Proantar, 30
FSP -Editorial
O Programa Antártico Brasileiro (Proantar) completa 30 anos em clima de consternação. O incêndio que destruiu 70% da Estação Comandante Ferraz e causou as mortes do suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo e do primeiro-sargento Roberto Lopes dos Santos, ambos da Marinha, lança o programa no limbo da incerteza.
A base brasileira de pesquisas inaugurada em 1984 não é supérflua, como poderia parecer à primeira vista. O Brasil é um país tropical, mas também o sétimo mais próximo do continente gelado.
Ali se originam as frentes frias que afetam as colheitas no Sul e Sudeste, sobretudo. Estudar a meteorologia antártica é crucial para entender o tempo por aqui.
Além disso, a realização de pesquisas perenes é precondição para o país permanecer como membro pleno do Tratado da Antártida (1959), que suspendeu todas as reivindicações territoriais sobre o continente austral e reservou-o exclusivamente para fins pacíficos.
Nas suas três décadas, o Proantar permitiu a formação de centenas de cientistas e bom acervo de estudos. O Brasil não pode ser considerado, contudo, um líder mundial em investigações antárticas. Seus objetivos são pouco ambiciosos, e o financiamento, irregular.
Até aqui, o grosso da pesquisa realizada por equipes nacionais restringiu-se à periferia do continente. A base brasileira fica na ilha Rei George, na ponta da península Antártica -a língua de terra gelada que se projeta em direção ao extremo sul da América. As condições climáticas ali são amenas, em comparação com os rigores enfrentados no interior da Antártida, e muito pouco representativas do continente como um todo.
As pesquisas, além de modestas, padecem com intempéries orçamentárias em Brasília. As verbas oscilam demais: em anos como 2006 e 2009, a dotação pode ultrapassar R$ 30 milhões (cifra diminuta, diante de gigantes como EUA e Rússia), e depois cair para R$ 10,7 milhões, como neste ano. Em 2002, eram R$ 2,7 milhões.
Na realidade, o Proantar é outro projeto de país grande -como o espacial- que o Brasil custeia com orçamento de país pequeno. Não se pode estabelecer um vínculo entre subfinanciamento e acidentes, decerto, mas também é fato que o Proantar não se reerguerá das cinzas sem um investimento mais constante do governo.
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