Elaine Sciolino - NYT
Ed Alcock/The New York Times
Yannick Alléno em seu restaurante, Pavillon Ledoyen, em Paris, antes de abrir para o dia
Les Bouquinistes é há muito tempo um dos restaurantes de luxo preferidos pelos que visitam Paris. Instalado em um cais da margem esquerda do Sena, fundado por Guy Savoy, um chef com três estrelas no guia Michelin, ele oferece uma recepção calorosa em ambiente contemporâneo, um menu criativo, preços que não são estratosféricos e vistas incríveis do Sena e de Notre-Dame.
Mas em uma noite
recente de quarta-feira seu salão com 50 lugares estava vazio, a não ser
por um casal em uma mesa na frente e um pequeno grupo que comemorava um
aniversário numa sala ao fundo.
"É o medo do terrorismo", disse Cédric Jossot, gerente do Les Bouquinistes. "Nós contamos com os turistas --americanos, japoneses--, mas eles não estão vindo."
Paris está vivendo em tensão há mais de um ano. Primeiro foram os ataques contra a revista "Charlie Hebdo" e um mercado kosher em janeiro de 2015, que deixaram 17 vítimas e três atiradores jihadistas mortos. Depois vieram os ataques muito mais extensos e mortais em novembro, que atingiram um estádio, uma casa de shows, restaurantes e bares da vizinhança, tirando a vida de 130 pessoas.
O presidente François Hollande declarou que a França estava em guerra e impôs o estado de emergência nacional, que continua em vigor.
Bruxelas foi atacada em março; relatos de que os responsáveis tinham ligações com os atentados de novembro em Paris e queriam atacar primeiro Paris deixaram a impressão de que a cidade não é segura.
Tudo isso, além das tendências econômicas mais amplas que deprimiram os negócios em muitos setores voltados para o luxo, resultou em mesas vazias em alguns dos melhores e mais conhecidos restaurantes da cidade. Os animados bistrôs que atendem à clientela francesa parecem cheios; os restaurantes caros formais, muito menos.
"É uma catástrofe", disse Yannick Alléno, outro chef com três estrelas no Michelin e um dos mais inovadores de Paris, no Pavillon Ledoyen. "Tentamos nos manter positivos e espalhar a mensagem de que Paris é um destino mágico como sempre. Sim, estamos em guerra contra os terroristas, mas o mundo inteiro está em guerra contra os terroristas."
Para atrair clientes na hora do almoço, Alléno adotou um cardápio enxuto, sem entrada, mas com um prato principal perfeito: por exemplo, filé de peixe refogado, pérolas de batatas temperadas com pele de peixe seca e ravióli de pepino com ricota defumada. Um chá de algas marinhas, água mineral e café estão incluídos, mas o vinho é à parte. Por 72 euros (R$ 288), não é uma pechincha para um almoço cotidiano.
E assim o universo dos restaurantes em Paris se tornou mais complexo. Os hotéis de luxo sofrem queda de movimento por causa do medo do terrorismo e do aumento de aluguéis de apartamentos particulares, o que significa menos indicações de restaurantes pelos recepcionistas, segundo Philippe Faure, o diplomata do Ministério das Relações Exteriores encarregado de promover o turismo.
O estado de emergência faz que muitas apólices de seguro estrangeiras não cubram os viajantes de negócios à França, disse ele.
Um grande número de turistas estrangeiros que se hospedaram em apartamentos alugados, em vez de hotéis, estão seguindo a pista de alguns parisienses que usam novos serviços de entrega de refeições ou mesmo contratam cozinheiros particulares.
Os restaurantes estrelados no Michelin, especialmente os que ficam em hotéis de luxo, são os que mais sofrem. "As pessoas entram, veem que a sala está vazia e vão ao bistrô do outro lado da rua", disse Faure.
O restaurante famoso de Alain Ducasse no hotel Plaza Athénée, e Le Cinq, o restaurante de luxo no hotel George 5, dirigido pelo Four Seasons, ambos com três estrelas no Michelin, às vezes estão quase vazios. Às 13h30 de um dia recente, o restaurante do Plaza servia apenas duas mesas com duas pessoas cada; na hora do jantar em uma noite recente no Le Cinq, havia apenas duas mesas ocupadas.
"Isso está criando uma atmosfera de ansiedade e estresse para todo mundo --os chefs, os proprietários, os clientes", disse François-Régis Gaudry, crítico de restaurantes do semanário "L'Express", que come diariamente nos restaurantes parisienses.
Gaudry disse que durante um almoço recente no Le Gabriel, que tem duas estrelas no Michelin e fica no luxuoso hotel La Réserve, ficou surpreso ao ver que só um terço das mesas estavam ocupadas; no Chez L'Ami Jean, um conhecido bistrô especializado em cozinha basca, que aparece em muitos guias e blogs americanos, era ainda pior.
"Eu estive lá com um crítico de comida americano e não havia ninguém além de nós", disse ele.
Restaurantes que já tiveram listas de espera de meses, como Le Jules Verne, de Ducasse, no alto da Torre Eiffel, hoje fazem reservas com muito mais rapidez, especialmente para o almoço.
Ducasse pode cobrir parte de seus prejuízos porque tem vários restaurantes que atendem a diferentes orçamentos e tipos de clientes. O Champeaux, sua nova brasserie nos Halles, por exemplo, está lotado desde sua inauguração no mês passado, disse ele. Mas ele está preocupado com a repetida prorrogação pelo governo do estado de emergência.
"Estive em Nova York depois do 11 de Setembro e o prefeito foi perfeito --ele garantiu a todos que têm empresas lá que a vida deve continuar e o faria", disse ele. "Esta mensagem de medo aqui na França é terrível para os restaurantes e para toda a economia."
Outros chefs estão revidando com cortes nos preços. Gilles Epié, do Citrus Étoile (sem estrelas), perto do Arco do Triunfo, começou uma campanha na internet que oferece reservas antecipadas online com desconto de 30% nas refeições (mas não no vinho) para manter a clientela ativa.
Ele tinha acabado de visitar Las Vegas e ficou surpreso ao ver que os restaurantes construídos na cidade artificial de Paris lá estavam cheios. "Por isso estou dizendo a todo mundo que está na hora de vir a Paris", disse ele. "A verdadeira."
Para Faure, não há alternativa senão esperar. "É frustrante, porque é só Paris que está sofrendo", disse ele. "O resto da França --as montanhas, o mar-- está lotado. Mas não podemos criar um argumento contrário à linha oficial de que estamos em estado de emergência por causa da ameaça terrorista."
"Não há nada a fazer, exceto ter muita paciência."
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
"É o medo do terrorismo", disse Cédric Jossot, gerente do Les Bouquinistes. "Nós contamos com os turistas --americanos, japoneses--, mas eles não estão vindo."
Paris está vivendo em tensão há mais de um ano. Primeiro foram os ataques contra a revista "Charlie Hebdo" e um mercado kosher em janeiro de 2015, que deixaram 17 vítimas e três atiradores jihadistas mortos. Depois vieram os ataques muito mais extensos e mortais em novembro, que atingiram um estádio, uma casa de shows, restaurantes e bares da vizinhança, tirando a vida de 130 pessoas.
O presidente François Hollande declarou que a França estava em guerra e impôs o estado de emergência nacional, que continua em vigor.
Bruxelas foi atacada em março; relatos de que os responsáveis tinham ligações com os atentados de novembro em Paris e queriam atacar primeiro Paris deixaram a impressão de que a cidade não é segura.
Tudo isso, além das tendências econômicas mais amplas que deprimiram os negócios em muitos setores voltados para o luxo, resultou em mesas vazias em alguns dos melhores e mais conhecidos restaurantes da cidade. Os animados bistrôs que atendem à clientela francesa parecem cheios; os restaurantes caros formais, muito menos.
"É uma catástrofe", disse Yannick Alléno, outro chef com três estrelas no Michelin e um dos mais inovadores de Paris, no Pavillon Ledoyen. "Tentamos nos manter positivos e espalhar a mensagem de que Paris é um destino mágico como sempre. Sim, estamos em guerra contra os terroristas, mas o mundo inteiro está em guerra contra os terroristas."
Para atrair clientes na hora do almoço, Alléno adotou um cardápio enxuto, sem entrada, mas com um prato principal perfeito: por exemplo, filé de peixe refogado, pérolas de batatas temperadas com pele de peixe seca e ravióli de pepino com ricota defumada. Um chá de algas marinhas, água mineral e café estão incluídos, mas o vinho é à parte. Por 72 euros (R$ 288), não é uma pechincha para um almoço cotidiano.
E assim o universo dos restaurantes em Paris se tornou mais complexo. Os hotéis de luxo sofrem queda de movimento por causa do medo do terrorismo e do aumento de aluguéis de apartamentos particulares, o que significa menos indicações de restaurantes pelos recepcionistas, segundo Philippe Faure, o diplomata do Ministério das Relações Exteriores encarregado de promover o turismo.
O estado de emergência faz que muitas apólices de seguro estrangeiras não cubram os viajantes de negócios à França, disse ele.
Um grande número de turistas estrangeiros que se hospedaram em apartamentos alugados, em vez de hotéis, estão seguindo a pista de alguns parisienses que usam novos serviços de entrega de refeições ou mesmo contratam cozinheiros particulares.
Os restaurantes estrelados no Michelin, especialmente os que ficam em hotéis de luxo, são os que mais sofrem. "As pessoas entram, veem que a sala está vazia e vão ao bistrô do outro lado da rua", disse Faure.
O restaurante famoso de Alain Ducasse no hotel Plaza Athénée, e Le Cinq, o restaurante de luxo no hotel George 5, dirigido pelo Four Seasons, ambos com três estrelas no Michelin, às vezes estão quase vazios. Às 13h30 de um dia recente, o restaurante do Plaza servia apenas duas mesas com duas pessoas cada; na hora do jantar em uma noite recente no Le Cinq, havia apenas duas mesas ocupadas.
"Isso está criando uma atmosfera de ansiedade e estresse para todo mundo --os chefs, os proprietários, os clientes", disse François-Régis Gaudry, crítico de restaurantes do semanário "L'Express", que come diariamente nos restaurantes parisienses.
Gaudry disse que durante um almoço recente no Le Gabriel, que tem duas estrelas no Michelin e fica no luxuoso hotel La Réserve, ficou surpreso ao ver que só um terço das mesas estavam ocupadas; no Chez L'Ami Jean, um conhecido bistrô especializado em cozinha basca, que aparece em muitos guias e blogs americanos, era ainda pior.
"Eu estive lá com um crítico de comida americano e não havia ninguém além de nós", disse ele.
Restaurantes que já tiveram listas de espera de meses, como Le Jules Verne, de Ducasse, no alto da Torre Eiffel, hoje fazem reservas com muito mais rapidez, especialmente para o almoço.
Ducasse pode cobrir parte de seus prejuízos porque tem vários restaurantes que atendem a diferentes orçamentos e tipos de clientes. O Champeaux, sua nova brasserie nos Halles, por exemplo, está lotado desde sua inauguração no mês passado, disse ele. Mas ele está preocupado com a repetida prorrogação pelo governo do estado de emergência.
"Estive em Nova York depois do 11 de Setembro e o prefeito foi perfeito --ele garantiu a todos que têm empresas lá que a vida deve continuar e o faria", disse ele. "Esta mensagem de medo aqui na França é terrível para os restaurantes e para toda a economia."
Outros chefs estão revidando com cortes nos preços. Gilles Epié, do Citrus Étoile (sem estrelas), perto do Arco do Triunfo, começou uma campanha na internet que oferece reservas antecipadas online com desconto de 30% nas refeições (mas não no vinho) para manter a clientela ativa.
Ele tinha acabado de visitar Las Vegas e ficou surpreso ao ver que os restaurantes construídos na cidade artificial de Paris lá estavam cheios. "Por isso estou dizendo a todo mundo que está na hora de vir a Paris", disse ele. "A verdadeira."
Para Faure, não há alternativa senão esperar. "É frustrante, porque é só Paris que está sofrendo", disse ele. "O resto da França --as montanhas, o mar-- está lotado. Mas não podemos criar um argumento contrário à linha oficial de que estamos em estado de emergência por causa da ameaça terrorista."
"Não há nada a fazer, exceto ter muita paciência."
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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