Leonídio Paulo Ferreira - DN
Primeiro foi o anúncio da visita de Rohani a Itália e França, a primeira de um presidente iraniano à Europa numa década. Depois, o convite para participarem em Viena nas negociações sobre a Síria. E agora a presença de representantes da Shell, BP, Total e Statoil (além dos chineses da Sinopec) na conferência em Teerão sobre as novas regras para contratos.
Nos
quatro meses desde que assinou, também na Áustria, o acordo para
desacelerar o programa nuclear, o Irão tem somado ganhos diplomáticos.
Isto apesar de os atentados terroristas de 13 de novembro em Paris terem
forçado Rohani ao cancelamento da visita à capital francesa e a Roma.
E, com o fim das sanções, são muitos os países, e ainda mais as
empresas, que querem estar na primeira linha dos negócios com os
iranianos.
Claro que a energia se
destaca, pois o país tem as segundas maiores reservas petrolíferas do
Médio Oriente a seguir à Arábia Saudita e as quartas do mundo - isto
admitindo a viabilidade económica da exploração das areias betuminosas
da Venezuela e do Canadá. Segundo a BBC, o objetivo das autoridades é
atrair 30 mil milhões de dólares de investimento estrangeiro, contando,
claro, que as gigantes europeias (as americanas estiveram ausentes) se
sintam atraídas pelas novas condições. Segundo o ministro do Petróleo,
os futuros contratos serão de longa duração e sobretudo mais lucrativos
para os investidores.
Com 80 milhões de habitantes e uma classe média que apesar de 36 anos de regime dos ayatollahs
não deixou de ter gosto pelos produtos ocidentais (no tempo do xá,
Estados Unidos e Alemanha eram os dois maiores parceiros), o Irão, livre
das sanções, torna-se também um eldorado para empresas em busca de
mercados. A Reuters noticiava há tempos que a Alemanha ambiciona
quadruplicar as vendas, passando de 2,4 mil milhões em 2014 para dez mil
milhões. As perspetivas para as empresas americanas não são tão boas,
dada a ausência de laços diplomáticos, mas do iPad à lingerie da Victoria"s Secret sabe-se que os produtos do "Grande Satã" fazem ali sucesso.
Mais
próximo do que nunca da normalização com os Estados Unidos (mesmo que
Obama nunca tenha prometido nada parecido ao que fez com Cuba), a
República Islâmica tem por outro lado reforçado a cooperação com a
Rússia, tendo Teerão e Moscovo convergido no apoio ao regime sírio. E,
com o Ocidente pressionado a combater o Estado Islâmico, o gigante xiita
assume-se um óbvio aliado contra o jihadismo.
Não
agrada, porém, a todos a nova aura iraniana. Nem Israel nem as
monarquias sunitas do Golfo se dão por convencidas do fim da ambição
nuclear. E há dias ficou-se a saber pelo Haaretz que Israel vai
ter um representante nos Emirados Árabes Unidos, oficialmente
acreditado junto da agência da ONU para as energias renováveis, mas que
nem por isso deixará de ser histórico, dado o Estado judaico só ter
embaixadores em dois países árabes, o Egito e a Jordânia.
O Médio Oriente continua a mexer. E os ayatollahs, sem mudarem no essencial, acumulam ganhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário