Mundo ocidental está nas mãos de Obama e Merkel?
John Kornblum - Herald Tribune
As nações ocidentais estão enfrentando um declínio econômico? É difícil dizer. Muito depende de duas pessoas muito diferentes em lados opostos do Atlântico, Barack Obama e Angela Merkel. O destino depositou grande parte do futuro do mundo ocidental nas mãos deles.
O papel de liderança do presidente americano é praticamente algo já esperado. A Alemanha, por outro lado, é inexperiente e está desconfortável no papel de lider, assumido agora, mas sua força industrial e de logística a transformaram em um dos países vencedores da globalização. No que envolve a Europa, a Alemanha está no comando. E a Alemanha cada vez mais fala com uma voz única, a de Angela Merkel.
E assim o filho de um acadêmico queniano itinerante e a filha de um pastor luterano que cresceu na Alemanha Oriental comunista se veem encarregados da tarefa de resgatar o capitalismo.
A formação deles não poderia ser mais diferente, mas ambos são forasteiros. Nenhum deles vem da elite tradicional de liderança. Nenhum deles tem facilidade de comunicação, como Bill Clinton ou Helmut Kohl.
Na verdade, eles parecem ter dificuldade até mesmo para conversarem um com o outro. Em vez da cordialidade de, digamos, Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev, Obama e Merkel precisam fazer força para encontrar um ponto em comum. Para piorar ainda mais, cada um deles enfrenta problemas econômicos e políticos gigantescos não criados por eles. Nem o Congresso americano e nem a União Europeia parecem encontrar força, ou talvez sabedoria, para tomar as decisões necessárias para recolocar as coisas em ordem.
E de um modo estranhamente idêntico, cada um deles parece incapaz de aproveitar o momento em que se encontram. Obama tomou posse prometendo um novo início, mas seus sonhos foram destruídos pela crise econômica e pela revolta dos eleitores. Sua política de consenso –ou liderar de trás, como dizem parte daqueles que o apoiam– tem sido bloqueada continuamente pela não disposição da oposição de encontrar um meio-termo.
Merkel é uma física que cresceu em uma atmosfera de medo e desconfiança. Ela odeia “visões” e apenas relutantemente toma algum tipo de iniciativa. Seus pontos de vista econômicos são influenciados tanto pelo passado da Alemanha quanto seu futuro. Mas ela é uma crente devota no futuro de uma Europa democrática.
Ela se irrita com os repetidos pedidos de Obama por ação, alegando que ele simplesmente não entende o que ela enfrenta toda vez que tenta encontrar consenso entre 27 países. Ele, por sua vez, considera incompreensível que Merkel não veja quão desesperadamente uma ação decisiva é necessária para colocar um fim à crise do euro e evitar um colapso fiscal global.
Obama teme que um colapso do euro poderia lhe custar a reeleição. Merkel está preocupada que a exigência americana para que a Europa gaste mais para ajudar as economias fracas possa levar a uma inflação desenfreada e enfraquecer a democracia europeia.
Ironicamente, nenhum está realmente em apuros politicamente. Merkel quase certamente será reeleita em 2013, em um campo sem concorrentes reais. Obama às vezes parecia estar enfraquecendo, mas um crescimento renovado e o desarranjo republicano parecem estar atuando fortemente em seu favor.
Isso significa que eles poderiam arriscar adotar medidas decisivas se tivessem motivação interna. Merkel poderia se erguer acima do pantanal de ideologia da UE e exigir uma nova espécie de partilha de receita europeia, o que asseguraria a estabilidade para a Grécia e outros. Obama poderia transmitir uma forte mensagem de reforma que silenciaria seus críticos, ao colocar o governo americano na estrada da responsabilidade fiscal. Uma comissão nomeada por ele para esse fim lhe deu um excelente ponto de partida bipartidário; suas recomendações foram ignoradas.
A história recente nos recorda de quão importantes as amizades políticas podem ser para ajudar a desenvolver determinação em tempos de crise. Franklin D. Roosevelt e Winston Churchill são um exemplo, assim como George H.W. Bush, Kohl e Gorbachev. Desta vez, nós parecemos fadados a depender mais de cálculos políticos frios em vez da amizade entre os líderes.
Seria este um acidente histórico infeliz? Não necessariamente. Por mais frustrantes que suas abordagens possam ser, Merkel e Obama representam um novo tipo de comunidade atlântica, unida mais por interesses econômicos frios do que por visões de tempos passados. A Europa e os Estados Unidos se veem no meio de um “reset” fundamental de seus sistemas econômicos e sociais, algo que não pode ser promovido com um telefonema ou dois.
Em vez de lamentar as deliberações de nossos líderes, nós provavelmente deveríamos ser gratos por mesmo não sendo amigos, eles trabalharem juntos de modo cuidadoso e honesto. Nós continuaremos nos perguntando como Obama e Merkel lidarão com os demônios que seus papéis singulares despertaram, e torcer para que tenham sucesso em superá-los. Mas em momentos como este, a falta de emoção provavelmente não é tão ruim.
*John Kornblun, advogado sênior do escritório de direito internacional Noerr LLP, em Berlim, serviu como embaixador da Alemanha nos Estados Unidos de 1997 a 2001.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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