segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Entretanto, o Irão ganha
Leonídio Paulo Ferreira - DN
Primeiro foi o anúncio da visita de Rohani a Itália e França, a primeira de um presidente iraniano à Europa numa década. Depois, o convite para participarem em Viena nas negociações sobre a Síria. E agora a presença de representantes da Shell, BP, Total e Statoil (além dos chineses da Sinopec) na conferência em Teerão sobre as novas regras para contratos.
Nos quatro meses desde que assinou, também na Áustria, o acordo para desacelerar o programa nuclear, o Irão tem somado ganhos diplomáticos. Isto apesar de os atentados terroristas de 13 de novembro em Paris terem forçado Rohani ao cancelamento da visita à capital francesa e a Roma. E, com o fim das sanções, são muitos os países, e ainda mais as empresas, que querem estar na primeira linha dos negócios com os iranianos.
Claro que a energia se destaca, pois o país tem as segundas maiores reservas petrolíferas do Médio Oriente a seguir à Arábia Saudita e as quartas do mundo - isto admitindo a viabilidade económica da exploração das areias betuminosas da Venezuela e do Canadá. Segundo a BBC, o objetivo das autoridades é atrair 30 mil milhões de dólares de investimento estrangeiro, contando, claro, que as gigantes europeias (as americanas estiveram ausentes) se sintam atraídas pelas novas condições. Segundo o ministro do Petróleo, os futuros contratos serão de longa duração e sobretudo mais lucrativos para os investidores.
Com 80 milhões de habitantes e uma classe média que apesar de 36 anos de regime dos ayatollahs não deixou de ter gosto pelos produtos ocidentais (no tempo do xá, Estados Unidos e Alemanha eram os dois maiores parceiros), o Irão, livre das sanções, torna-se também um eldorado para empresas em busca de mercados. A Reuters noticiava há tempos que a Alemanha ambiciona quadruplicar as vendas, passando de 2,4 mil milhões em 2014 para dez mil milhões. As perspetivas para as empresas americanas não são tão boas, dada a ausência de laços diplomáticos, mas do iPad à lingerie da Victoria"s Secret sabe-se que os produtos do "Grande Satã" fazem ali sucesso.
Mais próximo do que nunca da normalização com os Estados Unidos (mesmo que Obama nunca tenha prometido nada parecido ao que fez com Cuba), a República Islâmica tem por outro lado reforçado a cooperação com a Rússia, tendo Teerão e Moscovo convergido no apoio ao regime sírio. E, com o Ocidente pressionado a combater o Estado Islâmico, o gigante xiita assume-se um óbvio aliado contra o jihadismo.
Não agrada, porém, a todos a nova aura iraniana. Nem Israel nem as monarquias sunitas do Golfo se dão por convencidas do fim da ambição nuclear. E há dias ficou-se a saber pelo Haaretz que Israel vai ter um representante nos Emirados Árabes Unidos, oficialmente acreditado junto da agência da ONU para as energias renováveis, mas que nem por isso deixará de ser histórico, dado o Estado judaico só ter embaixadores em dois países árabes, o Egito e a Jordânia.
O Médio Oriente continua a mexer. E os ayatollahs, sem mudarem no essencial, acumulam ganhos.

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