Agora que a dupla já caiu em desgraça, procurador-geral oferece uma denúncia contra o ex-presidente e pede abertura de dois inquéritos; contra a atual presidente, um inquérito ao menos
Qualquer
observador atento da realidade sabe que Janot se preparou para qualquer
resultado do jogo. Quem quer que tente atribuir a ele uma colaboração
mínima que seja com o impeachment de Dilma Rousseff estará cometendo uma
injustiça. Em momentos decisivos, o procurador-geral atuou em favor do
“Fica Dilma”. Agora que os fatos estão praticamente consumados, nós o
vemos ativo e buliçoso. E, finalmente, fazendo a coisa certa. Explico
tudo.
Janot
resolveu oferecer denúncia contra Lula no inquérito que apura a compra
do silêncio de Nestor Cerveró, então prestes a fazer delação premiada. O
senador Delcídio do Amaral deixou claro que atuava com delegação do
Poderoso Chefão. O procurador-geral, ora vejam!, descobriu que um
esquema como o petrolão não poderia funcionar sem a conivência de Lula.
Não parou
por aí: pediu ainda que o nome do ex-presidente seja incluído no
inquérito-mãe do petrolão — o que apura as safadezas na Petrobras —,
junto com Jaques Wagner, Ricardo Berzoini, Edinho Silva e José Sérgio
Gabrielli.
Mais: quer
outro inquérito para apurar se Dilma — sim, a presidente —, Lula e José
Eduardo Cardozo não se irmanaram num trabalho de obstrução da Justiça
quando o ex-presidente foi nomeado ministro.
Síntese:
contra o ex-presidente, uma denúncia e dois inquéritos; contra a atua,
ao menos um inquérito. Os principais homens do Palácio — Wagner,
Berzoini e Edinho — podem integrar a investigação-chave do petrolão.
É evidente que também eu fico tentado a dar os parabéns a Janot. Mas vou me conter.
Lembro
que, não faz tempo, esse mesmo procurador-geral opinou que Dilma
poderia, sim, nomear Lula seu ministro. Chegou a alegar a gravidade da
conjuntura como fator e evitar embaraços para a consumação do ato. Dias
depois, mudou de ideia e passou a enxergar o tal desvio de finalidade e a
obstrução da Justiça. Não fosse a liminar contra a posse, concedida
pelo ministro Gilmar Mendes, o homem estava lá na Casa Civil.
Noto que,
então, Janot apontou esses vícios, mas, ainda assim, não pediu a
abertura de inquérito contra Dilma. Aliás, a questão é de tal sorte
grave e evidente que já poderia era ter oferecido uma denúncia.
Pensemos
um pouco em Lula. Lembram-se do contrato de US$ 1,6 bilhão que o grupo
Schahin fechou para administrar o navio-sonda Vitória 10.000? Pois é… Em
razão dele, o PT deixou de pagar uma dívida de R$ 60 milhões com o
grupo. O dono da empresa, além de Nestor Cerveró e de Fernando Baiano,
acusaram a atuação do ex-presidente no caso. Motivo para pedido de
abertura de inquérito? Por muito menos, outros estão sob investigação.
Mas Janot, prudentemente, esperou.
E foi
Janot também que imprimiu especial velocidade à investigação de Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), principal inimigo de Dilma, quando comparamos o seu
caso com os dos demais investigados. Não que ele não mereça ainda mais
celeridade, não é mesmo? Mas e os outros?
Querem
mais? Janot se conformou com a leitura torta do Parágrafo 4º do Artigo
86 da Constituição, segundo a qual Dilma não pode responder no segundo
mandato por crimes praticados no primeiro, ainda que esses crimes tenham
colaborado para conquistar esse segundo mandato, o que é uma aberração.
Em suma:
Janot postergou o quanto pôde a investigação de Dilma e Lula. Esperou
que os dois fossem condenados pela ordem de fatos completamente alheios à
sua atuação para só então despertar.
Não fossem as ruas, que não esperaram a vontade de Janot, a mover o Congresso, e Dilma e Lula iriam nos assombrar até 2018.
Corajosamente,
o procurador-geral esperou que a dupla não tivesse mais saída para
fazer, então, o que deveria ter feito há muito tempo.
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