditorias nesses bancos, para
se saber a real situação da Caixa Econômica, do Banco do Brasil, do
BNDES, é imprescindível para o novo governo dar à população a real
dimensão do estrago feito.
O PSDB, ao sair de sua letargia e assumir compromissos concretos com o
novo governo em troca de pontos programáticos, dá um passo importante
para ajudar Temer a se afastar dos critérios fisiológicos que sempre
foram orientadores da ação política do PMDB.
Os tucanos estão conseguindo fazer do limão uma limonada, e, ao
superarem suas divergências sobre a participação no novo governo e
substituí-las por uma proposta republicana de aliança programática,
avançaram muitas casas no estabelecimento de uma relação saudável entre
partidos na base aliada governista, dando o caminho correto a ser
seguido pelos demais partícipes do novo governo.
Se eventualmente as coisas saírem diferente do combinado, o PSDB terá
todo direito de ir para a oposição, rompendo o acordo que está prestes a
ser fechado. Se Michel Temer entender que está tendo a chance histórica
de tornar-se um presidente da República respeitável seguindo critérios
programáticos e meritocráticos, estaremos dando um passo à frente na
reorganização do Estado brasileiro, aparelhado e espoliado nos últimos
anos por grupos políticos que pretendiam se manter no poder por longo
tempo.
É ver para crer.
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