DIOGO BERCITO - FSP
Mas, dentro do território que inclui partes da Síria e do Iraque, o EI
não se comunica via internet. O acesso à rede é restrito mesmo aos
militantes. Cada vez mais totalitária, essa organização controla os
meios na região e força ao público a sua versão dos fatos.
Esse é um dos temas de estudo de Charlie Winter, pesquisador na
Universidade do Estado da Geórgia, nos Estados Unidos. Em entrevista à Folha, ele falou sobre o EI que existe além da internet.
"A imprensa só tem acesso ao que está na internet, mas esse material é justamente produzido para nós, para nos antagonizar", diz.
Winter estuda, por exemplo, um semanário impresso pela facção, e também sua estação de rádio. Há ainda, segundo o pesquisador, centros de informação —como quiosques— aos quais moradores do território recorrem com um pendrive em mãos para baixar fotografias e vídeos de ações militares.
Os chamados "pontos de mídia" começaram como um experimento. A agência de notícias do EI cita ao menos 25 deles na cidade de Mossul, no Iraque.
BLECAUTE
"Há uma mensagem totalitária para reduzir a oposição", diz Winter. "Isso é feito por meio do controle da comunicação. Eles controlam a opinião pública e impedem, assim, que haja reações orgânicas à sua presença."
A estratégia consiste em eliminar todas as alternativas de informação. Satélites têm sido removidos na região controlada pelo EI, e descritos como um inimigo dentro desse autoproclamado califado.
No caso do rádio, segundo Winter, a organização terrorista combate estações rivais transmitindo na mesma frequência, mas com um sinal mais potente.
Esse tipo de estratégia deve intensificar-se nos próximos meses, se o EI continuar a perder territórios, como aconteceu recentemente com as cidades de Palmira, na Síria, e Ramadi, no Iraque. Ambas foram derrotas simbólicas aos militantes.
A propaganda offline do EI tem como uma de suas metas reforçar seu controle no território conquistado. O material divulgado pela internet, por sua vez, busca seduzir futuros militantes.
Longe dali, em países como Tunísia e Bélgica, jovens se iludem com a ficção de que, na rede, não encontram fronteiras. Militantes decidem viajar à Síria e ao Iraque para, na sequência, unir-se ao grupo.
"A mensagem on-line é uma versão idealizada, ou falsa, da realidade", disse à Folha o diplomata americano Alberto Fernandez, que chefiou de 2012 a 2015 o Centro para Comunicações Estratégicas de Contraterrorismo, ligado ao Departamento de Estado dos EUA.
Ele estima que, no contexto atual de derrotas do EI, a comunicação interna ganhará mais força.
"Eles precisam gerenciar as notícias ruins e explicar por que estão perdendo", diz. "Isso é especialmente verdadeiro para uma organização cuja narrativa é baseada na ideia de uma vitória garantida por Deus", diz Fernandez.
Mas monitorar esse tipo de comunicação fora da internet é um desafio para pesquisadores. Uma saída é observar o que o EI diz na internet sobre a propaganda off-line. Além disso, diz Fernandez, governos "monitoram estações de rádio e canais de TV".
Omar Sanadiki/Reuters | ||
Bandeira síria aparece ao lado de slogan do Estado Islâmico em Palmira, retomada pelo regime |
"A imprensa só tem acesso ao que está na internet, mas esse material é justamente produzido para nós, para nos antagonizar", diz.
Winter estuda, por exemplo, um semanário impresso pela facção, e também sua estação de rádio. Há ainda, segundo o pesquisador, centros de informação —como quiosques— aos quais moradores do território recorrem com um pendrive em mãos para baixar fotografias e vídeos de ações militares.
Os chamados "pontos de mídia" começaram como um experimento. A agência de notícias do EI cita ao menos 25 deles na cidade de Mossul, no Iraque.
BLECAUTE
"Há uma mensagem totalitária para reduzir a oposição", diz Winter. "Isso é feito por meio do controle da comunicação. Eles controlam a opinião pública e impedem, assim, que haja reações orgânicas à sua presença."
A estratégia consiste em eliminar todas as alternativas de informação. Satélites têm sido removidos na região controlada pelo EI, e descritos como um inimigo dentro desse autoproclamado califado.
No caso do rádio, segundo Winter, a organização terrorista combate estações rivais transmitindo na mesma frequência, mas com um sinal mais potente.
Esse tipo de estratégia deve intensificar-se nos próximos meses, se o EI continuar a perder territórios, como aconteceu recentemente com as cidades de Palmira, na Síria, e Ramadi, no Iraque. Ambas foram derrotas simbólicas aos militantes.
A propaganda offline do EI tem como uma de suas metas reforçar seu controle no território conquistado. O material divulgado pela internet, por sua vez, busca seduzir futuros militantes.
Longe dali, em países como Tunísia e Bélgica, jovens se iludem com a ficção de que, na rede, não encontram fronteiras. Militantes decidem viajar à Síria e ao Iraque para, na sequência, unir-se ao grupo.
"A mensagem on-line é uma versão idealizada, ou falsa, da realidade", disse à Folha o diplomata americano Alberto Fernandez, que chefiou de 2012 a 2015 o Centro para Comunicações Estratégicas de Contraterrorismo, ligado ao Departamento de Estado dos EUA.
Ele estima que, no contexto atual de derrotas do EI, a comunicação interna ganhará mais força.
"Eles precisam gerenciar as notícias ruins e explicar por que estão perdendo", diz. "Isso é especialmente verdadeiro para uma organização cuja narrativa é baseada na ideia de uma vitória garantida por Deus", diz Fernandez.
Mas monitorar esse tipo de comunicação fora da internet é um desafio para pesquisadores. Uma saída é observar o que o EI diz na internet sobre a propaganda off-line. Além disso, diz Fernandez, governos "monitoram estações de rádio e canais de TV".
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