Soren Seelow - Le Monde
Geert Vanden Wijngaert
27.mar.2016 - Belgas fazem homenagens aos mortos nos ataques em Bruxelas
Tudo partiu da "célula-tronco" de Verviers (Bélgica) e de seu criador,
Abdelhamid Abaaoud, uma rede destruída em parte pela polícia belga em 15
de janeiro de 2015, que renasceu alguns meses após para atacar Paris e
depois Bruxelas. Uma Hidra de Lerna jihadista, cujos membros se
regeneram para preparar o ataque seguinte.
A organização Estado
Islâmico (EI) calculou friamente: um homem-bomba serve para uma única
vez. O responsável pela logística de um atentado é o potencial mártir de
sua réplica.
Uma semana após o massacre de 7 de janeiro de 2015 na sede do "Charlie Hebdo", em Paris, a Bélgica descobriu, estupefata, que um plano terrorista estava sendo preparando em seu solo. No dia 15 de janeiro, ao anoitecer, a polícia belga invadiu uma casa em Verviers, onde conspiravam três jihadistas que haviam retornado da Síria. Escutas telefônicas revelaram que a célula se preparava para cometer atentados no dia seguinte, em Bruxelas.
A incursão foi de uma violência incomum, com dois suspeitos mortos e um terceiro preso. Dois dias depois, em um apartamento de Atenas (Grécia), a polícia grega deteve Omar Damache, um argelino suspeito de ter ajudado Abdelhamid Abaaoud, futuro instigador dos atentados de 13 de novembro na França, a supervisionar esse plano terrorista.
No apartamento, os investigadores apreenderam o computador de Abaaoud, que continha certos dados que já pressagiavam os atentados de Bruxelas. No disco rígido havia anotações esboçando planos de ataque em um aeroporto. Abaaoud se gabou, alguns meses depois, à revista de propaganda do EI "Dabiq", de ter escapado da incursão de Verviers. Ele passou os meses seguintes elaborando seu novo projeto: os atentados simultâneos de Paris.
Fazendo várias viagens entre a Síria e a Grécia, esse membro do EMNI, o órgão de segurança interna do EI, se empenhou em reconstituir uma nova célula em torno de um núcleo de colegas de bairro, que assim como ele eram originários de Molenbeek. A essa espinha dorsal se agregaram alguns franceses: Salah Abdeslam, que também crescera em Molenbeek, e os três terroristas do Bataclan, bem como combatentes estrangeiros recrutados na Síria.
Vários membros dessa rede aportaram na ilha grega de Leros no outono de 2015, misturando-se ao fluxo de imigrantes com passaportes sírios falsos. É o caso dos dois homens-bomba do Stade de France e de dois suspeitos dos atentados de Bruxelas: Sofiane Ayari, conhecido como Mounir Ahmed Allaj, detido em 18 de março, e o homem com quem ele chegou à Grécia, Naim al-Hamed, cuja verdadeira identidade ninguém sabe e que continua sendo procurado.
Outros, como Najim Laachraoui e Mohamed Belkaid, que coordenaram os ataques de Paris por telefone a partir de Bruxelas, viajaram com identidades belgas falsas, o que retardou consideravelmente sua identificação. Durante os meses que precederam os ataques, a nova equipe de Abaaoud, sem ser desmascarada, atravessou a Europa: alguns deles foram inspecionados na Grécia, na Hungria, na Áustria ou na Alemanha.
Abaaoud conseguiu reconstituir uma rede de responsáveis pela logística e de candidatos ao martírio. Na noite de 13 de novembro, sete homens-bomba se explodiram em Paris. O oitavo, cuja existência foi revelada no dia seguinte por um comunicado do EI, nunca chegou a acionar seu cinturão: era provavelmente Salah Abdeslam.
Abaaoud e Chakib Akrouh, que participaram do massacre dos restaurantes, morreram cinco dias mais tarde em uma incursão do Raid [unidade especial da polícia francesa] contra um apartamento em Saint-Denis, nos arredores de Paris.
Dos dez terroristas presentes em Paris na noite de 13 de novembro, nove morreram, e o último, Salah Abdeslam, fugiu. Mas os investigadores logo descobriram que eles tinham inúmeros cúmplices: o argelino Mohamed Belkaid e o belga Najim Laachraoui, que os policiais até então só conheciam por suas identidades falsas, haviam coordenado os ataques à distância. Outros, como Khalid el Bakraoui, alugaram apartamentos que serviram de esconderijo para os comandos.
O que surpreende na dinâmica dessa célula reconstituída das cinzas de Verviers é a maleabilidade, que se dá tanto entre as fronteiras quanto entre os papéis designados. Enquanto os investigadores caçavam os personagens secundários dos atentados de Paris, como Mohamed Belkaid, Najim Laachraoui e Khalid el-Bakraoui, estes últimos planejavam sua própria operação de martírio.
Ela teve como alvo Bruxelas, a cidade onde tudo começou. Na terça-feira (22), por volta de 8h da manhã, dois homens-bomba se explodiram no aeroporto de Zaventem, Najim Laachraoui e Ibrahim el-Bakraoui. Pouco mais de uma hora depois, Khalid, o irmão de Ibrahim, detonou seu cinturão na estação de metrô de Molenbeek.
Mohamed Belkaid fora morto alguns dias antes durante uma operação policial no bairro de Forest. Salah Abdeslam e Sofiane Ayari, conhecido dos investigadores pela identidade falsa de Mounir Ahmed Alaaj, conseguiram fugir, mas foram detidos em 18 de março em Molenbeek. Os investigadores suspeitam que os três homens teriam formado um terceiro comando que deveria atacar Bruxelas no dia 22 de março.
Uma semana após o massacre de 7 de janeiro de 2015 na sede do "Charlie Hebdo", em Paris, a Bélgica descobriu, estupefata, que um plano terrorista estava sendo preparando em seu solo. No dia 15 de janeiro, ao anoitecer, a polícia belga invadiu uma casa em Verviers, onde conspiravam três jihadistas que haviam retornado da Síria. Escutas telefônicas revelaram que a célula se preparava para cometer atentados no dia seguinte, em Bruxelas.
A incursão foi de uma violência incomum, com dois suspeitos mortos e um terceiro preso. Dois dias depois, em um apartamento de Atenas (Grécia), a polícia grega deteve Omar Damache, um argelino suspeito de ter ajudado Abdelhamid Abaaoud, futuro instigador dos atentados de 13 de novembro na França, a supervisionar esse plano terrorista.
No apartamento, os investigadores apreenderam o computador de Abaaoud, que continha certos dados que já pressagiavam os atentados de Bruxelas. No disco rígido havia anotações esboçando planos de ataque em um aeroporto. Abaaoud se gabou, alguns meses depois, à revista de propaganda do EI "Dabiq", de ter escapado da incursão de Verviers. Ele passou os meses seguintes elaborando seu novo projeto: os atentados simultâneos de Paris.
Fazendo várias viagens entre a Síria e a Grécia, esse membro do EMNI, o órgão de segurança interna do EI, se empenhou em reconstituir uma nova célula em torno de um núcleo de colegas de bairro, que assim como ele eram originários de Molenbeek. A essa espinha dorsal se agregaram alguns franceses: Salah Abdeslam, que também crescera em Molenbeek, e os três terroristas do Bataclan, bem como combatentes estrangeiros recrutados na Síria.
Vários membros dessa rede aportaram na ilha grega de Leros no outono de 2015, misturando-se ao fluxo de imigrantes com passaportes sírios falsos. É o caso dos dois homens-bomba do Stade de France e de dois suspeitos dos atentados de Bruxelas: Sofiane Ayari, conhecido como Mounir Ahmed Allaj, detido em 18 de março, e o homem com quem ele chegou à Grécia, Naim al-Hamed, cuja verdadeira identidade ninguém sabe e que continua sendo procurado.
Outros, como Najim Laachraoui e Mohamed Belkaid, que coordenaram os ataques de Paris por telefone a partir de Bruxelas, viajaram com identidades belgas falsas, o que retardou consideravelmente sua identificação. Durante os meses que precederam os ataques, a nova equipe de Abaaoud, sem ser desmascarada, atravessou a Europa: alguns deles foram inspecionados na Grécia, na Hungria, na Áustria ou na Alemanha.
Abaaoud conseguiu reconstituir uma rede de responsáveis pela logística e de candidatos ao martírio. Na noite de 13 de novembro, sete homens-bomba se explodiram em Paris. O oitavo, cuja existência foi revelada no dia seguinte por um comunicado do EI, nunca chegou a acionar seu cinturão: era provavelmente Salah Abdeslam.
Abaaoud e Chakib Akrouh, que participaram do massacre dos restaurantes, morreram cinco dias mais tarde em uma incursão do Raid [unidade especial da polícia francesa] contra um apartamento em Saint-Denis, nos arredores de Paris.
Dos dez terroristas presentes em Paris na noite de 13 de novembro, nove morreram, e o último, Salah Abdeslam, fugiu. Mas os investigadores logo descobriram que eles tinham inúmeros cúmplices: o argelino Mohamed Belkaid e o belga Najim Laachraoui, que os policiais até então só conheciam por suas identidades falsas, haviam coordenado os ataques à distância. Outros, como Khalid el Bakraoui, alugaram apartamentos que serviram de esconderijo para os comandos.
O que surpreende na dinâmica dessa célula reconstituída das cinzas de Verviers é a maleabilidade, que se dá tanto entre as fronteiras quanto entre os papéis designados. Enquanto os investigadores caçavam os personagens secundários dos atentados de Paris, como Mohamed Belkaid, Najim Laachraoui e Khalid el-Bakraoui, estes últimos planejavam sua própria operação de martírio.
Ela teve como alvo Bruxelas, a cidade onde tudo começou. Na terça-feira (22), por volta de 8h da manhã, dois homens-bomba se explodiram no aeroporto de Zaventem, Najim Laachraoui e Ibrahim el-Bakraoui. Pouco mais de uma hora depois, Khalid, o irmão de Ibrahim, detonou seu cinturão na estação de metrô de Molenbeek.
Mohamed Belkaid fora morto alguns dias antes durante uma operação policial no bairro de Forest. Salah Abdeslam e Sofiane Ayari, conhecido dos investigadores pela identidade falsa de Mounir Ahmed Alaaj, conseguiram fugir, mas foram detidos em 18 de março em Molenbeek. Os investigadores suspeitam que os três homens teriam formado um terceiro comando que deveria atacar Bruxelas no dia 22 de março.
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