quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

POLÍTICA EXTERNA DO BRASIL PRECISA TER DIRETRIZES CLARAS

'Chanceler’ europeia vem ao Brasil para pressionar por sanções ao Irã e à Síria
Catherine Ashton quer convencer o governo a aderir ao esforço da comunidade internacional para frear o programa nuclear iraniano
Jamil Chade - OESP
GENEBRA - A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, desembarca no Brasil neste fim de semana para cobrar do governo da presidente Dilma Rousseff a adoção de uma posição mais firme contra a repressão na Síria e pressionar o País a aliar-se aos esforços da comunidade internacional para conter o programa nuclear do Irã.
O governo brasileiro confirmou ao Estado que os temas estarão na agenda da visita. Ashton é uma das principais defensoras das sanções contra o Irã e insiste que a situação na Síria já não pode ser resolvida com Bashar Assad no poder. Nas últimas semanas, ela vem liderando uma ofensiva diplomática que, ao lado dos EUA, busca mobilizar os principais centros de poder no mundo para asfixiar financeiramente os dois regimes.
Em discurso ao Parlamento Europeu, Ashton reiterou que espera convencer o Brasil a caminhar ao lado das sanções promovidas pela comunidade internacional em ambos os casos (mais informações na página A12). "Vou ao Brasil no fim de semana", disse. "Um dos tópicos da agenda é explicar o que estamos fazendo (em relação ao Irã). Queremos uma ampla aliança nessa questão e um entendimento de que as sanções são vitais para forçar o governo de Teerã a voltar a negociar uma solução. Precisamos que a comunidade internacional atue de forma coordenada", declarou, referindo-se a Brasília. "Vou concentrar minha agenda no Brasil no tema iraniano", disse Ashton, que também destacou a necessidade de coordenar com o governo brasileiro posições em assuntos de direitos humanos. Ashton sabe que as sanções que se limitam a europeus e americanos terão pouco impacto e espera mais apoio internacional. Para isso, tenta conseguir a adesão de outros parceiros, como China, Coreia do Sul, Rússia e Japão.
O Itamaraty, porém, indicou ontem mesmo que rejeitará o apelo da diplomata europeia e manterá a linha atual de sua política externa - contrária à imposição de sanções econômicas fora do âmbito das Nações Unidas. Há menos de um mês, em Genebra, o chanceler Antonio Patriota reuniu-se com uma delegação iraniana e deu garantias de que o Brasil "nunca" apoiaria sanções unilaterais. Na avaliação do Brasil, só o diálogo poderá levar a um acordo sobre o programa nuclear do Irã.
Ashton indicou, no entanto, que não esperará indefinidamente por uma resposta iraniana. "O tempo está se esgotando e o Conselho de Segurança vai querer em algum momento avaliar se o Irã está cumprindo as determinações", disse.
Apesar da pressão, Ashton insiste que fez chegar aos iranianos, por intermédio da Turquia, a mensagem de que está disposta a negociar. A mesma mensagem será passada ao Brasil, para que o País use os canais que Brasília dispõe em Teerã. "Nossa posição é a de apoiar o diálogo. Mas temos de fazer com que o Irã entenda suas responsabilidades", disse.
A chefe da diplomacia europeia também disse que a situação da Síria é tratada como "prioridade". "É alarmante o que ocorre na Síria", afirmou. Segundo ela, a UE está pressionando "todos os dias e a cada hora" seus principais parceiros para que cheguem a uma posição conjunta. O principal desafio é convencer Rússia e China, países que têm poder de veto no Conselho de Segurança.
Bruxelas, porém, acredita que o apoio do Brasil, mesmo fora do âmbito da ONU, seria um sinal forte em razão da influência da diplomacia brasileira nos países emergentes. Segundo disseram diplomatas brasileiros ao Estado, o recado à UE será o de que o País rejeita qualquer ação, mesmo diplomática, que conduza a uma mudança forçada de regime.

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