Vinícius Torres Freire - FSP
Tempos ingênuos aqueles da "lista de Janot. Em março, se imaginava que o destino da crise política dependeria das cabeças políticas que rolariam no escândalo; de nomes e forças que restariam no tabuleiro, como se jogo e jogadores fossem apenas aqueles.
Porém, cada crime ou bando solta brotos novos sem parar. Pode ser que, ainda que Dilma evaporasse e houvesse alternativa política (ora não há), um novo governo fosse assolado pela política que apodrece em ritmo de epidemia de peste.
Como os escândalos se ramificam sem limite, as consequências econômicas da imundície serão maiores (mais sobre isso adiante).
A prisão de José Carlos Bumlai abre um túnel do tempo para muitas perdições no espaço. Mais que amigo de Lula, ele liga bancos à Petrobras, o petrolão de hoje ao mensalão de ontem, tudo amarrado com o fio do PT, que, hoje ou ontem, é Lula.
Caso valha quanto pesa e fale, Bumlai pode até tirar das masmorras Marcos Valério, gerente do mensalão. Quem sabe agora o ex-publicitário tente delação premiada, se não está ameaçado de morte. Faz mais de dez anos, Bumlai e Valério arrecadavam dinheiros para o PT.
Além de revelar possíveis negociatas, o caso do banqueiro André Esteves serve para solapar frentes empresariais de ação política (ou similares). Empresários vão em pencas para a cadeia, empresas graúdas se sujaram na compra de medidas provisórias ou na corrupção do "tribunal de impostos" da Receita Federal, por exemplo.
Ninguém pode, pois, se arriscar a ser amigo de ninguém. O empresário com quem hoje se discute o "interesse nacional" pode ser delator amanhã –talvez o seu delator. O seu sócio no oligopólio "x" montado pelo governo com ajuda do BNDES pode ser o próximo pária da manhã dos camburões da PF.
A delação premiada da Andrade Gutierrez deve começar por explodir pedaços do PMDB, o do Rio inclusive, que ora tem peso na Câmara. Os executivos da segunda maior empreiteira vão soltar a lama de Belo Monte, Angra 3, Copa, petroquímica da Petrobras e Norte-Sul. Pode sobrar para o PSDB.
Delcídio do Amaral é ainda incógnita, mas pode juntar Lula e parte do PMDB no mesmo samburá. Sobre a delação do condenado Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, um procurador diz que será "calamitosa".
Enfim, nesta semana Eduardo Cunha ameaça oferecer a cabeça de Dilma em troca da sua.
O governo está com os gastos travados por não ter, na prática, reaprovado o Orçamento mutante de 2015. Não tem Orçamento para 2016. O Congresso atolado na lama no máximo vota o mínimo para manter o país respirando. A isso se reduz o governo, que vai chegar ao final do ano sem nem aparecer com suas prometidas "reformas estruturais", as quais Dilma quer reduzir a fiasco e irrelevância.
Em vez disso, o governo vai soltar um novo pacote fiscal, com o que pretende dizer ao "mercado" que não haverá deficit também em 2016. Mas as medidas que cozinha (Cide etc.) já estão na conta do "mercado". Mesmo com esses remendos, a previsão é de deficit e dívida crescendo sem limite até 2018.
Não há governo, alternativa de oposição, movimento social; elites empresariais e políticas ainda vão se dissolver na lama; há recessão encomendada até 2017. Por ora, não há saída.
A prisão de José Carlos Bumlai abre um túnel do tempo para muitas perdições no espaço. Mais que amigo de Lula, ele liga bancos à Petrobras, o petrolão de hoje ao mensalão de ontem, tudo amarrado com o fio do PT, que, hoje ou ontem, é Lula.
Caso valha quanto pesa e fale, Bumlai pode até tirar das masmorras Marcos Valério, gerente do mensalão. Quem sabe agora o ex-publicitário tente delação premiada, se não está ameaçado de morte. Faz mais de dez anos, Bumlai e Valério arrecadavam dinheiros para o PT.
Além de revelar possíveis negociatas, o caso do banqueiro André Esteves serve para solapar frentes empresariais de ação política (ou similares). Empresários vão em pencas para a cadeia, empresas graúdas se sujaram na compra de medidas provisórias ou na corrupção do "tribunal de impostos" da Receita Federal, por exemplo.
Ninguém pode, pois, se arriscar a ser amigo de ninguém. O empresário com quem hoje se discute o "interesse nacional" pode ser delator amanhã –talvez o seu delator. O seu sócio no oligopólio "x" montado pelo governo com ajuda do BNDES pode ser o próximo pária da manhã dos camburões da PF.
A delação premiada da Andrade Gutierrez deve começar por explodir pedaços do PMDB, o do Rio inclusive, que ora tem peso na Câmara. Os executivos da segunda maior empreiteira vão soltar a lama de Belo Monte, Angra 3, Copa, petroquímica da Petrobras e Norte-Sul. Pode sobrar para o PSDB.
Delcídio do Amaral é ainda incógnita, mas pode juntar Lula e parte do PMDB no mesmo samburá. Sobre a delação do condenado Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, um procurador diz que será "calamitosa".
Enfim, nesta semana Eduardo Cunha ameaça oferecer a cabeça de Dilma em troca da sua.
O governo está com os gastos travados por não ter, na prática, reaprovado o Orçamento mutante de 2015. Não tem Orçamento para 2016. O Congresso atolado na lama no máximo vota o mínimo para manter o país respirando. A isso se reduz o governo, que vai chegar ao final do ano sem nem aparecer com suas prometidas "reformas estruturais", as quais Dilma quer reduzir a fiasco e irrelevância.
Em vez disso, o governo vai soltar um novo pacote fiscal, com o que pretende dizer ao "mercado" que não haverá deficit também em 2016. Mas as medidas que cozinha (Cide etc.) já estão na conta do "mercado". Mesmo com esses remendos, a previsão é de deficit e dívida crescendo sem limite até 2018.
Não há governo, alternativa de oposição, movimento social; elites empresariais e políticas ainda vão se dissolver na lama; há recessão encomendada até 2017. Por ora, não há saída.
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