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A cada ano as comemorações do Halloween, o Dia das Bruxas, ganham mais adeptos no país, para consternação dos nacionalistas mais empedernidos. A prática começou nas escolas de idiomas e, nos anos 1990, espraiou-se para os bairros de classe média.
Ouvem-se críticas duras ao suposto caráter postiço da festa, já que as
bruxas não integram o imaginário nacional. Em vez de manter uma
celebração sem raízes brasileiras, não seria preferível substituí-la
pelo Dia do Saci, como amiúde se defende de forma apaixonada?
Por esse critério, entretanto, o simpático Papai Noel, pronto para os invernos mais rigorosos, não teria o que fazer no Brasil –muito menos no verão, envolto em neve artificial que só reforça a incoerência flagrante de suas roupas.
No fundo, o que os críticos do Halloween perseguem, como se fosse minimamente possível, é uma cultura castiça, não contaminada por "ideias que vêm de fora".
Trata-se, naturalmente, de um despautério. A começar pela chegada dos portugueses, em 1500, a civilização brasileira se formou a partir da assimilação de elementos estrangeiros. Em toda sua história, o país nunca deixou de incorporar contribuições de outros povos.
O debate, todavia, atravessa décadas. Nos anos 1980, o crítico Roberto Schwarz, no artigo "Nacional por Subtração", publicado nesta Folha, já dizia que a discussão estava mal colocada. Passados 30 anos, nem mesmo a difusão da internet sepultou essa falsa questão.
Schwarz notava que parte da população reclamava de viver em um país no qual muitas ideias se copiavam do exterior. O problema, aponta o crítico, é que "renunciar ao empréstimo" não leva ninguém a pensar de modo mais autêntico. Por um motivo simples: esse "núcleo autêntico" nem existe.
De resto, tal renúncia nem faria sentido, vez que, nessa transplantação de costumes, a cópia se afasta do original. Comparem-se as festas de Halloween aqui e alhures; por razões bem brasileiras, dificilmente crianças caminharão fantasiadas pelas ruas à noite, sobretudo nas grandes cidades.
No Brasil, o Dia das Bruxas pouco difere de outras comemorações de aniversário, com o acréscimo da decoração e da fantasia –para a alegria de varejistas, que pelo mesmo motivo celebram datas mais típicas, como Carnaval e São João.
Não há por que reclamar; o Halloween é só pretexto para mais uma festa –tanto quanto o Dia do Saci.
Por esse critério, entretanto, o simpático Papai Noel, pronto para os invernos mais rigorosos, não teria o que fazer no Brasil –muito menos no verão, envolto em neve artificial que só reforça a incoerência flagrante de suas roupas.
No fundo, o que os críticos do Halloween perseguem, como se fosse minimamente possível, é uma cultura castiça, não contaminada por "ideias que vêm de fora".
Trata-se, naturalmente, de um despautério. A começar pela chegada dos portugueses, em 1500, a civilização brasileira se formou a partir da assimilação de elementos estrangeiros. Em toda sua história, o país nunca deixou de incorporar contribuições de outros povos.
O debate, todavia, atravessa décadas. Nos anos 1980, o crítico Roberto Schwarz, no artigo "Nacional por Subtração", publicado nesta Folha, já dizia que a discussão estava mal colocada. Passados 30 anos, nem mesmo a difusão da internet sepultou essa falsa questão.
Schwarz notava que parte da população reclamava de viver em um país no qual muitas ideias se copiavam do exterior. O problema, aponta o crítico, é que "renunciar ao empréstimo" não leva ninguém a pensar de modo mais autêntico. Por um motivo simples: esse "núcleo autêntico" nem existe.
De resto, tal renúncia nem faria sentido, vez que, nessa transplantação de costumes, a cópia se afasta do original. Comparem-se as festas de Halloween aqui e alhures; por razões bem brasileiras, dificilmente crianças caminharão fantasiadas pelas ruas à noite, sobretudo nas grandes cidades.
No Brasil, o Dia das Bruxas pouco difere de outras comemorações de aniversário, com o acréscimo da decoração e da fantasia –para a alegria de varejistas, que pelo mesmo motivo celebram datas mais típicas, como Carnaval e São João.
Não há por que reclamar; o Halloween é só pretexto para mais uma festa –tanto quanto o Dia do Saci.
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