Julie Turkewitz - NYT
Julie Turkewitz/The New York Times
Eles chegaram no último fim de semana para espalhar o Evangelho, canções e alegria ao grupo armado que tomou um santuário federal de vida selvagem no Oregon: uma mãe solteira do Kansas e oito de seus filhos, membros de uma banda familiar de gospel que trouxe seus instrumentos em um ônibus ao estilo da Família Dó-Ré-Mi, exibindo o slogan "Movida pelo Espírito".
Mas na noite de terça-feira, a excursão da Sharp Family Band se tornou um pesadelo: a filha mais velha, Victoria, 18, era uma passageira em um dos veículos nos quais Ammon e Ryan Bundy, os irmãos que lideravam a ocupação, foram presos juntamente com alguns de seus seguidores. Outro manifestante, LaVoy Finicum, morreu baleado no confronto, que Victoria disse ter testemunhado.
O restante da
família –Odalis Sharp, 46, e sete menores, com idades entre 5 e 17 anos–
conseguiram passar pelo bloqueio da polícia que pegou os irmãos Bundy,
chegando à cidade de John Day, a 160 quilômetros ao norte do Refúgio
Nacional da Vida Selvagem de Malheur, onde uma reunião comunitária era
planejada. Enquanto o clã Sharp aguardava para saber se Victoria estava
viva, ele cantou canções gospel para o público reunido no centro
comunitário para idosos –chorando o tempo todo.
"Nós fomos o primeiro veículo a sair do refúgio", disse Preston Knodell, 52, do Texas, que acompanhava a família Sharp como guarda-costas armado, indicado por um simpatizante dos Bundy. "Nós conseguimos, eles não. Mas fico feliz. Minha missão não é ser baleado com um grupo de crianças."
A história da banda da família Sharp oferece uma janela para a estranha mistura de americanos atraídos para a ocupação de quase um mês.
Quando os Sharp chegaram, eles trouxeram uma flauta, uma bateria, um trompete, um teclado, um microfone, uma Bíblia púrpura e a mensagem de que o espírito divino estava do lado do levante.
"Deus nos chamou para cá", disse Odalis Sharp, a líder da banda. Os Sharp realizaram seu primeiro concerto no sábado no interior do refúgio Malheur. Ambientalistas que são contrários à ocupação conseguiram se infiltrar no evento, e quando o bate-boca teve início, os Sharp pegaram seus instrumentos e as crianças começaram a cantar "Go Light Your World" e "God Bless America" .
Em meio à gritaria e música, Ryan Bundy se afastou da confusão e derramou uma lágrima. "Lindo", disse ele para outro caubói.
Depois, Odalis Sharp explicou que estava enfrentando um despejo e que se identificou com a posição da ocupação contra forças opressoras. "Estou aqui porque Deus me trouxe e, acredite, isso faz com que me sinta segura", ela disse.
A família Sharp foi instantaneamente aceita pelos manifestantes, passando a dormir no posto dos bombeiros em Malheur e se tornando uma parte integral da ocupação. A presença dela acentuou a disposição da ocupação de permitir que crianças se juntem ao movimento; alguns manifestantes que vieram de Estados distantes também trouxeram crianças, chamando a experiência de lição valiosa sobre a importância de defender a Constituição.
Mas mesmo Knodell, o guarda-costas, acha que não deveriam estar aqui. "Estamos em um campo armado –não é um local apropriado para crianças", ele disse, acrescentando que aceitou a função por um senso de dever. "Se você é um indivíduo razoável, terá que aceitar que cedo ou tarde algo ruim vai acontecer."
Antes das prisões e morte de Finicum, Odalis Sharp concordou em conversar com a repórter no refúgio. Ela explicou que era mãe solteira, vivendo com uma renda de cerca de US$ 1.800 (cerca de US$ 7.200 ) por mês na zona rural do Kansas e educando seus filhos em casa.
"Nós travávamos nossas próprias batalhas em casa, contra o Estado e contra um proprietário injusto", disse Sharp. "Nós sabemos como é sofrer por algo que é errado."
Em 2014, Sharp levou seus filhos para Nevada para cantar em outro conflito –este inspirado por Cliven Bundy, o pai de Ammon e Ryan, depois que as autoridades federais tentaram confiscar seu gado. Ele não pagava as taxas federais de pastagem desde o início dos anos 90.
Ao lado dela, homens fardados jogavam cartas e brincavam de massinha de modelar com os filhos dela, que comiam biscoitos sob uma faixa gigante: "Rebelião contra os Tiranos Significa Obediência a Deus". As crianças cantavam.
Certa noite, o grupo de protesto se ajoelhou para rezar. Ryan Waylen Payne, um manifestante, recitou a Shemá Israel, a oração central judaica. E o Sharp mais jovem acrescentou: "Querido Deus", disse Stephan, 5, "rezo pra que Você ajude todos a chegarem em casa em segurança".
Dois dias depois, Odalis e seus sete filhos mais jovens saíram para a reunião em John Day. Victoria Sharp, que é treinada como paramédica, ficou para trás; Knodell disse que o grupo pode ter desejado mantê-la ali devido ao seu treinamento médico.
As crianças chegaram à reunião. O centro comunitário para idosos estava cheio de pessoas. Então alguém anunciou que os oradores –os líderes da ocupação– não viriam. Corriam rumores sobre um tiroteio na estrada.
Quando Victoria foi solta da custódia policial, a família se escondeu, encontrando com a repórter no hotel em que estava.
"Não sabemos o que acontecerá agora", disse Odalis Sharp. "Estamos vivendo dia a dia, guiados pela luz de Deus."
Tradutor: George El Khouri Andolfato
"Nós fomos o primeiro veículo a sair do refúgio", disse Preston Knodell, 52, do Texas, que acompanhava a família Sharp como guarda-costas armado, indicado por um simpatizante dos Bundy. "Nós conseguimos, eles não. Mas fico feliz. Minha missão não é ser baleado com um grupo de crianças."
A história da banda da família Sharp oferece uma janela para a estranha mistura de americanos atraídos para a ocupação de quase um mês.
Quando os Sharp chegaram, eles trouxeram uma flauta, uma bateria, um trompete, um teclado, um microfone, uma Bíblia púrpura e a mensagem de que o espírito divino estava do lado do levante.
"Deus nos chamou para cá", disse Odalis Sharp, a líder da banda. Os Sharp realizaram seu primeiro concerto no sábado no interior do refúgio Malheur. Ambientalistas que são contrários à ocupação conseguiram se infiltrar no evento, e quando o bate-boca teve início, os Sharp pegaram seus instrumentos e as crianças começaram a cantar "Go Light Your World" e "God Bless America" .
Em meio à gritaria e música, Ryan Bundy se afastou da confusão e derramou uma lágrima. "Lindo", disse ele para outro caubói.
Depois, Odalis Sharp explicou que estava enfrentando um despejo e que se identificou com a posição da ocupação contra forças opressoras. "Estou aqui porque Deus me trouxe e, acredite, isso faz com que me sinta segura", ela disse.
A família Sharp foi instantaneamente aceita pelos manifestantes, passando a dormir no posto dos bombeiros em Malheur e se tornando uma parte integral da ocupação. A presença dela acentuou a disposição da ocupação de permitir que crianças se juntem ao movimento; alguns manifestantes que vieram de Estados distantes também trouxeram crianças, chamando a experiência de lição valiosa sobre a importância de defender a Constituição.
Mas mesmo Knodell, o guarda-costas, acha que não deveriam estar aqui. "Estamos em um campo armado –não é um local apropriado para crianças", ele disse, acrescentando que aceitou a função por um senso de dever. "Se você é um indivíduo razoável, terá que aceitar que cedo ou tarde algo ruim vai acontecer."
Antes das prisões e morte de Finicum, Odalis Sharp concordou em conversar com a repórter no refúgio. Ela explicou que era mãe solteira, vivendo com uma renda de cerca de US$ 1.800 (cerca de US$ 7.200 ) por mês na zona rural do Kansas e educando seus filhos em casa.
"Nós travávamos nossas próprias batalhas em casa, contra o Estado e contra um proprietário injusto", disse Sharp. "Nós sabemos como é sofrer por algo que é errado."
Em 2014, Sharp levou seus filhos para Nevada para cantar em outro conflito –este inspirado por Cliven Bundy, o pai de Ammon e Ryan, depois que as autoridades federais tentaram confiscar seu gado. Ele não pagava as taxas federais de pastagem desde o início dos anos 90.
Ao lado dela, homens fardados jogavam cartas e brincavam de massinha de modelar com os filhos dela, que comiam biscoitos sob uma faixa gigante: "Rebelião contra os Tiranos Significa Obediência a Deus". As crianças cantavam.
Certa noite, o grupo de protesto se ajoelhou para rezar. Ryan Waylen Payne, um manifestante, recitou a Shemá Israel, a oração central judaica. E o Sharp mais jovem acrescentou: "Querido Deus", disse Stephan, 5, "rezo pra que Você ajude todos a chegarem em casa em segurança".
Dois dias depois, Odalis e seus sete filhos mais jovens saíram para a reunião em John Day. Victoria Sharp, que é treinada como paramédica, ficou para trás; Knodell disse que o grupo pode ter desejado mantê-la ali devido ao seu treinamento médico.
As crianças chegaram à reunião. O centro comunitário para idosos estava cheio de pessoas. Então alguém anunciou que os oradores –os líderes da ocupação– não viriam. Corriam rumores sobre um tiroteio na estrada.
Quando Victoria foi solta da custódia policial, a família se escondeu, encontrando com a repórter no hotel em que estava.
"Não sabemos o que acontecerá agora", disse Odalis Sharp. "Estamos vivendo dia a dia, guiados pela luz de Deus."
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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