As investigações da Polícia Federal e do Ministério Público sobre casos de corrupção atingem filhos, parentes, amigos, amigos íntimos, amigas íntimas e ex-assessores do ex-presidente
Daniel Pereira e Rodrigo Rangel - VEJAPARANOIA - Lula (de camiseta) e Dilma no Palácio da Alvorada: o ex-presidente acredita que é vítima de uma perseguição que contaria com o aval da presidente(André Duzek/Estadão Conteúdo)
Oito anos na Presidência da República fizeram de Lula um mito. Ele escapou ileso do escândalo do mensalão, bateu recorde de popularidade, consolidou o Brasil como um país de classe média e elegeu uma quase desconhecida como sua sucessora. Os opositores reconheciam e temiam seu poder de arregimentação das massas. O líder messiânico, o novo pai dos pobres, o protagonista do primeiro governo popular da história do Brasil encontra-se atualmente soterrado por uma montanha de fatos pesados o bastante para fazer vergar qualquer biografia - até mesmo a de Lula. Investigações sobre corrupção feitas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público vão consistentemente chegando mais perto de Lula. Ele próprio é foco direto de uma dessas apurações. Do seu círculo familiar mais íntimo ao time vasto de correligionários, doadores de campanha e amigos, o sistema Lula é formado predominantemente por suspeitos, presos e sentenciados. Todos acusados de receber vantagens indevidas de esquemas bilionários de corrupção oficial.
O mito está emparedado em verdades. Lula teme ser preso, vê perigo e conspiradores em toda parte, até no Palácio do Planalto. Chegou recentemente ao ex-presidente um raciocínio político dividido em duas partes. A primeira dá conta de que sua derrocada pessoal aplacaria a opinião pública, esse monstro obstinado, movido por excitação, fraqueza, preconceito, intuição, notícias e redes sociais. A segunda parte é consequência da primeira. Com a opinião pública satisfeita depois da punição a Lula, haveria espaço para a criação de um ambiente mais propício para Dilma Rousseff cumprir seu mandato até o fim. Nada de novo. A política é feita desse material dúctil inadequado para moldar alianças inquebrantáveis e fidelidades eternas.
Os sinais negativos para Lula estão por toda parte. Uma pesquisa do
Ibope a ser divulgada nesta semana mostrará que a maioria da população
brasileira condena a influência de Lula sobre Dilma. Some-se a isso o
contingente dos brasileiros que até comemorariam a prisão dele, e o
quadro fica francamente hostil ao ex-presidente. O nome de Lula e os de
mais de uma dezena de pessoas próximas a ele são cada vez mais
frequentes em enredos de tráfico de influência, desvios de verbas
públicas e recebimento de propina. Delator do petrolão, o doleiro
Alberto Youssef disse que Lula e Dilma sabiam da existência do maior
esquema de corrupção da história do país. Dono da construtora UTC, o
empresário Ricardo Pessoa declarou às autoridades que doou dinheiro
surrupiado da Petrobras à campanha de Lula à reeleição, em 2006. O
lobista Fernando Baiano afirmou que repassou 2 milhões de reais do
petrolão ao pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula e tutor dos
negócios dos filhos do petista. Baiano contou aos procuradores que,
segundo Bumlai, a propina era para uma nora do ex-presidente. A relação
de nomes é conhecida, extensa e plural - dela faz parte até uma amiga
íntima de Lula. A novidade agora é que a lista foi reforçada por um novo
personagem. Não um personagem qualquer, mas Luís Cláudio da Silva, um
dos filhos do ex-presidente. O cerco está se fechando.
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