Manu Joseph - NYT
Chandan Khanna/AFP
A
inclusão social e a democracia na Índia foram citadas como razões pelas
quais os muçulmanos indianos permanecem moderados. Mas a verdade tem a
ver com a natureza humana.
Enquanto o mundo ocidental se pergunta como lidar com o aparente poder do Islã para converter alguns de seus seguidores em terroristas, os muçulmanos devotos da Índia demonstram uma verdade simples sobre a natureza humana. Mas, primeiro, algumas teorias acadêmicas.
Há cerca de 180 milhões de muçulmanos na Índia, mais do que em qualquer outro país, exceto a Indonésia e, provavelmente, o Paquistão. Ao contrário do que acontece nesses dois países, os muçulmanos são uma minoria na Índia, e a maior parte deles é pobre, semi-analfabeta, vive espremida em guetos e é muito religiosa.
Quantas pessoas por milhão numa comunidade teriam de entrar para o Estado Islâmico para que a sociedade fosse considerada "radicalizada"? É claro que não existe nenhuma regra mundial para isso, mas a opinião declarada por muitos políticos indianos e estrangeiros, diplomatas e estudiosos é a de que os muçulmanos indianos não são "radicalizados". É como se isso fosse uma doce surpresa, contrária ao senso comum.
Enquanto o mundo ocidental se pergunta como lidar com o aparente poder do Islã para converter alguns de seus seguidores em terroristas, os muçulmanos devotos da Índia demonstram uma verdade simples sobre a natureza humana. Mas, primeiro, algumas teorias acadêmicas.
Há cerca de 180 milhões de muçulmanos na Índia, mais do que em qualquer outro país, exceto a Indonésia e, provavelmente, o Paquistão. Ao contrário do que acontece nesses dois países, os muçulmanos são uma minoria na Índia, e a maior parte deles é pobre, semi-analfabeta, vive espremida em guetos e é muito religiosa.
Quantas pessoas por milhão numa comunidade teriam de entrar para o Estado Islâmico para que a sociedade fosse considerada "radicalizada"? É claro que não existe nenhuma regra mundial para isso, mas a opinião declarada por muitos políticos indianos e estrangeiros, diplomatas e estudiosos é a de que os muçulmanos indianos não são "radicalizados". É como se isso fosse uma doce surpresa, contrária ao senso comum.
A Índia não vive com
medo de seus muçulmanos. Pouquíssimos muçulmanos indianos fora da parte
da Caxemira administrada pela Índia estiveram envolvidos em atos de
terrorismo. Nos dias de glória da Al Qaeda, a rede de terrorismo
fracassou em atrair os indianos.
Um relatório confidencial recente elaborado pelas agências de inteligência de vários países, que vazou em parte para os jornalistas por intermédio de funcionários da inteligência indiana, sugere que até o Estado Islâmico acha que os muçulmanos indianos são péssimos terroristas, especialmente no quesito do comprometimento total. Citando o relatório, a rede indiana NDTV afirmou que apenas 23 indianos estavam lutando com o Estado Islâmico, e outros seis tinham morrido em combate.
Os muçulmanos indianos são assim "por causa da cultura da Índia", de acordo com David Heyman, ex-secretário adjunto de segurança interna dos Estados Unidos. Ele disse numa entrevista ao "The Hindu" que "a Índia nasceu como uma sociedade multicultural, multiétnica e com múltiplas denominações religiosas, que abraça a diversidade."
Esta é uma visão comum entre as opiniões respeitáveis sobre o assunto. "A Índia tem sido um modelo de inclusão", disse o embaixador dos Estados Unidos na Índia, Richard Verma, a jornalistas, quando questionado sobre por que motivo tão poucos muçulmanos indianos tinham aderido ao Estado Islâmico.
Se algum muçulmano indiano rir disso tudo, é por causa de sua situação. Eles têm memórias dolorosas de revoltas, e aqueles que eles consideram os autores ou conspiradores dessa violência cresceram em estatura política. Um deles, Narendra Modi, tornou-se primeiro-ministro da Índia. Outro, que morreu depois de uma vida plena de sucesso, Bal Thackeray, foi homenageado com uma estátua em Mumbai.
De vez em quando um político ou funcionário do governo pede para que os muçulmanos que estão descontentes com a Índia se mudem para o Paquistão. Os muçulmanos enfrentam discriminação no emprego, e é difícil para eles encontrar casa em bairros não-muçulmanos. Os homens muçulmanos que se apaixonam por mulheres hindus na zona rural correm o risco de serem atacados com violência. (Homens hindus que se apaixonam por mulheres muçulmanas têm menos problemas.)
Qual então pode ser o motivo pelo qual a Índia não está vivendo "o problema da radicalização", como diz Heyman? Ele aponta para o fato de que os muçulmanos indianos têm a sorte de estar numa democracia e "ter voz". Isso é muito verdadeiro, mas a democracia no fim das contas diz respeito a números de eleitores, e como resultado, os muçulmanos desfrutam de uma forte representação política apenas em pouquíssimos enclaves.
Ao longo dos anos, desde a ascensão da Al Qaeda, muitas explicações para a falta de radicalização dos muçulmanos indianos se baseavam no fato de que a Índia é uma democracia, de que os indianos têm uma longa história de coexistência pacífica e de que a prosperidade do país nas duas últimas décadas aprofundou o senso de identidade indiana entre os muçulmanos.
Estas não são explicações espúrias, mas há muita coisa que elas não explicam. Como, por exemplo, os muçulmanos permaneceram moderados diante da violência religiosa, dos insultos sociais, da ascensão política dos linha-dura hindus --consequência do conservadorismo crescente da classe média tradicional hindu-- e da estagnação dos muçulmanos na pobreza enquanto outras comunidades prosperaram?
Esta análise fraca da natureza dos muçulmanos indianos pode sugerir, de forma sombria, a possibilidade de que muita coisa mude a curto prazo. Ou que os motivos oferecidos pelos analistas políticos para a "radicalização" de um grupo podem estar errados. Mas, da forma como as coisas estão, a simples verdade que os muçulmanos indianos podem demonstrar é que a maioria da humanidade, independentemente dos desencantos e provocações, não deseja matar.
Tradutor: Eloise De Vylder
Um relatório confidencial recente elaborado pelas agências de inteligência de vários países, que vazou em parte para os jornalistas por intermédio de funcionários da inteligência indiana, sugere que até o Estado Islâmico acha que os muçulmanos indianos são péssimos terroristas, especialmente no quesito do comprometimento total. Citando o relatório, a rede indiana NDTV afirmou que apenas 23 indianos estavam lutando com o Estado Islâmico, e outros seis tinham morrido em combate.
Os muçulmanos indianos são assim "por causa da cultura da Índia", de acordo com David Heyman, ex-secretário adjunto de segurança interna dos Estados Unidos. Ele disse numa entrevista ao "The Hindu" que "a Índia nasceu como uma sociedade multicultural, multiétnica e com múltiplas denominações religiosas, que abraça a diversidade."
Esta é uma visão comum entre as opiniões respeitáveis sobre o assunto. "A Índia tem sido um modelo de inclusão", disse o embaixador dos Estados Unidos na Índia, Richard Verma, a jornalistas, quando questionado sobre por que motivo tão poucos muçulmanos indianos tinham aderido ao Estado Islâmico.
Se algum muçulmano indiano rir disso tudo, é por causa de sua situação. Eles têm memórias dolorosas de revoltas, e aqueles que eles consideram os autores ou conspiradores dessa violência cresceram em estatura política. Um deles, Narendra Modi, tornou-se primeiro-ministro da Índia. Outro, que morreu depois de uma vida plena de sucesso, Bal Thackeray, foi homenageado com uma estátua em Mumbai.
De vez em quando um político ou funcionário do governo pede para que os muçulmanos que estão descontentes com a Índia se mudem para o Paquistão. Os muçulmanos enfrentam discriminação no emprego, e é difícil para eles encontrar casa em bairros não-muçulmanos. Os homens muçulmanos que se apaixonam por mulheres hindus na zona rural correm o risco de serem atacados com violência. (Homens hindus que se apaixonam por mulheres muçulmanas têm menos problemas.)
Qual então pode ser o motivo pelo qual a Índia não está vivendo "o problema da radicalização", como diz Heyman? Ele aponta para o fato de que os muçulmanos indianos têm a sorte de estar numa democracia e "ter voz". Isso é muito verdadeiro, mas a democracia no fim das contas diz respeito a números de eleitores, e como resultado, os muçulmanos desfrutam de uma forte representação política apenas em pouquíssimos enclaves.
Ao longo dos anos, desde a ascensão da Al Qaeda, muitas explicações para a falta de radicalização dos muçulmanos indianos se baseavam no fato de que a Índia é uma democracia, de que os indianos têm uma longa história de coexistência pacífica e de que a prosperidade do país nas duas últimas décadas aprofundou o senso de identidade indiana entre os muçulmanos.
Estas não são explicações espúrias, mas há muita coisa que elas não explicam. Como, por exemplo, os muçulmanos permaneceram moderados diante da violência religiosa, dos insultos sociais, da ascensão política dos linha-dura hindus --consequência do conservadorismo crescente da classe média tradicional hindu-- e da estagnação dos muçulmanos na pobreza enquanto outras comunidades prosperaram?
Esta análise fraca da natureza dos muçulmanos indianos pode sugerir, de forma sombria, a possibilidade de que muita coisa mude a curto prazo. Ou que os motivos oferecidos pelos analistas políticos para a "radicalização" de um grupo podem estar errados. Mas, da forma como as coisas estão, a simples verdade que os muçulmanos indianos podem demonstrar é que a maioria da humanidade, independentemente dos desencantos e provocações, não deseja matar.
Tradutor: Eloise De Vylder
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