sábado, 25 de fevereiro de 2012

UMA GUERRA IMINENTE?

Retórica de Israel desperta medo de que 'blefe' escape ao controle
MARCELO NINIO - FSP
Apesar das dificuldades militares da operação, da resistência dos EUA em apoiá-la e das temíveis consequências, a escalada retórica de Israel aumentou a sensação no país de que um ataque às instalações nucleares iranianas é questão de meses.
A maioria dos analistas israelenses admite estar no escuro: trata-se de um blefe para intimidar Teerã e aumentar a pressão internacional sobre o regime dos aiatolás? Ou desta vez é sério?
Só dois homens parecem ter a resposta para o enigma: o primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, e o ministro da Defesa, Ehud Barak.
Suas declarações cada vez mais fatalistas não apenas convenceram muita gente no país de que a ofensiva está próxima, mas despertaram o temor de que o blefe escape ao controle de seus autores.
"Meu maior medo não é uma guerra intencional, que não interessa a nenhum dos lados", disse à Folha David Menashri, um dos maiores especialistas em Irã de Israel.
"Ao longo da história, guerras com frequência começaram não com decisões e intenções, mas por erros de cálculo e de interpretação."
A percepção de que o ataque é iminente tem sido alimentada por Ehud Barak. Para ele, o programa nuclear iraniano está prestes a entrar numa "zona de imunidade", na qual será impossível contê-lo militarmente.
"Se as sanções não alcançarem o objetivo de parar o programa de armas nucleares iraniano, haverá a necessidade de uma operação [militar]", disse no início do mês o ministro israelense.
A "zona de imunidade" a que Barak se refere é a transferência das atividades nucleares iranianas para abrigos subterrâneos protegidos, como a instalação de Fordo, perto de Qom (centro-norte).
Por sua vez, Netanyahu costuma comparar o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, a Adolf Hitler (1889-1945) e descreve o programa nuclear persa como "ameaça existencial" para Israel.
Não é à toa que a maioria dos israelenses considera uma possível bomba atômica iraniana um pesadelo. Ainda assim, fica aberta a questão central do dilema: o que é mais perigoso para Israel, um Irã nuclear ou as consequências que o ataque ao país persa trariam?
Para o analista Ephraim Kam, coronel da reserva que serviu durante anos na inteligência do Exército israelense, tudo depende da eficácia do ataque, outro elemento bastante difícil de prever.
"Se ele for capaz de atrasar o avanço iraniano em direção à bomba em cinco ou seis anos, acho que vale a pena o risco", diz Kam. "Não tenho dúvidas de que o Irã reagiria, com seus próprios mísseis ou também com ataques do [palestino] Hamas e do [libanês] Hizbollah. Seria uma fase difícil, mas Israel suportaria."
Nos últimos meses, uma romaria de autoridades dos EUA passou por Jerusalém, com o intuito de convencer o governo de que existe espaço para pressão política antes da opção militar.
David Menashri concorda. "Desde a Revolução Islâmica, sempre que houve choque entre os interesses do Estado e a ideologia do regime, o governo optou por soluções racionais e pragmáticas."

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