Anne Applebaum
Xinhua/Ahmad Halabisaz
As sanções sobre o Irã foram retiradas, e o momento de mudança chegou. O presidente Barack Obama chamou a situação de "uma oportunidade única --uma janela-- para tentar resolver questões importantes". O brilhante ex-diplomata Nicholas Burns disse que estamos em um "ponto de virada potencial na história moderna do Oriente Médio". E é claro que eles estão certos. A diplomacia do Oriente Médio vai mudar agora, para o bem ou para o mal, mas para sempre.
Apenas desconfie de quem afirma
mais do que isso, e com certeza desconfie de quem afirma qualquer coisa
mais quanto ao próprio Irã. O presidente Hassan Rohani não é Mikhail
Gorbachev, e este não é um momento de perestroika. O Irã não está "se
abrindo" ou se tornando "mais Ocidental" nem mais liberal. Talvez o
ministro das Relações Exteriores do Irã agora atenda o telefone quando
John Kerry ligar. Mas fora isso, a natureza do regime iraniano não foi
alterada de forma alguma.
Pelo contrário, o nível de repressão dentro do país de fato cresceu desde que o "moderado" Rouhani foi eleito em 2013. O número de sentenças de morte aumentou. Em 2014, o Irã realizou o maior número de execuções do que qualquer lugar do mundo, exceto a China. Em 2015, foram mais de mil. Em parte isso se deve porque o presidente do Supremo Tribunal do Irã exaltou a erradicação --isto é, o assassinato em massa-- dos infratores da lei antidrogas, entre eles muitos jovens ou condenados com provas duvidosas.
Regimes que precisam da violência para reprimir seus cidadãos não são parceiros diplomáticos confiáveis.
A pressão política e a discriminação religiosa também têm aumentado. As mulheres que não usam véu ainda estão sujeitas a serem presas e condenadas. As penas por apostasia, adultério e homossexualidade ainda são duras, e podem chegar à pena capital. Os dissidentes culturais também estão sob pressão, mais ainda desde que o acordo de retirada das sanções foi anunciado.
Em 7 de janeiro, o poeta Hila Sedighi foi preso após desembarcar no aeroporto de Teerã e detido por 48 horas, presumivelmente como um aviso. Em outubro passado, um cineasta curdo recebeu uma pena de seis anos e 223 chibatadas por "insultar o sagrado". Quando quatro norte-americanos foram libertados de prisões iranianas na semana passada, a Campanha Internacional pelos Direitos Humanos no Irã observou que centenas de outros presos políticos, inclusive alguns estrangeiros, permanecem nas prisões iranianas.
Se fosse possível colocar todas essas histórias em uma caixa e chamar o Irã de um país "ruim nos direitos humanos", mas "melhorando na política externa", então talvez fosse o caso de ignorá-las. Mas, como aprendemos a duras penas na Rússia e em outros lugares --os regimes que precisam da violência para reprimir seus cidadãos não são parceiros diplomáticos confiáveis: qualquer grupo dominante que teme a revolta popular sempre, no fim das contas, molda sua política externa com o objetivo de se manter no poder.
Agora, Rouhani e seu ministro das Relações Exteriores, Javad Zarif, acreditam que a retirada das sanções ajudará a economia do Irã a conseguir apoio popular. Mas se isso não acontecer, eles e seus sucessores vão imediatamente dirigir o sentimento e a raiva da população contra o Grande Satã mais uma vez.
O mesmo aviso se aplica aos empresários ocidentais que fazem fila na fronteira para entrar no Irã. Sem dúvida haverá muitos iranianos dispostos a ajudá-los a enriquecer, se for mutuamente benéfico. Sem dúvida alguma, eles vão ganhar dinheiro, embora possa ser difícil segurar o dinheiro num país onde os tribunais são politizados e cujos juízes são selecionados por um processo obscuro e arbitrário. Mas de qualquer forma, não há muito sentido em ter esperança que o investimento estrangeiro "abra" o Irã. Nas atuais circunstâncias, é muito mais provável que ele enriqueça a elite existente. Se assim for, o resultado será mais repressão, mais desinformação, e, claro, mais dinheiro para a exportar a ideologia da revolução iraniana para a Síria, o Líbano e o Iraque.
Então, sim, a mudança chegou à diplomacia no Oriente Médio. Mas a mudança não chegou ao Irã. E até que ela chegue, o Irã continuará sendo uma fonte de instabilidade e violência na região.
Pelo contrário, o nível de repressão dentro do país de fato cresceu desde que o "moderado" Rouhani foi eleito em 2013. O número de sentenças de morte aumentou. Em 2014, o Irã realizou o maior número de execuções do que qualquer lugar do mundo, exceto a China. Em 2015, foram mais de mil. Em parte isso se deve porque o presidente do Supremo Tribunal do Irã exaltou a erradicação --isto é, o assassinato em massa-- dos infratores da lei antidrogas, entre eles muitos jovens ou condenados com provas duvidosas.
Regimes que precisam da violência para reprimir seus cidadãos não são parceiros diplomáticos confiáveis.
A pressão política e a discriminação religiosa também têm aumentado. As mulheres que não usam véu ainda estão sujeitas a serem presas e condenadas. As penas por apostasia, adultério e homossexualidade ainda são duras, e podem chegar à pena capital. Os dissidentes culturais também estão sob pressão, mais ainda desde que o acordo de retirada das sanções foi anunciado.
Em 7 de janeiro, o poeta Hila Sedighi foi preso após desembarcar no aeroporto de Teerã e detido por 48 horas, presumivelmente como um aviso. Em outubro passado, um cineasta curdo recebeu uma pena de seis anos e 223 chibatadas por "insultar o sagrado". Quando quatro norte-americanos foram libertados de prisões iranianas na semana passada, a Campanha Internacional pelos Direitos Humanos no Irã observou que centenas de outros presos políticos, inclusive alguns estrangeiros, permanecem nas prisões iranianas.
Se fosse possível colocar todas essas histórias em uma caixa e chamar o Irã de um país "ruim nos direitos humanos", mas "melhorando na política externa", então talvez fosse o caso de ignorá-las. Mas, como aprendemos a duras penas na Rússia e em outros lugares --os regimes que precisam da violência para reprimir seus cidadãos não são parceiros diplomáticos confiáveis: qualquer grupo dominante que teme a revolta popular sempre, no fim das contas, molda sua política externa com o objetivo de se manter no poder.
Agora, Rouhani e seu ministro das Relações Exteriores, Javad Zarif, acreditam que a retirada das sanções ajudará a economia do Irã a conseguir apoio popular. Mas se isso não acontecer, eles e seus sucessores vão imediatamente dirigir o sentimento e a raiva da população contra o Grande Satã mais uma vez.
O mesmo aviso se aplica aos empresários ocidentais que fazem fila na fronteira para entrar no Irã. Sem dúvida haverá muitos iranianos dispostos a ajudá-los a enriquecer, se for mutuamente benéfico. Sem dúvida alguma, eles vão ganhar dinheiro, embora possa ser difícil segurar o dinheiro num país onde os tribunais são politizados e cujos juízes são selecionados por um processo obscuro e arbitrário. Mas de qualquer forma, não há muito sentido em ter esperança que o investimento estrangeiro "abra" o Irã. Nas atuais circunstâncias, é muito mais provável que ele enriqueça a elite existente. Se assim for, o resultado será mais repressão, mais desinformação, e, claro, mais dinheiro para a exportar a ideologia da revolução iraniana para a Síria, o Líbano e o Iraque.
Então, sim, a mudança chegou à diplomacia no Oriente Médio. Mas a mudança não chegou ao Irã. E até que ela chegue, o Irã continuará sendo uma fonte de instabilidade e violência na região.
Nenhum comentário:
Postar um comentário