David Brooks - NYT
Mary Altaffer/AP
Republicano Paul Ryan é o novo presidente da Câmara dos EUA
Após todas as idiotices da direita dos últimos anos, os republicanos podem acabar com dois novos líderes a caminho das eleições, Marco Rubio e Paul Ryan. Trata-se de um resultado excelente para um partido que exibe uma tendência incrível de infligir danos a si mesmo.
Ryan é o novo presidente da Câmara e no momento Rubio é o mais provável candidato do partido à presidência. A campanha presidencial está começando a entrar em foco. Ainda é prudente esperar (e rezar) que os candidatos celebridades desapareçam, à medida que a fase de vendas termine e a fase de compras comece.
Os eleitores não precisam saber os detalhes da agenda de seu candidato, mas precisam saber que o candidato é capaz de ter uma agenda. Donald Trump e Ben Carson se tornam invisíveis quando o assunto da governança de fato é levantado.
Os problemas de
Jeb Bush são de caráter instável, portanto com maior probabilidade de
serem permanentes. Ele provavelmente seria um presidente eficaz. E seria
um candidato muito eficaz –mas em 1956. Estes são tempos mais difíceis.
Ted Cruz provavelmente despontará como o candidato da classe trabalhadora branca descontente –os eleitores sem ensino superior que agora estão registrando sua alienação e desconfiança em relação a Trump. Mas não há eleitores como esses suficientes no eleitorado das primárias para derrotar Rubio, e Cruz não é simpático o suficiente para que uma campanha nacional possa ser construída em torno dele. Enquanto isso, Rubio não conta com inimigos naturais no partido, conta com habilidades naturais realmente impressionantes e sua maior fraqueza é sua maior força: sua juventude.
Enquanto outros candidatos estão repetindo as fórmulas dos anos 80 e 90, Rubio é um filho deste século. Ele entende que não basta mais cortar impostos e dizer coisas ruins sobre o governo para produzir ampla prosperidade. Em uma série de importantes discursos políticos nos últimos dois anos (ele é um dos poucos candidatos que de fato os faz), Rubio enfatizou que novos problemas estruturais ameaçam o sonho americano: trabalhadores sendo substituídos pela tecnologia, globalização restringindo os salários e o declínio do casamento aumentando a desigualdade.
Suas propostas refletem sua consciência. A esta altura, provavelmente não é sensível se empolgar demais sobre os detalhes dos planos de qualquer candidato. Todos são amplamente inviáveis.
O que importa agora é como o candidato sinaliza as prioridades. Rubio fala especificamente em se concentrar em políticas para elevar o padrão de vida da classe média e da classe média baixa.
Por exemplo, a política tributária de Rubio começa onde todos os planos republicanos começam. Ele simplificaria o código tributário, reduziria as taxas e adotaria um sistema baseado no consumo, reduzindo assim os impostos sobre investimento.
Mas ele entende que um crescimento geral não mais se traduz diretamente em melhores salários. Ele adiciona uma grande dedução de impostos de US$ 2.500 por filho que é controversa entre os economistas conservadores, mas que facilitaria a vida para as famílias trabalhadoras.
Seus programas antipobreza são o que mais o diferem dos republicanos tradicionais. Os Estados Unidos já gastam um bocado de dinheiro em ajuda aos pobres –o suficiente para retirar a maioria das famílias da pobreza se simplesmente lhes enviássemos cheques. Mas o dinheiro flui por uma colcha de retalhos de programas e cria incentivos perversos. As pessoas costumam ficar em melhor situação dependendo do governo do que arrumando um emprego de entrada no mercado de trabalho. Como apontou Oren Cass, do Instituto Manhattan, há 2 milhões de americanos a menos trabalhando hoje do que antes da recessão e dois milhões a mais recebendo benefícios por invalidez.
Influenciado pelo trabalho de Cass, Rubio deseja oferecer às pessoas que não estão trabalhando alguma segurança básica, mas também defendendo subsídios salariais que encorajariam as pessoas a arrumarem empregos de entrada no mercado de trabalho. A ideia é recompensar as pessoas a subirem na escada da oportunidade e compensar pelo declínio dos salários dos trabalhadores em empregos de baixa qualificação.
Rubio reformaria as deduções do imposto de renda e as estenderia aos trabalhadores sem filhos. Ele também converteria grande parte dos gastos federais em bem-estar social em um "fundo flexível", que iria diretamente aos Estados. As regras para esses programas não seriam mais elaboradas em Washington. As agências estaduais que implantariam as políticas de bem-estar social teriam mais liberdade para elaborá-las. Ele manteria os gastos gerais em bem-estar social, os corrigindo de acordo com a inflação e os níveis de pobreza, mas permitiria mais espaço para experimentação.
Os debates republicanos raramente tocam na educação pelo mesmo motivo, mas Rubio também tem algumas ideias para reformá-la. Ele diz que o ensino superior é controlado por um cartel de instituições estabelecidas que bloqueiam os concorrentes de menor custo de entrarem no mercado. Ele deseja que o crédito estudantil seja baseado em um percentual da renda da pessoa que ela possa dispor.
Dentre todos os candidatos, Rubio foi o que mais fez para colher os frutos do trabalho do conservadorismo reformista, que tomou o mundo dos centros de estudos. Em um ano em que muitos candidatos se resumem a marketing, Rubio é um equilíbrio entre marketing e produto.
Se Ryan e Rubio despontarem como os dois líderes do partido, seria a liderança mais estudiosa que vimos em nossas vidas. E isso é muito bom.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
Ted Cruz provavelmente despontará como o candidato da classe trabalhadora branca descontente –os eleitores sem ensino superior que agora estão registrando sua alienação e desconfiança em relação a Trump. Mas não há eleitores como esses suficientes no eleitorado das primárias para derrotar Rubio, e Cruz não é simpático o suficiente para que uma campanha nacional possa ser construída em torno dele. Enquanto isso, Rubio não conta com inimigos naturais no partido, conta com habilidades naturais realmente impressionantes e sua maior fraqueza é sua maior força: sua juventude.
Enquanto outros candidatos estão repetindo as fórmulas dos anos 80 e 90, Rubio é um filho deste século. Ele entende que não basta mais cortar impostos e dizer coisas ruins sobre o governo para produzir ampla prosperidade. Em uma série de importantes discursos políticos nos últimos dois anos (ele é um dos poucos candidatos que de fato os faz), Rubio enfatizou que novos problemas estruturais ameaçam o sonho americano: trabalhadores sendo substituídos pela tecnologia, globalização restringindo os salários e o declínio do casamento aumentando a desigualdade.
Suas propostas refletem sua consciência. A esta altura, provavelmente não é sensível se empolgar demais sobre os detalhes dos planos de qualquer candidato. Todos são amplamente inviáveis.
O que importa agora é como o candidato sinaliza as prioridades. Rubio fala especificamente em se concentrar em políticas para elevar o padrão de vida da classe média e da classe média baixa.
Por exemplo, a política tributária de Rubio começa onde todos os planos republicanos começam. Ele simplificaria o código tributário, reduziria as taxas e adotaria um sistema baseado no consumo, reduzindo assim os impostos sobre investimento.
Mas ele entende que um crescimento geral não mais se traduz diretamente em melhores salários. Ele adiciona uma grande dedução de impostos de US$ 2.500 por filho que é controversa entre os economistas conservadores, mas que facilitaria a vida para as famílias trabalhadoras.
Seus programas antipobreza são o que mais o diferem dos republicanos tradicionais. Os Estados Unidos já gastam um bocado de dinheiro em ajuda aos pobres –o suficiente para retirar a maioria das famílias da pobreza se simplesmente lhes enviássemos cheques. Mas o dinheiro flui por uma colcha de retalhos de programas e cria incentivos perversos. As pessoas costumam ficar em melhor situação dependendo do governo do que arrumando um emprego de entrada no mercado de trabalho. Como apontou Oren Cass, do Instituto Manhattan, há 2 milhões de americanos a menos trabalhando hoje do que antes da recessão e dois milhões a mais recebendo benefícios por invalidez.
Influenciado pelo trabalho de Cass, Rubio deseja oferecer às pessoas que não estão trabalhando alguma segurança básica, mas também defendendo subsídios salariais que encorajariam as pessoas a arrumarem empregos de entrada no mercado de trabalho. A ideia é recompensar as pessoas a subirem na escada da oportunidade e compensar pelo declínio dos salários dos trabalhadores em empregos de baixa qualificação.
Rubio reformaria as deduções do imposto de renda e as estenderia aos trabalhadores sem filhos. Ele também converteria grande parte dos gastos federais em bem-estar social em um "fundo flexível", que iria diretamente aos Estados. As regras para esses programas não seriam mais elaboradas em Washington. As agências estaduais que implantariam as políticas de bem-estar social teriam mais liberdade para elaborá-las. Ele manteria os gastos gerais em bem-estar social, os corrigindo de acordo com a inflação e os níveis de pobreza, mas permitiria mais espaço para experimentação.
Os debates republicanos raramente tocam na educação pelo mesmo motivo, mas Rubio também tem algumas ideias para reformá-la. Ele diz que o ensino superior é controlado por um cartel de instituições estabelecidas que bloqueiam os concorrentes de menor custo de entrarem no mercado. Ele deseja que o crédito estudantil seja baseado em um percentual da renda da pessoa que ela possa dispor.
Dentre todos os candidatos, Rubio foi o que mais fez para colher os frutos do trabalho do conservadorismo reformista, que tomou o mundo dos centros de estudos. Em um ano em que muitos candidatos se resumem a marketing, Rubio é um equilíbrio entre marketing e produto.
Se Ryan e Rubio despontarem como os dois líderes do partido, seria a liderança mais estudiosa que vimos em nossas vidas. E isso é muito bom.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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