quinta-feira, 17 de julho de 2008

Voragem

Depois que a conheci, a beijei, a toquei, a senti e amei nada mais me satisfaz, bebo, fumo, canto, grito como um insano mas nada, nunca mais será como antes. As noites me consomem em horas de espera e vigília vã: ela não voltará. O inimigo de dentro torna o sono uma possibilidade remota e, o corpo desassossegado clama sem fim por um toque, um beijo, um algo, que venha dela, do seu corpo magro e branco, gravado no meu a ferro e a sangue. Imperativo, o desejo exige e a alma fraca como é, cede e eu me contorço em dor e saudade. pareço com um velho navio encalhado num mar de sargaços, quanto mais tento me movimentar, mais próximo do vórtice eu fico. Somos pequenos demais, somos apenas um acidente sem importância num lance de dados mal jogados. Hoje, porém, as janelas ficam abertas na esperança vã de que o cheiro das madressilvas em flor tragam um pouco do perfume daquela pequenina pétala que um dia repousou na palma da minha mão. Paulo Mello

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