Jorge Ramos - NYT
Anthony Behar/Xinhua/Zumapress
29.set.2015 - Os presidentes Raúl Castro (à esq.), de Cuba, e Barack Obama, dos EUA, em aperto de mãos na sede da ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York
O papa Francisco e o presidente Barack Obama parecem ser, por enquanto, os melhores amigos da ditadura cubana. Os dois líderes decidiram, por razões diferentes, cooperar e aliar-se com o regime que durante mais de meio século reprimiu e censurou milhões de cubanos.
Cuba, que tem como política de
Estado a constante violação dos direitos humanos, está no lado errado da
história. E o papa e Obama decidiram ficar do lado do ditador Raúl
Castro. Talvez Obama e o papa sejam muito mais inteligentes que nós e o
façam com o objetivo de democratizar e humanizar a ilha por meio de mais
contatos. Mas, se for esse o objetivo, estão fazendo segredo.
O presidente Obama planeja viajar a Cuba no final de março. Será seu momento tipo Nixon. O ex-presidente Richard Nixon, com a valiosa ajuda de seu enxadrista planetário Henry Kissinger, viajou à China em 1972 e abriu o gigante asiático ao resto do mundo. Com esse gesto, Nixon não transformou a China em uma democracia, da mesma maneira que a viagem de Obama não imporá à ilha a liberdade de imprensa, eleições multipartidárias e a libertação dos presos políticos. Mas, sem dúvida, a estratégia em longo prazo tem que ser muito mais ambiciosa do que a de abrir duas embaixadas.
Espero, realmente, entrevistar Obama dentro de alguns anos e que ele me diga que seu plano secreto sempre foi a democratização de Cuba e que, apesar das duras críticas do momento, teve razão com sua política de abertura. Não há nada mais triste do que ver um ditador morrer em sua cama e não na prisão (como ocorreu com Augusto Pinochet no Chile e Francisco Franco na Espanha).
Quanto ao papa Francisco, foi uma verdadeira desilusão para os que querem uma mudança em Cuba. Ele esteve duas vezes na ilha, e nas duas tratou Raúl e Fidel como se fossem dois legítimos governantes (e não os impiedosos bandidos e tiranos que são). Como é frustrante ouvir o papa chamar o ditador de presidente!
Durante sua visita em setembro passado, foi vergonhoso ver como prenderam diante de seus olhos um dissidente cubano que quis se aproximar e o papa Francisco não fez absolutamente nada para protegê-lo. O jovem acabou no chão, submetido pelos "segurosos" (membros da segurança do Estado em trajes civis). O papa em Cuba se recusou a reunir-se com dissidentes como as Damas de Branco e com jornalistas independentes como Yoani Sánchez.
O papa que falou tão forte nos Estados Unidos contra os maus-tratos aos imigrantes e os abusos do sistema capitalista não se atreve a fazer a mesma crítica social na América Latina. Parece-me incompreensível que em sua recente visita ao México o papa não tivesse tempo para se reunir com as vítimas de padres pedófilos ou com os familiares dos 43 jovens desaparecidos em Ayotzinapa. Em troca, sim, encontrou-se com governadores de Estados onde mataram jornalistas, como Veracruz, e onde se toleram os assassinatos de mulheres, como o Estado do México.
O papa conhece perfeitamente o drama dos desaparecidos durante a ditadura militar na Argentina, que sofreu na própria carne. Então por que deu todo tipo de desculpa para mais ou menos explicar que não faria o moralmente correto no México? E a solidariedade?
Retornando ao assunto de Cuba, o papa e o presidente Obama podem fazer muito para promover uma transição democrática na ilha. Mas suas imagens dando a mão ao ditador são um duro golpe para os que passaram a vida lutando para viver sem medo.
Eu gostaria de ir a Cuba durante a próxima viagem de Obama. Mas o governo cubano proibiu minha entrada desde 1998, quando o papa João Paulo 2º esteve lá. Não gostaram que, naquela época, eu tenha entrevistado dissidentes e jornalistas independentes.
Se é verdade que Cuba está se abrindo para o mundo, a primeira coisa que o regime poderia fazer é retirar as restrições aos correspondentes estrangeiros e não tentar impor sua agenda à imprensa mundial. Gostaria de ver como Cuba mudou e se suas autoridades hoje são mais tolerantes. Mas temo que, mais uma vez, terei que ver o que acontece em Cuba pela televisão e pela internet.
"Cuba libre"? Em qualquer bar do mundo se sabe que isso é uma mentira.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
O presidente Obama planeja viajar a Cuba no final de março. Será seu momento tipo Nixon. O ex-presidente Richard Nixon, com a valiosa ajuda de seu enxadrista planetário Henry Kissinger, viajou à China em 1972 e abriu o gigante asiático ao resto do mundo. Com esse gesto, Nixon não transformou a China em uma democracia, da mesma maneira que a viagem de Obama não imporá à ilha a liberdade de imprensa, eleições multipartidárias e a libertação dos presos políticos. Mas, sem dúvida, a estratégia em longo prazo tem que ser muito mais ambiciosa do que a de abrir duas embaixadas.
Espero, realmente, entrevistar Obama dentro de alguns anos e que ele me diga que seu plano secreto sempre foi a democratização de Cuba e que, apesar das duras críticas do momento, teve razão com sua política de abertura. Não há nada mais triste do que ver um ditador morrer em sua cama e não na prisão (como ocorreu com Augusto Pinochet no Chile e Francisco Franco na Espanha).
Quanto ao papa Francisco, foi uma verdadeira desilusão para os que querem uma mudança em Cuba. Ele esteve duas vezes na ilha, e nas duas tratou Raúl e Fidel como se fossem dois legítimos governantes (e não os impiedosos bandidos e tiranos que são). Como é frustrante ouvir o papa chamar o ditador de presidente!
Durante sua visita em setembro passado, foi vergonhoso ver como prenderam diante de seus olhos um dissidente cubano que quis se aproximar e o papa Francisco não fez absolutamente nada para protegê-lo. O jovem acabou no chão, submetido pelos "segurosos" (membros da segurança do Estado em trajes civis). O papa em Cuba se recusou a reunir-se com dissidentes como as Damas de Branco e com jornalistas independentes como Yoani Sánchez.
O papa que falou tão forte nos Estados Unidos contra os maus-tratos aos imigrantes e os abusos do sistema capitalista não se atreve a fazer a mesma crítica social na América Latina. Parece-me incompreensível que em sua recente visita ao México o papa não tivesse tempo para se reunir com as vítimas de padres pedófilos ou com os familiares dos 43 jovens desaparecidos em Ayotzinapa. Em troca, sim, encontrou-se com governadores de Estados onde mataram jornalistas, como Veracruz, e onde se toleram os assassinatos de mulheres, como o Estado do México.
O papa conhece perfeitamente o drama dos desaparecidos durante a ditadura militar na Argentina, que sofreu na própria carne. Então por que deu todo tipo de desculpa para mais ou menos explicar que não faria o moralmente correto no México? E a solidariedade?
Retornando ao assunto de Cuba, o papa e o presidente Obama podem fazer muito para promover uma transição democrática na ilha. Mas suas imagens dando a mão ao ditador são um duro golpe para os que passaram a vida lutando para viver sem medo.
Eu gostaria de ir a Cuba durante a próxima viagem de Obama. Mas o governo cubano proibiu minha entrada desde 1998, quando o papa João Paulo 2º esteve lá. Não gostaram que, naquela época, eu tenha entrevistado dissidentes e jornalistas independentes.
Se é verdade que Cuba está se abrindo para o mundo, a primeira coisa que o regime poderia fazer é retirar as restrições aos correspondentes estrangeiros e não tentar impor sua agenda à imprensa mundial. Gostaria de ver como Cuba mudou e se suas autoridades hoje são mais tolerantes. Mas temo que, mais uma vez, terei que ver o que acontece em Cuba pela televisão e pela internet.
"Cuba libre"? Em qualquer bar do mundo se sabe que isso é uma mentira.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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