domingo, 26 de fevereiro de 2012

O GOVERNO BRASILEIRO E A CACA FEITA NA ANTÁRTICA

Carência de recursos prejudica programa antártico
CLAUDIO ANGELO - FSP
O glaciologista Jefferson Simões, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, resume de forma melancólica a situação do Programa Antártico Brasileiro ao completar 30 anos: "Um navio quebrado em Punta Arenas, uma barca afundada e uma estação que pegou fogo."
Embora não seja possível atribuir uma causa estrutural ao fogo na base de Ferraz -incêndios em estações de pesquisa na Antártida são relativamente comuns-, o programa sofre de uma carência crônica de recursos.
Panes no Navio de Apoio Oceanográfico Ary Rongel, que está desde dezembro no Chile refazendo seu motor principal, têm sido contumazes. Em 2008, um Hércules da FAB que presta serviços ao programa também teve problemas, deixando cientistas e parlamentares isolados na ilha Rei George por dias.
"Sei que a Marinha faz de tudo para que o navio tenha manutenção, mas os cortes orçamentários também os atingem", diz Janice Trotte Duha, coordenadora de Mar e Antártida do Ministério da Ciência e Tecnologia.
A pesquisa polar brasileira tem no subfinanciamento sua maior tradição. De 1982, quando o Proantar começou, a 2005, foram gastos R$ 25 milhões em ciência. Para comparação, a China gastou em 2008 US$ 11 milhões em pesquisa e US$ 100 milhões numa estação nova.
A situação brasileira chegou a seu nível mais crítico em 2002, quando o orçamento do CNPq para o Proantar foi zero e a pesquisa só pôde continuar graças a uma injeção de dinheiro do Ministério do Meio Ambiente.
A maré começou a mudar em 2008, quando o Congresso formou uma frente parlamentar da Antártida, garantindo verba de emendas parlamentares. Já naquele ano, a Marinha alertou o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a penúria logística do Proantar.
Em 2009, o MCT injetou R$ 10 milhões dos fundos setoriais para bancar projetos de pesquisa do Ano Polar Internacional. Comprou-se um navio polar novo, o Almirante Maximiano, o Max, que estreou em 2009 (na ocasião, o Ary Rongel teve outra pane).
Com as novas verbas, a ciência antártica brasileira pôde crescer. Mas a verba da Marinha não acompanhou. O Max até hoje não está totalmente equipado. E a Marinha afirma, num documento que circula entre os envolvidos no Proantar, que Ferraz precisava de uma "reavaliação".
No ano passado, o programa voltou a seu orçamento usual. Em 2012, terá apenas R$ 1 milhão para ciência.
Trotte Duha, do MCT, diz que mesmo após o acidente o Proantar ainda pode dar a volta por cima. "Mas vamos precisar de apoio do Estado."

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