quinta-feira, 5 de maio de 2016

A resistível ascensão de Donald Trump
Luiz Felipe de Alencastro 
Seth Perlman/AP
A retirada da candidatura do governador de Ohio, John Kasich, logo após a desistência do senador do Texas, Ted Cruz, completou a vitória de Donald Trump nas primárias republicanas de terça feira (3) no Estado de Indiana. Não se trata apenas de uma etapa decisiva da marcha de Trump para a vitória na Convenção de Cleveland, em julho, quando será escolhido o candidato republicano à Casa Branca.
Como observou o colunista conservador Ross Douthat no "New York Times", a vitória de Trump é também uma derrota de duas correntes importantes do pensamento republicano. A primeira, formada por Jeb Bush e em seguida Marco Rubio, foi logo eliminada por Trump. Tratava-se de republicanos que pretendiam retomar parte da agenda do presidente George Bush filho, para criar uma maioria republicana na Casa Branca e no Congresso. A segunda corrente, tirada do jogo agora em Indiana junto com Ted Cruz, encarnava os valores tradicionais do campo republicano, ligados ao rigor orçamentário e ao Estado mínimo. Douthat, um renovador do pensamento republicano, não hesita em chamar Trump de "grotesco protofascista" e considera-se também um derrotado nas primárias republicanas.
Mas o problema dos republicanos vai além dos impasses gerados pela radicalização de seus eleitores e pela candidatura de Trump. Num artigo bem documentado no "Washington Post", o repórter político Chris Cillizza, que é também um bom analista político, alinha os dados das eleições americanas em mapas e tabelas para mostrar um fato significativo. Independentemente dos destemperos de Trump, os republicanos perderam o pé nos Estados americanos mais populosos e mais multiculturais. Concretamente, mesmo com Ted Cruz, os republicanos perderiam nos Estados com crescente ou já majoritária população de americanos negros, hispânicos ou de origem asiática. Os casos mais emblemáticos são a Virgínia e a Carolina do Norte, baluartes republicanos desde sempre. Obama venceu nos dois Estados em 2008 e ganhou na Virgínia em 2012. 
Reunindo muitos dados, Cillizza observa a realidade eleitoral e matemática que muito provavelmente derrubará a ascensão de Trump e levará Hillary Clinton à Casa Branca. Se Hillary vencer nos 19 Estados (e na capital federal) em que os democratas têm ganho todas as presidenciais ocorridas entre 1992 e 2012, e ainda por cima levar a Flórida, ela está eleita.
Ora, a sondagem sobre a Florida publicada no último dia 2 pelo site Politico, e comentada por Cillizza, mostra que Hillary, com 49% de intenções de voto, bateria Trump, que só alcança 36% no Estado. Se Ted Cruz, cujo pai é um refugiado cubano que só se naturalizou americano em 2005, mantivesse sua candidatura, os eleitores da Flórida, Estado com uma forte comunidade cubana-americana, também dariam a vitória a Hillary Clinton. A diferença de pontos seria menor (48-39), mas o fato preocupante para os republicanos é que sua derrota está inscrita na demografia e no novo multiculturalismo americano. 
Caso esta análise se confirme nas presidenciais de novembro, a eleição de Obama em 2008 aparecerá como o início de uma longa maioria rooseveltiana, com um partido democrata dominando duravelmente o cenário político e cultural do país. 

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