Partido não pode repetir, em 2016, estupidez cometida pelo PT em 1992, quando ajudou a derrubar, mas não a governar
Reinaldo Azevedo - VEJA
Eu não sou exatamente um “pragmático” e confesso que tenho alguns problemas com a palavra “pragmatismo” porque costuma se entregar a uma rima pobre: “oportunismo”. Assim, prefiro os princípios.
Leio na Folha que o PSDB tende a fechar questão, em reunião da Executiva Nacional do dia 3 de maio, contra a participação de quadros do partido num possível governo de Michel Temer. Os tucanos devem, sim, dar apoio ao peemedebista no Congresso — uma pauta está sendo elaborada para entregar ao ainda vice —, mas sem ocupar cargos no primeiro escalão. A justificativa de alguns tucanos, segundo a reportagem, é que um eventual naufrágio do novo governo não pode prejudicar a legenda como alternativa de poder em 2018.
Dizer o quê?
A prevalecer essa decisão, que contaria com a simpatia dos governadores
Beto Richa (PR), Geraldo Alckmin (SP) e Pedro Taques (MT), só me resta
observar: está tudo errado. E por um conjunto de motivos combinados.
Em primeiro
lugar, observo: quem ajuda a derrubar tem de ajudar a governar, a menos
que o PSDB de 2016 queira repetir o PT de 1992. Lula foi um dos líderes
da deposição de Fernando Collor, mas decidiu que o seu partido não
integraria o novo governo. Também os petistas estavam de olho nas
eleições presidenciais, a exemplo dos tucanos agora.
Parecia que
tudo caminhava para que a Presidência caísse no colo de Lula em 1994.
Quando alguém falou que FHC, ministro da Fazenda, poderia se candidatar,
os petistas caíram na gargalhada, e os petralhas das redações
perguntavam se ele faria campanha em francês. Foi eleito e reeleito no
primeiro turno, em 1994 e 1998, respectivamente. O excesso de esperteza
engoliu o PT.
E o que
significa “fechar questão”? Se Temer convidar um tucano para o governo,
ainda que não em nome do partido, o PSDB faria o que o PT fez com Luíza
Erundina, que foi expulsa da legenda por ter aceitado o cargo de
ministra da Administração de Itamar? Se, sei lá, Temer oferecer o
Ministério da Saúde para José Serra, por exemplo, os tucanos dirão algo
como: “Se aceitar, está fora” — embora o partido continuasse a apoiar o
governo no Congresso?
Faz sentido? Não faz.
Em segundo
lugar, pergunto: então o PSDB não poderia se arriscar apoiando um
governo Temer, mas o Brasil, nessa hipótese, com a ajuda dos tucanos,
pode “correr o risco”? Os peessedebistas não querem arcar com o peso da
aposta, mas convidam o brasileiro a fazê-lo? Não parece muito honesto
intelectualmente. Não se trata de “ajudar o Temer”, mas de ajudar o
país.
Uma decisão
como essa parece estar mais inclinada a não criar fatos novos na fila
dos pré-candidatos tucanos à Presidência do que a dar uma resposta a uma
das maiores crises da história do país.
Em terceiro
lugar, noto que o PSDB deveria fazer uma única exigência a Temer: o
envio de uma emenda parlamentarista, com posterior referendo, já para
2018, não para 2022 — até lá, daria tempo de um presidente, qualquer que
seja, bombardear a ideia. E os tucanos têm obrigação moral de
apresentar essa proposta porque o PSDB é o único partido
programaticamente parlamentarista.
A crise que
aí está representa também uma chance imensa de mudar a qualidade do
debate. Mas, para tanto, convém pensar primeiro no país. Mesmo! E esse é
um bom jeito de pensar nos interesses do partido. De resto, acreditem
em mim: no dia em que não houver mais fila no PSDB para disputar a
Presidência, todos ficarão mais leves e poderão emprestar aos
brasileiros os seus melhores talentos.
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