Bate o desespero
O senador
petista Lindebergh Farias está de volta aos tempos de líder estudantil,
com manobras regimentais as mais rasteiras, com o objetivo de provocar
reações da oposição. O sentido desse comportamento dos senadores da
situação não é outro senão ganhar tempo para que o julgamento da
aceitação do processo do impeachment demore o mais possível.
Não que
isso vá mudar o rumo dos acontecimentos, pois dificilmente essa maioria
que já existe será desfeita, mas qualquer dia a mais além dos 15 que lhe
restam na presidência da República permite à presidente Dilma a chance
de continuar dando vazão à sua obsessão, que é denunciar um suposto
golpe de que estaria sendo vítima.
Ela e o PT estão montando uma
narrativa que dará suporte, mais adiante, à campanha que a presidente
tentará organizar a partir de seu exílio no Palácio Alvorada, onde
permanecerá durante seu afastamento do cargo, cuja decisão final pode se
dar em até 180 dias após o impeachment ser admitido no Senado.
O
projeto petista, por enquanto, é manter viva a chama da revolta contra o
impeachment, mas até mesmo antes da decisão do Senado a presidente pode
ser questionada no próprio Supremo por suas atitudes. Já existem
parlamentares dispostos a pedir que ela seja proibida de acusar a Câmara
dos Deputados de golpista, depois que a decisão oficial foi tomada pela
ampla maioria de seus membros.
Continuando nessa toada, ela estará
infringindo a Constituição e cometendo novos crimes de responsabilidade
por tentar impedir a atuação dos poderes Legislativo e Judiciário.
Teremos
então a tentativa petista de montar um governo paralelo a partir do
Alvorada, apoiado pelos movimentos sociais. A presidente Dilma pretende
inclusive ter acesso a aviões da FAB para deslocamentos pelo país, e é
previsível que tenhamos uma disputa judicial em torno dos direitos e
deveres de uma presidente afastada.
Provavelmente o Supremo Tribunal
Federal será chamado a decidir, por exemplo, se Dilma poderá se
manifestar publicamente sobre o governo do presidente em exercício
Michel Temer. E se poderá criticá-lo livremente, usando imóveis do
governo e utilizando-se de aviões oficiais para suas viagens políticas.
Outra
questão que certamente o STF terá que enfrentar será a regulamentação
das facilidades que serão colocadas à disposição da presidente afastada.
Não há legislação a esse respeito, e caberá ao Supremo definir os
limites de atuação da presidente nesse período de 180 dias, findos os
quais ela poderia voltar ao cargo se o julgamento não estiver terminado.
Dificilmente,
porém, o PT e seus cada vez menos associados partidários conseguirão
retardar o processo a ponto de não estar concluído em seis meses.
Se
o parâmetro for o processo de Collor, como tem sido nos ritos do
Congresso, assessores próximos do então presidente quando este foi
impichado relembram que lhe foi negado um imóvel oficial – pensou-se
inicialmente na cessão da Granja do Riacho Fundo – e o apoio de
assessores.
Collor permaneceu na Casa da Dinda, e despachava de um
escritório improvisado na garagem. O processo durou em torno de quatro
meses. Um futuro governo de Michel Temer terá pela frente, portanto, uma
oposição minoritária no Congresso, e movimentos sociais tentando
conturbar o país.
Resta saber se a disposição desses movimentos se
manterá sem as verbas oficiais que os alimentam, e mais ainda se o
interesse político do PT será mesmo apoiar uma presidente afastada e em
julgamento. Certamente o PT e os movimentos sociais que orbitam em torno
dele terão que arcar com as consequências de suas ações, pois o país
está ladeira abaixo.
Caberá ao novo governo manter o apoio da
maioria do Congresso para não apenas aprovar as medidas necessárias à
retomada do crescimento econômico, como também mostrar-se robusto
politicamente para resistir às investidas da minoria barulhenta que
tentará, por todas as maneiras, colocar-lhe obstáculos.
Para resistir
a esses previsíveis passos, o governo terá também que conquistar uma
popularidade que hoje o vice Michel Temer não tem. E que as medidas a
serem adotadas não facilitarão.
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