Sem cantar vitória
Stéphane Lauer Le Monde
Zombaram do Rafale, vaiaram o Rafale, mas, finalmente, vão comercializar o Rafale. Quando anunciaram a decisão da Índia de entrar em negociação exclusiva com a Dassault para comprar 126 exemplares do célebre avião de caça, foi em tom quase gaullista que se saudou a vitória que parece surgir.
Imaginem: onze anos de repetidos fracassos nos quatro cantos do mundo, da Holanda até a Coreia do Sul, passando por Cingapura e Marrocos. Ninguém quis nosso canivete suíço aeronáutico, o avião multifuncional capaz de cumprir qualquer missão num piscar de olhos.
Até os suíços, justamente, o esnobaram, preferindo comprar dos suecos. Acabou-se acreditando que a aeronáutica era um esporte que custava muito caro e no qual os franceses sempre perdiam no fim.
Mas eis que, quando menos se esperava, quando se passou a acreditar que o único cliente que o Rafale encontraria seria o contribuinte, veio a sorte grande, o contrato do século, que não deveria se deixar passar porque, segundo os especialistas, nunca mais haveria outro igual. A Dassault, assim como o Estado, que há anos carrega o Rafale com dificuldades, estão saboreando o momento.
Mas, com o trauma dos fracassos do passado e a vontade de brigar com os céticos no estilo “não falei?”, busca-se a qualquer preço evitar a empolgação excessiva. Isso porque, como lembra um especialista da aeronáutica, James Hardy, “Qualquer estudante indiano de compras públicas sabe que isso não quer dizer nada, enquanto o contrato não for realmente assinado”. Certo, foi um anglo-saxão que disse isso, mas nesse tipo de negócio a prudência é de lei.
No entanto, não vamos esnobar a boa notícia, que vai bem além do 1,15 bilhão de euros ganho na Bolsa pela Dassault somente na terça-feira (31). É também um respiro para nossas finanças públicas. Por não ter encomendas de exportação, o Rafale estava sendo um estorvo para a lei de programação militar. A perspectiva dessa encomenda indiana permitiria adiar a compra pelo Exército francês de 18 caças, o equivalente a 1,8 bilhão de euros. Nesses períodos de escassez orçamentária e de comércio exterior capenga, o contrato chegou na hora certa. Nada mais justo, após anos de indefectível apoio por parte do Estado a um contrato que custou ao contribuinte mais de 40 bilhões de euros.
Tradutor: Lana Lim
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