sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Quanto mais piora, mais pode melhorar
Sérgio Malbergier - FSP
Como era previsível, os políticos preferiram salvar a si mesmos que salvar o país. Não foi a primeira vez, mas podemos agir para que seja a última, pois isso nunca foi feito de forma tão explícita e consistente como agora. A custo tão alto.
A situação é insustentável fora da ilha de Brasília. Aqui, a crise dói, e os políticos já não ousam circular pelas ruas de São Paulo. Será isso um começo? Um sinal do basta? O início do fim do antigo regime que vigora desde sempre, opondo governados a governantes, independentemente de sua matriz partidária e ideológica?
A história dirá e já diz que não há motivo para otimismo. O impeachment de Collor parecia um ponto de virada, mas não foi. O povo de Alagoas levou o presidente impedido de novo ao Senado, e o governo do PT o levou de novo ao centro da República. O mensalão parecia um ponto de virada, mas o povo brasileiro reelegeu o governo que o perpetrou.
Dessa vez pode ser diferente. A Lava Jato aliada à crise econômica deixou a política nua numa era em que a informação circula como pólvora.
O atraso deliberado, interesseiro e cínico do Congresso em aprovar medidas que podem começar a tirar o país da crise econômica custa a nós incontáveis bilhões —em aumento do custo do crédito ao Brasil, na desvalorização da moeda, no clima de total insegurança que mata investimentos e empregos.
O relatório surrealista da CPI da Petrobras é outro marco desse alheamento infame, assim como a permanência do presidente da Câmara no cargo, a permanência do presidente do Senado no cargo, os conchavos em torno deles e tantas coisas mais expostas diariamente nas redes sociais, nas TVs, nas rádios, nos jornais, nos sites, nos blogs.
As negativas do governo em relação à evidente corrupção em suas entranhas, a distribuição indecente de cargos e ministérios para os suspeitos de sempre, a insistência em negar fatos e reconhecer erros alimentam e projetam a corrupção para frente, mas também revoltam a população de uma forma nunca vista neste país. E não há nação que funcione bem com esse grau de mentira e despudor, que atingiu seu pico com a adesão incondicional do PT às ancestrais práticas políticas brasileiras.
Mas até o Brasil pode mudar. É preciso aproveitar essa crise. A Lava Jato e seus desdobramentos são o grande vetor transformador. Atacam o sistema por cima, por baixo e pelos flancos. E quem a ataca, ataca o futuro do Brasil e principalmente o dos pobres do Brasil, os que mais dependem da ação eficiente do Estado.
Se o STF não abrir brechas, não haverá escapatória diante da imensidão de provas e colaboradores da Justiça. E, para além do seu efeito sanitário, há o efeito didático de esclarecer e explicitar ainda mais a podridão política cujo epicentro é Brasília.
A pauta contra a corrupção é a pauta principal do Brasil. A luta contra ela pode e deve unir todos os brasileiros. Transformar a luta contra a corrupção num embate entre o governo e a oposição é a melhor forma de enfraquecê-la. Não dá para ver e punir apenas a corrupção de um lado.
Ou destruímos essa forma de fazer política ou os políticos destruirão o país. Apesar deles, as instituições brasileiras ainda funcionam e comandam a revolução impelidas pelo crescente basta popular. Ano que vem tem eleição, a instituição mais importante da democracia. Vote contra a corrupção.

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