Cenário intermediário
Merval Pereira - O Globo
Para Octavio Amorim Neto, nesse cenário
positivo a política econômica deverá satisfazer as expectativas do
mercado, “gerando um choque de credibilidade à la Macri na Argentina”. O
novo presidente aproveita a curta lua de -mel que terá para propor
reformas que apontem para a estabilização da economia e a retomada do
crescimento no médio prazo.
Fundamental para a materialização do
cenário otimista, ressalta Amorim Neto, “é o não envolvimento do novo
presidente na Lava-Jato. O contrário seria simplesmente devastador”.
Além disso, o processo de impugnação da chapa Dilma-Temer não pode
prosperar no TSE. Temer deve também saber se distanciar de Eduardo Cunha
e lidar de maneira rápida e íntegra com os ministros que venham a ser
denunciados em casos de corrupção.
O cenário otimista requer também
que o PT e os movimentos sociais não consigam deslegitimar e
desmoralizar a nova presidência de Temer. “Será muito importante que o
novo governo saiba lidar com os protestos de rua que aqueles atores
certamente organizarão”.
Para tanto, analisa Amorim Neto, Temer
deverá utilizar com destreza seus principais ativos: sua moderação e
paciência, o lastro que lhe dá sua base estadual paulista, sua
influência sobre o PMDB e seu conhecimento de direito constitucional.
Além disso, para manter unida sua coalizão governativa, precisará emitir
sinais que deem credibilidade à promessa de não se candidatar à
reeleição em 2018, reassegurando o PSDB, e saber satisfazer e,
simultaneamente, dar claros limites à poderosa direita varejista (PSD,
PP, PR, PTB e PRB) presente em sua administração.
“Ou seja, a chave
para o cenário otimista é a criação de um bom ambiente negocial que
facilite a implementação de amplas reformas econômicas”. Sob esse
cenário, o PIB começa a ressuscitar no segundo semestre de 2016 e, em
2017, a popularidade de Temer inicia uma trajetória ascendente.
Adicionalmente, nessa análise de Amorim Neto, o PMDB e seus aliados têm
um desempenho aceitável nas eleições municipais de outubro de 2016.
Já
no cenário intermediário, verifica-se um começo caótico como o da
presidência de Itamar Franco em 1992. Temer encontra grandes
dificuldades para imprimir uma ação coerente aos ministros e solidificar
sua base parlamentar. “Consequentemente, o apoio político do governo no
Congresso não será tão grande quanto o esperado sob o cenário otimista,
mas o novo presidente logra, pelo menos, formar uma maioria absoluta”,
analisa Amorim Neto.
De maneira complementar, o receio da queda de
mais um chefe de Estado estimula a cooperação interpartidária na
aprovação de apenas algumas medidas importantes para enfrentar a crise
econômica. Tal como sob o cenário otimista, Temer não é envolvido na
Lava-Jato e nem o processo de impugnação da chapa Dilma-Temer prospera
no TSE. O PT e os movimentos sociais tentam deslegitimar o governo, mas
são enredados em suas contradições e enfraquecidos pelo fracasso do
governo Dilma.
“Um desempenho frustrante, mas não desolador,
caracteriza o resultado do PMDB e dos seus aliados no pleito municipal
de 2016. Ao fim e ao cabo, Temer consegue se equilibrar, mas sem ter
força política suficiente para avançar com amplas reformas”. Nesse caso,
a economia apenas sai da UTI, e Temer vai capengando até o final de
2018.
Por último, o cenário pessimista de Octavio Amorim Neto implica
a reiteração do padrão verificado sob Dilma, isto é, “uma mistura
explosiva de paralisia decisória, rejeição do governo pelo eleitorado e
contaminação mútua entre crise política e crise econômica”.
Na
análise de Amorim Neto, o envolvimento do alto escalão do governo em
escândalos de corrupção, seguido de respostas equivocadas pelo
presidente ajudam a piorar o cenário, e a oposição se revela vigorosa no
Congresso e nas ruas, gerando uma aguda crise de legitimidade para o
Executivo. O atoleiro econômico continua, levando em consequência Temer à
renuncia ou à destituição.
Para Octavio Amorim Neto, a essa altura,
é difícil crer na prevalência do exigente cenário otimista. Entretanto,
é duvidoso que Temer caia”. Assim, ele acredita que o cenário
intermediário parece ter a mais alta probabilidade.
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