sexta-feira, 6 de maio de 2016

Túneis de Guerra – Rede do Hamas é desvendada
José Roitberg - Portal Menorah
A justiça israelense levantou o embargo sobre a prisão e interrogatório de Mahmoud Atouna, 29, residente de Jabaliyah na Faixa de Gaza, veterano com 10 anos de atuação nas Brigadas Izz a-Din al-Qassam, o braço militar do Hamas.
Soldados da Brigadas Izz a-Din al-Qassam em um túnel de ataque contra IsraelSoldados da Brigadas Izz a-Din al-Qassam em um túnel de ataque contra Israel
É intrigante a prisão de Atouna. Sendo ele um dos responsáveis pelo planejamento e execução da rede de túneis sob a Faixa de Gaza, tanto para o Egito quanto para Israel, ele decidiu atravessar um posto de controle para Israel, no começo de abril, armado com duas facas e segundo o depoimento dele, “disposto a matar qualquer soldado ou civil israelense que encontrasse pelo caminho”. Só que Atouna sequer tentou atacar os militares no controle de fronteira.
Oficial israelense no mesmo túnel do Hamas, já ocupado pelo IDF. O teto é feito com manilhas de concreto para o sistema de esgoto de Gaza cortadas ao meioOficial israelense no mesmo túnel do Hamas, já ocupado pelo IDF. O teto é feito com manilhas de concreto para o sistema de esgoto de Gaza cortadas ao meio
Identificado, foi preso, indiciado e interrogado. Surpreendentemente, decidiu abrir a boca e revelar praticamente tudo sobre esta que podemos considerar como a “arma secreta” do Hamas, enterrada, longe das vistas e possibilidade de vigilância. Ao invés de comemorar esta delação completa, como está ocorrendo em toda a mídia judaica e israelense, é preciso ficar com o pé no freio, parar e olhar adiante.

O Hamas ainda não se pronunciou publicamente nem sobre a prisão de Atouna, nem sobre sua mais completa traição. O que você imagina passar a ser um militar radical muçulmano quando revela tudo o que sabe para os sionistas? Nem deve haver palavras e palavrões suficientes para adjetivar tal traição pelo ponto de vista islâmico.
Se ao longo dos últimos anos o Hamas vem julgando sumariamente palestinos muçulmanos acusados de fornecer informações para Israel, imagine um de seus próprios oficiais, um de seus líderes militares, um de seus homens mais confiáveis? Do jeito que as coisas são na Faixa, toda a família e amigos de Atouna já deveriam estar presos, sendo torturados e alguns executados, mas não há indicação alguma disto estar ocorrendo.
Então, o que seria Atouna? Seria um cavalo-de-tróia? Estaria ele em uma missão de desinformação? Em toda a história militar mundial há pontos complicadíssimos de conhecimento total de governos e serviços de informações, mas jamais revelados. Como exemplo, a deserção de Rudolf Hess, o vice de Hitler, num avião para a Inglaterra, o que lhe rendeu uma prisão perpétua incomunicável até a morte dele.
Soldado do IDF guarda saída de túnel do Hamas em solo israelense.Soldado do IDF guarda saída de túnel do Hamas em solo israelense.
Segundo a mídia israelense, Atouna abriu a Caixa de Pandora e revelou muito mais que seria esperado de qualquer terrorista do Hamas na posição dele. Então vejamos:
1) Revelou todos os métodos de construção dos diversos tipos de túneis;
2) Detalhou a contabilidade dos materiais utilizados em sua construção, e agora podemos entender porque há dois dias atrás Israel interrompeu o fluxo de cimento enviado pela União Europeia para Gaza, enquanto o vice-secretário da ONU dá chiliques acusando os israelenses;
3) Detalhou o uso de residências privadas e instituições públicas como entradas e saídas para os túneis e como são feitas as escavações e remoção de material sem deixar vestígios aparentes;
4) Desenhou um mapa completo da rede de túneis que é muito mais vasta que se imaginava e não se limita a contrabando pelo Egito (onde mais de 1.200 túneis já foram descobertos e destruídos). A rede é composta por túneis de contrabando, túneis de lançamento de mísseis e morteiros (como foi visto fartamente na última Guerra de Gaza), túneis de ataque de onde tropas podem emergir tanto em Israel quanto no Egito, e principalmente um verdadeiro formigueiro construído no subsolo de toda a Faixa de Gaza, com bunkers, alojamentos completos com instalações de água e saneamento, eletricidade e ventilação, postos de comando, refeitórios, áreas de recreação, depósitos de armas, de mísseis, de explosivos e locais de fabricação mísseis. Este formigueiro permite o rápido deslocamento de tropas pelo subsolo, sem possibilidade de detecção. Na guerra anterior, uma ínfima parte deste sistema já havia sido descoberta pelas tropas do IDF que penetraram em Gaza. Fazem parte desta rede, túneis, partes de túneis e edificações, permanentemente armadilhadas com explosivos, não só para lacrar conexões, mas também para matar tropas do IDF dentro destas vias;
5) Ele também escreveu uma longa lista com nomes, funções e endereços de operativos do Hamas que trabalharam junto com ele;
6) Desenhou um mapa localizando os arsenais do Hamas, talvez isto explique os ataques aéreos levados a cabo por Israel, contra Gaza nos últimos três dias.
Você acha que isso é bom demais para ser verdade? Então saiba que poucas pessoas pensam como você ou como nós. Caso seja verdade, ao invés de ser condenado na corte de Beersheva por terrorismo, Mahmoud Atouna tem que ser elevado ao status de Herói de Israel.
MAS O HAMAS INVENTOU ESTA TECNOLOGIA?
Alguns analistas do Oriente Médio têm uma posição que os judeus, principalmente, detestam ouvir. É simples: os palestinos fazem contra os judeus de Israel, o que os judeus em Israel fizeram antes contra os ingleses, e muito tempo atrás, contra os romanos. Ações que deram certo e levaram à vitória dos judeus contra impérios gigantescos. Fato: depois das vitórias contra os romanos, os judeus foram dizimados pelo Império. Fato: ser inimigo dos judeus em momentos em que eles estão ativos militarmente e não passivos religiosamente vai levar à derrota. Todos os povos que lutaram contra os judeus nestas condições, perderam.
Detalhe de um dos túneis de Bar Kochba cavado e utilizado durante as guerras contra os romanosDetalhe de um dos túneis de Bar Kochba cavado e utilizado durante as guerras contra os romanos
Bar Kochba e seus seguidores fizeram uma rede considerável de túneis em várias partes da Judeia como forma de se esconder dos romanos, de fabricar armas e proteger arsenais e até mesmo deslocar tropas pelo subsolo de áreas rurais para dentro de cidades e aldeias. Isto é fato, os túneis estão lá em várias partes de Israel para quem se der ao trabalho de conhecer. Um dos conceitos de Bar Kochba foi utilizado pelos vietnamitas comunistas 1.900 anos depois: túneis baixos e estreitos para impedir que os soldados romanos pudessem entrar neles com suas lanças, espadas longas, escudos, capacetes e armaduras de proteção individual.
Muito antes disto, os Reis de Israel já haviam escavado túneis para abastecimento de água, saneamento de esgoto e entrada e saída secretas de Jerusalém. Assim, é meio óbvio que o Hamas esteja adotando há uns 20 anos uma tática que deu muito certo para os judeus contra seus inimigos da era Bíblica.
Diagrama sobre a Linha Maginot publicada pela impresna britânica no início dos anos trinta dá uma ideia do que era o sistema o quanto mais sofisticado deve ser o sistema sírioDiagrama sobre a Linha Maginot publicada pela impresa britânica no início dos anos trinta dá uma ideia do que era o sistema e o quanto mais sofisticado deve ser o sistema sírio
Tais sistemas militares no subsolo foram táticas fracassadas francesas com a Linha Maginot, que deveria ter detido o ataque alemão ao longo de toda a fronteira entre os dois países, mas as fortificações não se estenderam pela fronteira da Bélgica, por onde as tropas nazistas entraram. A fortificação subterrânea de dezenas de quilômetros possuía até uma ferrovia elétrica interna para transportar tropas e equipamentos.
Detalhe das fortificações subterrâneas da Ilha de Okinawa permite vislumbrar a complexidade das fortificações japonesas da Segunda Guerra MundialDetalhe das fortificações subterrâneas da Ilha de Okinawa permite vislumbrar a complexidade das fortificações japonesas da Segunda Guerra Mundial
Na Segunda Guerra Mundial os japoneses foram especialistas em construir imensas redes de fortificações subterrâneas em diversas ilhas do Pacífico, podendo manter exércitos de 20 a 30 mil homens totalmente debaixo da terra, causando perdas enormes às tropas norte-americanas. Estas fortificações eram tão extensas e complicadas que desde 1945 vira e mexe ainda aparece um soldado japonês que não tinha se rendido, não sabia que a guerra tinha acabado e foi vivendo isoladamente como último sobrevivente de sua unidade.
Diagrama simplificado dos túneis de Cu Chi, no VietnãDiagrama simplificado dos túneis de Cu Chi, no Vietnã
Durante a Guerra do Vietnã os norte-vietnamitas utilizaram esta tática de formigueiros enterrados em extensões de dezenas de quilômetros e por vezes com vários níveis diferentes de profundidade. Até mesmo hospitais de campanha ficavam enterrados.tunel rat badge us vietnaSoldado branco, rato de túnel emerge de mais uma perigosa missão, com sua 45, no Vietnã.
Soldado branco, rato de túnel emerge de mais uma perigosa missão, com sua 45, no Vietnã.
Soldado Negro, rato de túnel em Cu Chi, no Vietnã.Soldado Negro, rato de túnel em Cu Chi, no Vietnã.
Devido à diferença de estatura entre os vietnamitas e norte-americanos, os túneis eram baixos e estreitos demais para os soldados do Tio Sam, obrigando a um curioso recrutamento de pessoas pequenas e anões, para compor unidades chamadas ‘ratos de túneis’, que entravam nos formigueiros com uma lanterna numa mão e uma pistola .45 na outra. Vários destes complexos de túneis hoje são atrações turísticas por lá.

No Rio de Janeiro, o Forte de Copacabana possui um relevante sistema de bunker. Nas fotos você vê um detalhe da sala dos geradores elétricos e da enfermaria. (Fotos de Shafir)
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Após a Segunda Guerra Mundial, a União Soviética adotou o conceito de fortificações enterradas para resistir a ataques nucleares e quando passou a apoiar os países árabes levou este conceito para eles. Muita coisa no Iraque de Saddam Hussein era enterrada.
Entrada de um ex-bunker sírio no Golã
Entrada de um ex-bunker sírio no Golã
O Golã Sírio possuía uma rede enorme de colinas e montanhas transformadas em bunkers e postos de observação que custaram a vida de muitos paraquedistas do IDF tanto na Guerra dos Seis Dias, como depois na do Iom Kippur. Atualmente a principal fortificação subterrânea da Síria, uma montanha inteira feita para ser inexpugnável aos israelenses, hoje é uma das principais bases, inexpugnável como deveria das forças anti-Assad, e várias campanhas do exército sírio, com o Hezbollah e tropas russas fracassaram em retomar este ponto estratégico que não pode ser danificado ou destruído por bombardeio convencional.
Sistema clássico soviético para construção de túneis em bunkers, com anteparos para minimizar ricochetes de balas e estilhaços, num ex-bunker sírio perto de Kalkilya no GolãSistema clássico soviético para construção de túneis em bunkers, com anteparos para minimizar ricochetes de balas e estilhaços, num ex-bunker sírio perto de Kalkilya no Golã
“Há uns 15 anos atrás, eu estive numa fortificação síria destas, perto de Kalkilya e pude ver a elaborada construção com módulos metálicos pré-fabricados, todos eles com escudos por toda a volta para impedir ricochetes de balas e estilhaços e a quantidade de espaços e portinholas de armadilhas para lançamento de granadas e tiro de defesa dentro dos túneis. A escuridão é tão total que você acende uma lanterna Maglite de duas pilhas AA e ela não ilumina coisa nenhuma além da parede a sua volta imediata. Dos postos de tiro para fora da colina, a visão é perfeita e é quase impossível não atingir os soldados que se dispuserem a atacar o local. Mesmo assim na parede da sala de comando, havia pichado o símbolo dos paraquedistas do IDF, o número da unidade e a data em que tomaram o bunker”, afirma José Roitberg.
Na última guerra do Líbano, caminhão lançador de mísseis do Hezbollah, acabou de sair de sua garagem, num prédio civil, para disparar contra IsraelNa última guerra do Líbano, caminhão lançador de mísseis do Hezbollah, acabou de sair de sua garagem, num prédio civil, para disparar contra Israel
Na última Guerra do Líbano, Israel foi surpreendido com as fortificações do Hezbollah e principalmente com a tática de construir garagens para caminhões lançadores de foguetes no térreo de edifícios residenciais. Abrem-se as portas da garagem, o caminhão avança para a posição de disparo que é próxima, lança sua carga mortal, dá a ré de volta para a garagem e volta a ficar invisível. Quando Israel entendeu isso, a IAF passou a bombardear os edifícios, facilmente identificáveis por suas portas de garagem anormais, gerando enorme crítica internacional. Israel foi acusado de atacar civis libaneses, ao destruir prédios com instalações para lançadores de mísseis, enquanto o Hezbollah que lançava mísseis desguiados contra civis israelenses não era acusado de nada.
Detalhes do caminhão militar lança-mísseis instante antes de ser destruído pela IAFDetalhes do caminhão militar lança-mísseis instantes antes de ser destruído pela IAF
Dado o que vemos e não vemos na Faixa de Gaza, é de se esperar que o sistema de subsolo no Sul do Líbano e no Vale de Bekaa, seja centenas de vezes maior e mais sofisticado, pois lá, o inimigo é o próprio Estado, e pode conseguir todos os insumos e equipamentos de escavação que bem entender.

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