Brasil adotou o modelo que faliu Argentina
Dilma e Lula seguiram o kirchnerismo na
economia e tiveram o mesmo fracasso; agora, em situações políticas
diferentes, os dois países buscam reformas
O Globo
Economistas e cientistas políticos têm na América Latina um
rico laboratório de experiências em escala real — infelizmente, as
vítimas do experimentalismo excessivo no continente, em termos de
política econômica e modelo político, também são reais.
No momento, testemunha-se, na Argentina, com a derrota do
kirchnerismo nas eleições presidenciais de domingo, o início de mais uma
reviravolta de modelo na economia, desta vez para consertar estragos
sérios. Pois, além do estilo belicista de fazer política seguido por
Cristina Kirchner e seu grupo, uma facção do peronismo, foi derrotada
uma administração ruinosa da economia. E neste aspecto, a Argentina dos
Kirchner (Néstor e Cristina) não está isolada.
O receituário econômico, em alguns pontos básicos, seguido
por Néstor Kirchner, ao assumir a Casa Rosada em 2002, e mais ainda por
sua mulher e sucessora, Cristina, reuniu alguns ingredientes do modelo
populista e intervencionista cultuado por parte da esquerda
latino-americana.
Controle de preços, intervenções no câmbio, incentivos generalizados
em nome da “justiça social”, juros mantidos artificialmente baixos por
um Banco Central sob controle do Executivo, e assim por diante.
Não é coincidência que esta política se assemelhe ao “novo marco
macroeconômico” que Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil, com
Guido Mantega na Fazenda, induziu Lula a começar a seguir no segundo
mandato dele, e que ela, presidente, aprofundou. E o resultado está aí.
A estirpe do pensamento econômico kirchnerista tem o mesmo DNA do
“desenvolvimentismo" de Dilma e PT. E vice-versa. O saldo da aplicação
dos modelos aparentados foi desastroso, como era previsto. No Brasil, a
tentativa de controlar a inflação com o congelamento de tarifas — como
na Argentina — foi um fracasso e ainda criou a necessidade de uma rápida
atualização desses preços, na forma de um tarifaço. Problema que o novo
presidente, Mauricio Macri, terá de enfrentar.
Como a Argentina comete erros de política econômica há mais tempo,
suas mazelas são maiores que as brasileiras: a inflação se aproxima dos
30% — medida por índices privados, porque os oficiais são manipulados —,
as reservas cambiais estão no chão, também porque o país resolveu ser
beligerante com credores e, por isso, se tornou um pária no sistema
financeiro internacional.
Houve taxas altas de crescimento na era dos Kirchner, como em 2010 no
Brasil. É natural um boom econômico neste tipo de política econômica
populista, ainda mais num ciclo de crescimento mundial. Depois, vem a
ressaca. A Argentina já estava nela quando o Brasil de Dilma 2 também
deu entrada na enfermaria.
Os vizinhos têm a vantagem de contar com um governo novo, eleito para
fazer as reformas. No Brasil, é a responsável pela crise que precisa
conduzi-las. Mas aqui há instituições republicanas mais fortes. No ano
que vem vai-se ver quem obterá melhores resultados.
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