O cerco ao financiamento do terrorismo do Estado Islâmico
Luiz Felipe de Alencastro
Estado Islâmico/AP
Foto
divulgada por site usado por militantes do EI em outubro mostra fumaça
após a detonação do templo de Baalshamin, com 2.000 anos
Em agosto do ano passado o então Secretário de Defesa americano, Chuck Hagel, deu uma entrevista
em que apontava o Estado Islâmico (EI) como "a maior ameaça" aos
Estados Unidos. Mais precisamente, Hagel sublinhava: "Eles combinam a
ideologia, uma estratégia e proezas táticas militares, e eles são muito
bem financiados". Sob o impacto dos atentados do dia 13 de novembro em
Paris, o último ponto evocado por Hagel voltou à baila: como o EI é
financiado?
O texto mais citado sobre o assunto é a transcrição da conferência
feita em Washington, no último mês de outubro, por David Cohen,
subsecretário do Departamento do Tesouro e responsável pela luta
antiterrorista e investigações financeiras. Cohen explicou que o governo
americano havia reunido em outubro, em Washington, representantes de 20
países e organizações em outubro para "isolar financeiramente e erodir o
EI, a Frente al-Nasru [associada à al-Qaeda na Síria] e o regime
ilegítimo de Assad". Seu relatório diz ainda que a maior parte dos
fundos do EI provem da pilhagem e das extorsões exercidas sobre as
populações e territórios sob seu controle na Síria e no Iraque. Uma
parte bem menor desses fundos é fornecida por doadores dos países
sunitas da região. Venda de petróleo e de antiguidades roubadas nos
museus e sítios arqueológicos, roubo de bancos e bens de particulares
compõem os fundos oriundos da pilhagem. Na tomada de Mossul e de
localidades do norte e do oeste do Iraque em 2014, o EI apoderou-se de
meio bilhão de dólares em dinheiro líquido, segundo outro relatório
do Departamento do Tesouro. Extorsões e taxas impostas aos cerca de 10
milhões pessoas sob o controle do EI no Iraque e na Síria completam as
fontes de renda dos terroristas. Reportagens recentes do Washington Post e do Le Monde
(reservada aos assinantes) atualizam os dados do Departamento do
Tesouro. Notando que os serviços americanos haviam informado que o EI
teria um orçamento de 2 bilhões de dólares em 2015, o Le Monde, baseado
num documento sobre as receitas mensais do EI no oeste da Síria, calcula
a distribuição desse financiamento. Assim, 45% dos fundos saem dos
confiscos de bens, 28% da venda de petróleo e 24% das "taxas"
extorquidas das populações subjugadas.
No total, os
especialistas consideram que as rendas do EI se reduzem por causa da
queda do preço do petróleo e de dificuldades na produção dos poços.
Porém, o cerco financeiro ao EI está longe de ser fechado. No seu
comunicado citado acima, David Cohen diz que entre os alvos do governo
americano e seus aliados está também "o regime ilegítimo de Assad". Ora,
como se sabe, ao lado do Irã, a Rússia, é uma das mais constantes
defensoras do regime de Damasco. Vale lembrar que a Rússia possui a base
naval de Tartus, no litoral sírio , que lhe oferece uma presença
militar no Mediterrâneo, velho sonho russo desde os tempos do regime
czarista.
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