Numa única frase, o ministro da Educação conseguiu reunir três erros sobre a história do astrônomo florentino
Leandro Narloch - VEJA
O ministro da Educação precisa voltar para a escola. Na quarta-feira, comentando o projeto de lei que impede professores da rede pública de emitirem opiniões ideológicas durante a aula, Mercadante disse o seguinte:
Não podemos voltar ao tempo da Inquisição, em que Galileu Galilei foi queimado porque achava que a Terra era redonda e a ‘Fé’, não.
É difícil achar uma frase tão curta e tão cheia de mitos. Vamos lá:
- Galileu não tentava convencer ninguém de que a Terra era redonda. Isso todo mundo já sabia no século 17 (mais de um século depois da descoberta da América). O que Galileu defendia é que a Terra se move.
- Galileu não foi queimado pela Inquisição. Todo mundo sabe que, pouco antes de ser condenado pela Igreja, ele voltou atrás e jurou ter abandonado a ideia do movimento da Terra. Tampouco foi torturado ou preso em masmorras. Durante o julgamento em Roma, ficou hospedado na casa do embaixador de Toscana e, depois, em aposentos do Santo Ofício reservado a visitantes ilustres. Tinha acesso ao pátio e era servido por funcionários da casa.
- É verdade que a Igreja cometeu uma lamentável perseguição a Galileu, mas é impreciso dizer que “a Fé” não acreditava no movimento da Terra. Essa polêmica dividia opiniões dentro e fora da Igreja. O dinamarquês Tycho Brahe, o astrônomo mais conceituado na época, concordava com o movimento de todos os planetas – menos o da Terra, que para ele estava parada no centro do Universo. Na Itália, os melhores amigos de Galileu eram bispos; os dois principais opositores eram professores universitários. Ludovico delle Colombe, autor de uma crítica a Galileu chamada “Contra o movimento da Terra”, era um filósofo natural; Cesare Cremonini, que se recusou a olhar no telescópio por acreditar que Galileu era um charlatão que criava ilusões de óticas, era professor da Universidade de Pádua.
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