Piotr Smolar - Le monde
Amir Cohen/Reuters
Policial gesticula de torre de observação visto do lado israelense do Sinai, no deserto do Neguev
A beleza pode ser uma mentira, ela não diz tudo. Aquela que pode ser vista do alto do monte Horesha é de tirar o fôlego
Situado ao sudoeste do deserto do Neguev, na fronteira entre Israel e o Egito, é um dos melhores pontos de observação da região, prezada pelo tenente-coronel Zvi Erdanwill, chefe do 55º batalhão de artilharia. Todas as nuances de cascalho desértico —ocre, cinza, laranja desbotado— são acompanhadas por tufos de grama seca castigados pelo Sol.
Abaixo há a barreira de segurança, erguida ao longo dos 240 km de
fronteira, desde a faixa de Gaza ao norte até Eilat, na ponta sul.
Atrás, do lado egípcio, se estende o Sinai atormentado, onde se
encontram centenas de jihadistas, afiliados à organização Estado
Islâmico (EI), os mesmos que conseguiram explodir um avião de uma
companhia russa, no dia 13 de outubro de 2015, matando 224 pessoas a
bordo.
Foi preciso esperar meses para aproveitar a vista, uma vez que o privilégio, para um civil, requer uma autorização. Parece distante o tempo em que a fronteira se atravessava quase sem se notar, a pé. A zona era propícia para todo tipo de tráfico. Havia muitas prostitutas.
Os imigrantes, exaustos por um longo périplo, geralmente vindos do Sudão e da Eritreia, suspiravam de alívio, antes de tomar a direção de Tel Aviv ou de uma outra cidade grande, em busca de um emprego precário. Foi contra eles que se construiu a barreira de segurança em 2011. O fluxo cessou, mas hoje as preocupações com segurança mudaram.
"A vista é realmente sublime", diz o tenente-coronel Zvi Erdanwill. "Mas é um grande desafio, para nós comandantes, fazer com que os soldados entendam até que ponto é grande a ameaça. Na Cisjordânia, você vê o inimigo olho no olho, quando ele se aproxima com uma faca. Aqui não tem ninguém. No entanto, tenho certeza de que é só uma questão de tempo até que o EI chegue à nossa fronteira."
A ameaça não é nova, uma vez que o grupo Ansar Beit al-Maqdis (Abam) já atacou. Em agosto de 2011, oito israelenses morreram em ataques simultâneos. Em setembro de 2012, um soldado foi morto em uma troca de tiros. Mas a vigilância do Estado hebraico redobrou desde que o grupo jurou lealdade ao EI, em novembro de 2014.
Apesar do impressionante ataque contra o avião russo e dos vídeos do EI que apontam Israel como alvo diversas vezes, o Abam combate prioritariamente o regime egípcio e suas Forças Armadas enviadas em massa para o Sinai. Mas nem por isso Israel se sente seguro.
O Exército israelense enfatiza uma forma de cooperação surpreendente entre o Hamas e o EI, movidos por interesses comuns mas que não são divulgados. O Hamas já teria acolhido em seus hospitais diversos jihadistas feridos em seus confrontos com o Exército egípcio. Eles teriam entrado na faixa de Gaza através de túneis.
Por outro lado, o movimento islâmico, que controla o território palestino desde 2007, aproveita a presença do EI no Sinai para encaminhar equipamentos militares. Em troca, os jihadistas receberiam parte das mercadorias e um pouco de dinheiro vivo.
Segundo uma fonte israelense, um instrutor experiente do Hamas teria chegado a treinar combatentes do Sinai no manejo do míssil anti-tanque Kornet e no sistema de mísseis solo-ar portátil do tipo AS-18, proveniente da Líbia ou do Sudão.
A barreira de segurança, com quatro a cinco metros de altura e que se estende até o subsolo, não é totalmente hermética, apesar dos arames farpados em sua base e em seu topo. Um oficial beduíno examina todos os dias uma porção da grade e da faixa de areia a seus pés. Ele conhece os hábitos e os truques de seus irmãos do outro lado.
"Alguns deles apagam seus rastros, outros colocam uma espuma na sola do sapato", diz D. "Às vezes eles jogam pacotes por cima da fronteira, com drogas ou cigarros."
Os militares preferem falar que se trata de um "sistema", e não de uma simples barreira. Além das patrulhas ao longo da fronteira, os jipes escondidos atrás de montes de areia em "U" e os soldados camuflados esperam às vezes dois dias para que um alerta se confirme ou se dissipe, e o Exército possui radares e captadores sofisticados para detectar qualquer movimento. Sem falar dos informantes entre os beduínos.
"Nossas informações são muito ricas sobre o que se passa do outro lado, e nossas relações com os egípcios são excelentes", ressalta o chefe do batalhão. Tanto que Israel teria se permitido fazer vários ataques de drones há dois anos no Sinai, sem jamais mencioná-lo.
Os jovens soldados às vezes ficam entediados, enquanto patrulham os desfiladeiros desérticos. Eles são convidados regularmente a assistir vídeos do EI, pelo YouTube, para se familiarizarem com seus horrores e, sobretudo, com os métodos empregados.
O cenário catastrofista ao qual eles são preparados é um ataque simultâneo, uma incursão com algumas dezenas de combatentes de picapes contra civis, como em Eilat, na ponta sul de Israel, ou em uma comunidade menor próxima da fronteira. Ao mesmo tempo, tiros distantes de katyusha (lançador de foguetes) ou de morteiros seriam disparados.
Por fim, um dos campos militares, isolado nas montanhas, ao longo da fronteira, seria atacado. Esse cenário não tem nada de irrealista. No dia 1º de julho de 2015, os jihadistas atacaram simultaneamente 15 barreiras e postos do Exército egípcio perto de Sheikh Zuweid.
Foi preciso esperar meses para aproveitar a vista, uma vez que o privilégio, para um civil, requer uma autorização. Parece distante o tempo em que a fronteira se atravessava quase sem se notar, a pé. A zona era propícia para todo tipo de tráfico. Havia muitas prostitutas.
Os imigrantes, exaustos por um longo périplo, geralmente vindos do Sudão e da Eritreia, suspiravam de alívio, antes de tomar a direção de Tel Aviv ou de uma outra cidade grande, em busca de um emprego precário. Foi contra eles que se construiu a barreira de segurança em 2011. O fluxo cessou, mas hoje as preocupações com segurança mudaram.
"A vista é realmente sublime", diz o tenente-coronel Zvi Erdanwill. "Mas é um grande desafio, para nós comandantes, fazer com que os soldados entendam até que ponto é grande a ameaça. Na Cisjordânia, você vê o inimigo olho no olho, quando ele se aproxima com uma faca. Aqui não tem ninguém. No entanto, tenho certeza de que é só uma questão de tempo até que o EI chegue à nossa fronteira."
A ameaça não é nova, uma vez que o grupo Ansar Beit al-Maqdis (Abam) já atacou. Em agosto de 2011, oito israelenses morreram em ataques simultâneos. Em setembro de 2012, um soldado foi morto em uma troca de tiros. Mas a vigilância do Estado hebraico redobrou desde que o grupo jurou lealdade ao EI, em novembro de 2014.
Cooperação entre Hamas e EI
Os especialistas israelenses calculam que ele conta com cerca de 500 membros ativos. De forma mais ampla, eles ressaltam a difusão de um salafismo muito básico entre as comunidades beduínas, que se encontram divididas entre um modo de vida tradicional e a sharia.Apesar do impressionante ataque contra o avião russo e dos vídeos do EI que apontam Israel como alvo diversas vezes, o Abam combate prioritariamente o regime egípcio e suas Forças Armadas enviadas em massa para o Sinai. Mas nem por isso Israel se sente seguro.
O Exército israelense enfatiza uma forma de cooperação surpreendente entre o Hamas e o EI, movidos por interesses comuns mas que não são divulgados. O Hamas já teria acolhido em seus hospitais diversos jihadistas feridos em seus confrontos com o Exército egípcio. Eles teriam entrado na faixa de Gaza através de túneis.
Por outro lado, o movimento islâmico, que controla o território palestino desde 2007, aproveita a presença do EI no Sinai para encaminhar equipamentos militares. Em troca, os jihadistas receberiam parte das mercadorias e um pouco de dinheiro vivo.
Segundo uma fonte israelense, um instrutor experiente do Hamas teria chegado a treinar combatentes do Sinai no manejo do míssil anti-tanque Kornet e no sistema de mísseis solo-ar portátil do tipo AS-18, proveniente da Líbia ou do Sudão.
A barreira de segurança, com quatro a cinco metros de altura e que se estende até o subsolo, não é totalmente hermética, apesar dos arames farpados em sua base e em seu topo. Um oficial beduíno examina todos os dias uma porção da grade e da faixa de areia a seus pés. Ele conhece os hábitos e os truques de seus irmãos do outro lado.
"Alguns deles apagam seus rastros, outros colocam uma espuma na sola do sapato", diz D. "Às vezes eles jogam pacotes por cima da fronteira, com drogas ou cigarros."
Os militares preferem falar que se trata de um "sistema", e não de uma simples barreira. Além das patrulhas ao longo da fronteira, os jipes escondidos atrás de montes de areia em "U" e os soldados camuflados esperam às vezes dois dias para que um alerta se confirme ou se dissipe, e o Exército possui radares e captadores sofisticados para detectar qualquer movimento. Sem falar dos informantes entre os beduínos.
"Nossas informações são muito ricas sobre o que se passa do outro lado, e nossas relações com os egípcios são excelentes", ressalta o chefe do batalhão. Tanto que Israel teria se permitido fazer vários ataques de drones há dois anos no Sinai, sem jamais mencioná-lo.
Os jovens soldados às vezes ficam entediados, enquanto patrulham os desfiladeiros desérticos. Eles são convidados regularmente a assistir vídeos do EI, pelo YouTube, para se familiarizarem com seus horrores e, sobretudo, com os métodos empregados.
O cenário catastrofista ao qual eles são preparados é um ataque simultâneo, uma incursão com algumas dezenas de combatentes de picapes contra civis, como em Eilat, na ponta sul de Israel, ou em uma comunidade menor próxima da fronteira. Ao mesmo tempo, tiros distantes de katyusha (lançador de foguetes) ou de morteiros seriam disparados.
Por fim, um dos campos militares, isolado nas montanhas, ao longo da fronteira, seria atacado. Esse cenário não tem nada de irrealista. No dia 1º de julho de 2015, os jihadistas atacaram simultaneamente 15 barreiras e postos do Exército egípcio perto de Sheikh Zuweid.
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