Entra e sai
FSP - Editorial
Troca do ministro das Cidades não altera a prática do Executivo de conceder feudos administrativos aos partidos políticos de sua base
Há tempos os meios políticos de Brasília davam como certa a demissão de Mário Negromonte (PP) do Ministério das Cidades.
No ano passado, noticiava-se que o ministério promovera o encarecimento, sem base em parecer técnico, de um projeto de transportes públicos em Cuiabá. Veio em seguida o caso de um suposto "mensalinho" de R$ 30 mil, a ser pago a cada um dos deputados da bancada federal do PP, em troca de apoio nas disputas de seu partido.
Aparentemente seguiu a mesma lógica a decisão, revelada pela Folha, de privilegiar a liberação de verbas para emendas de deputados escolhidos a dedo no PP.
O habitual roteiro observado pela presidente Dilma Rousseff, de desgaste e desprestígio de ministros suspeitos, seguiu seu curso -é verdade que com mais lentidão. Demitiram-se, por ordem do Planalto, assessores diretos de Negromonte. Tudo previsto, tudo conhecido, portanto, na notícia da demissão de Negromonte.
Para quem não acompanha o cotidiano dos 37 ministérios e das incontáveis estatais, autarquias e superintendências da máquina federal, o caso suscita outras reações.
O que faz, o que fazia, o que fará um ministro das Cidades? Quem era Mário Negromonte? Quem é seu provável substituto, o também pepista Aguinaldo Ribeiro, líder da bancada do partido na Câmara? Que credenciais detém para cumprir as atribuições oficiais do Ministério das Cidades?
Com Negromonte ou sem Negromonte, a pasta serve na realidade para acomodar os interesses menores do PP, uma das agremiações na multidão que compõe a base de sustentação do governo federal.
A alegada preferência dilmista por critérios técnicos para nomear assessores presidenciais não vale nesse caso. Continua sendo obedecido o insólito sistema de "especialização" que concede a cada partido da base o domínio sobre este ou aquele setor do governo.
Que o PC do B, por exemplo, tenha se especializado em ocupar cargos na área de Esportes certamente não se deve ao sucesso de ginastas de países socialistas -por mais que o partido de Aldo Rebelo e Orlando Silva ainda conserve admiração pelas conquistas atribuídas a esses regimes ditatoriais.
Ao PP, talvez pela presença do ex-governador Paulo Maluf em seus quadros, uma larga fatia das atividades de engenharia urbana se concede. Já coube ao mesmo partido o comando da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) na partilha do governo do tucano Geraldo Alckmin.
Sai Negromonte, entra um substituto. Não admira que, fora dos círculos interessados, a notícia termine recebida com indiferença.
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