quarta-feira, 27 de abril de 2016

À espera do novo governo
Ricardo Noblat - O Globo
O governo renunciou à defesa do mandato da presidente Dilma depois que a Câmara dos Deputados, há uma semana, aprovou o pedido de impeachment contra ela.
Nada mais fez desde então. Nada mais parece dispor-se a fazer, fora repetir o discurso de que impeachment é golpe. Está à espera de um milagre. Ou de uma improvável reação das ruas.
As ruas estão calmas. Há pequenas manifestações promovidas aqui e acolá pelo PT e por movimentos sociais financiados por generosas verbas do governo. E por enquanto é só.
A essa altura, a aposta em uma reação indignada de governos de outros países, inconformados com uma possível ameaça à democracia brasileira, revela-se inócua. Uma aposta perdida.
Dilma pôde, livremente, viajar ao exterior, transferir o exercício da presidência para seu vice, a quem acusa de golpista, voltar e reassumir o cargo.
Em 1960, por exemplo, quando o presidente Jânio Quadros renunciou depois de governar por seis meses, o vice João Goulart só assumiu o cargo porque concordou com a mudança do regime.
O presidencialismo foi extinto por exigência dos militares contrários à posse de Jango. Aprovou-se às pressas o regime parlamentarista. Que um ano mais tarde seria revogado.
O governo nada tem de novo a oferecer aos 81 senadores que a partir de hoje começarão a julgar Dilma. Nenhum argumento que já não tenha usado. Nenhuma vantagem pessoal além das previsíveis.
Nem sequer algum tipo de esperança de que amanhã será um novo dia caso o Senado se recuse a cassar o mandato da presidente. Não pode acenar com esperança quem não a tem mais.
O calendário do impeachment será cumprido em obediência ao Supremo Tribunal Federal. Até o próximo dia 12, o Senado decidirá pela admissibilidade do processo de impeachment.
Em seguida, Dilma será obrigada a se afastar do cargo. Num prazo de 180 dias, o Senado a julgará por crime de responsabilidade. De fato, o julgamento deverá acontecer antes do fim de junho.
Com o afastamento de Dilma do cargo, haverá de pronto um novo governo encabeçado pelo vice Michel Temer. E desde logo, uma oposição furiosa que lhe será movida pelo PT e demais derrotados.
Vida que segue.
Michel Temer, vice-presidente da república (Foto: Pedro Kirilos / Agência O Globo)Michel Temer, vice-presidente da república (Foto: Pedro Kirilos / Agência O Globo) 

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